rdb_artigo_aminharuacuritiba

A minha rua… Curitiba.

O Brasil fora do lugar comum. Curitiba relatada na mistura das origens alemãs, indígenas e portuguesas numa rua onde as quatro estações passam num dia.

Que o Brasil é um país continente, eu sei e você também. Basta olharmos no mapa aquele país imenso ocupando quase metade da América do Sul. Falar de alguma cidade daqui é, portanto, fazer um pequenino recorte cultural neste gigante latino. Dentro deste recorte feito, escolher aspectos que descrevam a cidade em questão é estreitar ainda mais o ponto de vista.

Óptimo! Afinal, a visão geral de qualquer cidade está a um clique no Google de distância, não é mesmo? Leva um minuto para você saber que Curitiba foi colonizada mais por germânicos, possui uns 2 milhões de habitantes e 47% destes vieram de outras regiões do país. Também que tem belos parques e é uma das cidades mais arborizadas do planeta. Que há aqui um sistema de transporte urbano reconhecido internacionalmente, etc. Se você for em “imagens”, encontrará tudo muito verde, pessoas alegres, ruas limpas e céu azul.

Portanto, não falaremos disso que está a um clique de distância, tudo bem? Deixe o Google de lado e venha conhecer, agora, a minha (só minha) rua.

Eu moro em um prédio do centro da cidade. Desde a saída do elevador, você já pode ver o chafariz da Praça Santos Andrade [foto]. De um lado da praça, à sua direita, está a Universidade Federal mais antiga do país, que tem apenas um século de vida e é onde eu estudo. Do outro lado, vê o tradicional Teatro Guaíra, onde eu costumava assistir às belas apresentações da Orquestra Sinfónica, aos domingos pela manhã.

Falando em manhã, vista um casaco e um cachecol, pois o clima logo cedo é cinza, aparece depois um solzinho fraco até hora do almoço, que é quando começa o calor de verdade, pois 24º graus aqui já é Verão. O meio da tarde é um pouco abafado; no final do dia consequentemente chove e assim que começa a noite vem aquele ventinho gelado prenunciando a madrugada fria. Já conheceu alguma cidade em que existem as quatro estações num mesmo dia?

Eu não sou de cumprimentar as pessoas, mas isso não é antipatia. Trago a sisudez alemã na minha cara indígena, oras, culpa da colonização. Eu podia estampar o lado italiano da minha família por parte de mãe, mas não. Apenas aceno com a cabeça e basta para que o porteiro, que é paulista, compreenda o meu desejo de bom-dia a ele.

Ali na praça há alguns pontos de ônibus. O transporte público é muito bom, você já sabe, então encare sem receio. Mas o que o Google não diz é que, dentro do ônibus, você terá de se familiarizar com as caras sisudas como a minha, cada pessoa imersa em sua própria bolha, tentando se mexer o mínimo para não perder calor nessa manhãzinha gelada. Bem que dizem que os curitibanos são frios. Achou que estava no Rio de Janeiro ou lá na Bahia?

Tem um café bem em frente ao meu prédio, do outro lado da praça. Mas na minha rua há uns três dos vários que a cidade abriga e que servem de ponto de encontro, geralmente. Todos os estabelecimentos lhe receberão bem (não somos frios, somos reservados), apesar de estarem localizados em regiões distintas e representarem camadas sociais diferentes. A cidade é bem desenvolvida, mas as grandes diferenças sociais brasileiras são uma identidade nacional, logo você se acostuma. Agora, prove do nosso café bem quente e sem açúcar, por favor. Na hora de pagar, o atendente do caixa é chinês e mal fala o português. Mesmo assim, até logo, você diz.

Esta tarde não, mas é comum iniciarem, aqui na praça, manifestações políticas. Montam tudo ali na frente da escadaria da Universidade. Depois, ou eles fazem passeata até a Prefeitura ou se dirigem até a Boca Maldita, que é um lugar da rua XV (o calçadão da cidade) que ficou conhecido justamente por abrigar tais manifestações, na época da ditadura (anos 70). Lá, onde já é a Praça Osório (temos várias delas, aproveite), não é mais a minha rua, mas a manifestação começou bem em frente ao meu prédio, percebeu?

Tem vezes, mais raras, que as passeatas começam ali na Reitoria, que é um dos câmpus da Universidade Federal, duas quadras acima. Mas, geralmente os universitários acabam saindo do pátio da Reitoria até um dos bares que ladeiam o câmpus. Pronto, começa outra manifestação, agora social. Se for mais à noitinha, alguns estendem para o Bar do Português e seu incomparável bolinho de bacalhau, ou então ao restaurante Mafalda, que abriga a galerinha mais alternativa.

Se estiver a fim de pegar uma balada, bem perto daqui fica o Largo da Ordem, região boêmia da cidade, na qual você pode desde beber a céu aberto até terminar em alguma das casas noturnas dali. Tem para todos os gostos, de música brega, em boteco fuleiro, a show de rock ruim, em barzinho tradicional. As baladas mais pesadas ficam longe da minha rua. Só cuidado ao sair à noite, pois há vampiros em Curitiba (pesquise no Google).

Ao final, nem vimos as horas passarem e já se foi um dia inteiro. Para completar a semana, ainda restam seis. E eu digo que são suficientes para que você conheça bem a cidade toda, não só a minha rua. Curitiba não é grande e tudo fica a um ônibus de distância. Mais do que uma semana resultará em duas opções:

Ou você se entediará devido a certo marasmo, passados os dias de curiosidade, ou então amará tanto a vida tranquila daqui, que planeará firmar residência (como a maioria dos visitantes).

Faça sua escolha e seja bem-vindo.



There are no comments

Add yours

Pin It on Pinterest

Share This