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Hercules and Love Affair

Lux, 5 de Dezembro.

Hercules and Love Affair voltaram a Portugal para duas datas, na Casa da Música (Porto) e Lux (Lisboa). Na capital, num fim-de-semana marcado pelo festival Super Bock em Stock, esgotaram a discoteca de Santa Apolónia com vários dias de antecendência.

O warm-up para actuação foi realizado ao estilo de um DJ set que se revelou o precedente natural para o que se sucedeu durante o concerto. À medida que a discoteca enchia e as pessoas se juntavam no centro da pista o Jason Kending (residente das noites Honey Soundsystem, uma espécie de Horse Meat Disco de S. Francisco) criou uma atmosfera de clube com temas de House clássico misturado com outros mais recentes, mas que não fogem a essa influência – destaque para a escolha de Mucho Swash de T&K; T de Tiago Miranda, um dos residentes do Lux que editou o tema em conjunto com alemão Kaos pela americana Italians do it Better.

Apesar da excelência do set e do movimento criado por este, era notório que não era isso que o público procurava pois já próximo das 23.30 faziam-se ouvir alguns assobios impacientes.

Pouco depois a banda finalmente subia a palco num reflexo contrastante entre o dourado e o preto. Sem Antony e Nomi (agora com o projecto a solo Jessica6), Hercules and Love Affair apresentam dois novos vocalistas: Shaun Wright, figura imponente de voz correspondente, com dreadlocks a fazer lembrar Rick James e Daniella, frenética mulata que atirou um perfeito “boa noite” para depois informar ser “meio-portuguesa” (arrancando uma enorme ovação, claro) e que demonstrou a versatilidade dos seus dotes vocais, passado de agudos a graves com grande facilidade e uma fantástica interacção com o público. Ao centro, franzina, quase irreconhecível com um cap de cabedal e mascarilha “à Zorro” ficou Kim Ann Foxman – metade do cerne idiossincrático da banda.

Mark Pistel organizou o soundcheck em palco e manteve-se no mesmo ao lado do mentor do projecto Andy Butler, que reconheceu a sua importância na organização da maquinaria – Mark é membro dos Consolidated, um colectivo de música de dança entre o Industrial e o Hip-Hop, dos inícios dos anos 90 (oficialmente nunca acabaram) que, com uma postura politica de esquerda activa, era reconhecido pelas elaboradas e subversivas actuações ao vivo. Pistel colabora ainda com os Meat Beat Manifesto (agitadores electrónicos desde os anos 80) e, fazendo o full circle, era este o nome inscrito em letras garrafais na camisola de Andy.

Seguindo as intersecções, o alinhamento do concerto oscilou entre alguns temas do álbum de estreia e muitas faixas novas… digamos que não foi propriamente um concerto, mas sim um live act elaborado pelo domínio dos laptops e algum hardware. Raramente houve espaço para respirar entre músicas – exceptuando uma grande pausa à meia-hora com tempo de tirar fotos “para o facebook” da  banda, nas palavras de Daniella que ainda escolheu um elemento do público para desempenhar essa tarefa seguindo-se uma troca piadas entre os membros da banda devido ao facto de Andy ter afirmado que os “mais bonitos cá de trás” nunca aparecerem.

Classique #2, True False, Athene, Rise me Up, Blind e You Belong foram algumas das referências escolhidas, mas tudo com uma ambiência sonora renovada; as secções de metais e o baixo Disco foram abafados pelo jogo entre treble e bass de um House old school a puxar pelo físico, em sintonia com as animadas coreografia dos três vocalistas.

Aliás, os temas novos apresentam-se muito mais deep e despidos ao básico… alusões ao cosmos, uma longa dedicação em “forever” (título não confirmado, que Daniella aproveitou para substituir por “p’ra sempre”),  I can’t Wait num tom aviso de Kim Ann (faixa que terá remistura de In Flagranti) e que curiosamente seguiu pouco depois da cover de Don’t make me wait, dos NYC Peech Boys.

Quem os ouvia talvez esperasse a melodia e harmonia das orquestrações, no entanto este formato aponta mais ao clube e à extensão do elemento dançável. Apesar disso, a  versão de Blind, longe do original, ainda arrancou a esperada réplica do público e durante toda a actuação houve um dancefloor com a devida dinâmica.

Depois de uma hora, Andy pediu a Daniella que explicasse “gentilmente” que o show ia terminar. Despediram-se no encore com You Belong e com a voz de Shaun a repetir “the party is over”. Over mas não out, Hercules and Love Affair especificam uma nova tendência e mantêm-se como um colectivo mutável mas nunca incoerente.



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