DREAMS IN MOTION. A DANÇA E A FOTOGRAFIA SINCRONIZADAS
O projeto Dreams in Motion nasce entre jovens com a ambição de tocar as pessoas e promover duas artes “desvalorizadas” em Portugal. O desejo da equipa é produzir um vídeo e expor os trabalhos publicamente
Revelar o processo da criatividade artística em duas artes distintas. É este o propósito do Dreams in Motion, um projeto que junta a dança contemporânea e a fotografia numa única manifestação artística.
A ideia surgiu de um vídeo que Lukanu Mpasi tem em fase de preparação. O bailarino contemporâneo, de 24 anos, queria fazer um vídeo onde expressasse “o desânimo de ter de acordar de manhã e não estar preparado”, por se encontrar “amarrado a uma sociedade focada no trabalho”, preferindo explorar o lado mais artístico e sonhador da vida. A ele se juntou André Nobre, 20 anos, dedicado em pleno à fotografia e estudante de Engenharia Informática no Instituto Superior Técnico. No início ia apenas fotografar os ensaios, mas assim que avaliou a ideia e teve noção do potencial, decidiram, em conjunto, arriscar algo mais.
“O nosso propósito é fotografar o processo criativo inerente à dança. O que é que os bailarinos sentem, como é que pensam na coreografia. Apesar de o público só ver a parte final, todas as fases têm uma mensagem”, explica André. A conceção dos bastidores criativos é conseguida nos ensaios e nas sessões fotográficas, onde o fotógrafo torna a sua presença invisível. “No ensaio que fizemos numa casa abandonada em Sintra, enquanto o Luka dançou não trocámos uma única palavra. As imagens apareceram tal como o sonho aparece na nossa cabeça.”
O bailarino explica que o conceito surgiu no seu vídeo refletindo a vontade de “viver o sonho” e de se encontrar a si próprio. Contra o conformismo em que a sociedade está mergulhada, defende que todos devem seguir os seus sonhos em movimento, de maneira a que sejam “a preto e branco”, traçando objetivos sem medo. André, que enquanto fotógrafo defende que as imagens devem ter contraste, reconhece que os “floreados” existem, mas está convicto de que se a pessoa se conformar com aquilo que tem, nunca será realmente feliz.
Luka, como é conhecido, começou o seu percurso primeiro no hip hop e depois nas danças tribais africanas, explorando as vertentes da dança contemporânea e moderna. Passou pela carreira de modelo e atualmente estuda Marketing na Universidade Lusófona. André também estuda, e está consciente de que a sua paixão pela fotografia não se financia sozinha: “O curso de engenharia acaba por ser uma cama de rede se a fotografia não der. Se puder viver da fotografia, é isso que quero fazer”, diz, contando já com inúmeros trabalhos conseguidos como freelancer cm colaboração com diversas instituições.
CRÍTICA SOCIAL
Além de tocar as pessoas emocionalmente, as fotografias do Dreams in Motion também pretendem transmitir críticas à sociedade, esclarece o bailarino. “Muitas pessoas não têm coragem de admitir, cara a cara, aquilo que sentem. Por trás de um computador, de uma máscara, é muito mais fácil”. Luka e André são unânimes ao criticar uma sociedade criadora de “rótulos” e ideias preconceituosas. O jovem estudante vai mais longe: “Por cá, o primeiro rótulo que se põe num bailarino é ser homossexual, e um fotógrafo que fotografe moda é maricas. Temos de alargar horizontes e deixar de ser conservadores como eram os nossos pais e avós”.
Para Luka, que acredita que através da dança expressa a libertação face ao que todos sentem – “regras, convenções, exigências e o foco no trabalho” – a sociedade equipara-se a uma prisão. O artista admite que conheceu essa rigidez durante a infância, e por isso não quer que ela faça parte do seu caminho. “São precisas e necessárias, mas não devem ser definidoras daquilo que sou enquanto pessoa e artista”, termina.
VALORIZAR AS ARTES
O maior desejo da equipa é dar visibilidade à dança e à fotografia enquanto artes merecedoras da atenção do grande público. Nesse sentido, a página do Dreams in Motion, no Facebook, é uma ferramenta de divulgação. “O que nos interessa é ter pessoas que veem o nosso trabalho porque o querem ver. Não queremos ninguém que vá lá dar o seu like e nunca mais volte”, explica André, que conta com o apoio de João Meneses, amigo e fotógrafo freelancer, neste trabalho.
Neste momento, o objetivo é fazer o projeto crescer, com o envolvimento de mais bailarinos e mais amantes dedicados à fotografia. O passo seguinte é produzir o vídeo de dança “Dreaming in Motion” e montar uma exposição, ainda que não tenham qualquer tipo de apoios institucionais. “O nosso projeto passa muito pelo ponto de vista emocional e não só técnico. Procuramos que as pessoas se liguem umas às outras e que não seja só mais uma página sobre dança ou fotografia”, termina André. No horizonte, está o desejo de tornar o Dreams in Motion um projeto sólido de âmbito internacional.
Fotografia de André Nobre.
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