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“Django Libertado”

O argumento acrobático de Tarantino nunca pareceu tão sedoso, ou tão sangrento

Profundamente desconcertante e assustadoramente catártico, “Django Unchained” é o primeiro filme de Quentin Tarantino a prestar uma homenagem aos western spaghetti de Sergio Leone e a combiná-lo com elementos de filmes de blaxploitation. Tudo aqui é mistura e o resultado é uma fantasia racial marcada por uma vingança sangrenta. O seu valor enquanto forma de entretenimento decorre da satisfação primitiva de ver um escravo que alcançou a liberdade a assassinar traficantes das mais estranhas formas possíveis.

Igualmente amado e odiado pelo seu estilo visual indulgente, Quentin Tarantino é a adequada definição de autor. Realizador de clássicos como “Pulp Fiction” e “Reservoir Dogs”, a sua marca assenta numa identidade visual única e em longas parcelas de diálogo. Neste objecto cinematográfico, o cineasta deixa claras as suas influências estéticas, enquanto as recapitula e recombina até encontrar uma forma de elevar as atracções de um dos seus géneros cinematográficos favoritos.

O argumento acrobático de Tarantino nunca pareceu tão sedoso, ou tão sangrento, para dizer a verdade. Não somos brindados apenas com sangue, mas com pedaços de corpos a saltarem de todos os lados, enquanto fascinantes diálogos são proferidos entre twists que ocorrem na acção. O nome de cada personagem é uma homenagem aos inúmeros filmes que servem de inspiração ao realizador. O resultado desta amálgama torna o filme repleto de camadas, que ao longo da sua longa duração vão sendo reveladas.

O cineasta tem sido criticado pelos seus retratos estereotipados; sejam raciais, étnicos ou religiosos. Neste filme muitos são aqueles que estão sob o alvo deste retrato que tenta demonstrar o absurdo que rodeia os actos de opressão. Mais do que fazer um directo pedido de desculpas pela escravatura que ocorreu nos E.U.A., o filme recorre à violência estilizada e a uma crua linguagem com um pouco de humor, afim de obter o mesmo resultado. Esta moderna abordagem à violência humana é uma mistura notória entre o clássico, e algo esquecido, cinema grindhouse, um simbolismo superficial e músicas de rap e R&B.

O Django de Jamie Foxx é libertado bem mais do num sentido literal. É um condensado emocional que pode explodir a qualquer instante, por entre momentos de loucura ou alegria descarada. Leonardo DiCaprio ter-se-á, certamente, divertido com o seu cobarde Monsieur Candie, mas isso não o livrou de volta e meia ser apanhado em falso e sem sotaque. Mais uma vez, Christoph Waltz constrói a personagem mais interessante. Não tanto pela sua interpretação, mas por ser um homem que se encontra perante uma dicotomia de matar por prazer e sem pestanejar e não ser capaz de encarar os horrores que o rodeiam.

O filme pode vangloriar-se da sua imagética, de uma empolgante história ou das suas magníficas interpretações. Ainda assim, nada disto teria o mesmo o efeito sobre o espectador se não fosse pelo trabalho de edição e pela banda sonora. Quase todos os momentos que levam o público a soltar uma gargalhada e os momentos de suspense advêm disso mesmo.

Na recta final, mal a última música começa a tocar e os créditos ameaçam surgir no grande ecrã, será inegável afirmar que Quentin Tarantino conseguiu, uma vez mais, superar-se. “Django Unchained” será visto como um objecto cinematográfico excepcional, que traz memórias há muito perdidas e esquecidas de antigos clássicos como “The Good, the Bad and the Ugly” e muitos outros grandes western spaghetti.



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