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Noite em Viena

Cidade de Mozart, Freud, Mucha, Beethoven, Schubert, numa perspectiva nocturna contemporânea do FLUC + FLUC_Wanne, FLEX e Skykitchen...

A capital do reino a Este, leia-se, Österreich, actualmente República Federal da Áustria, é conhecida principalmente por personagens que num passado recente carimbaram a sua presença nos anais da História, como W. Mozart, S. Freud, A. Mucha, L. Beethoven, F. Schubert, O. Wagner, entre outros, sendo o turista comum frequentemente interpelado por guias turísticos vestidos a preceito, peruca colonial inclusive, que tentam vender visitas guiadas aos inúmeros museus e casa-museus da cidade.

Culturalmente muito diversa, por herança histórica e localização geográfica, é uma cidade que ainda respira o neoclassicismo, especialmente a nível arquitectónico. Sendo a capital europeia mais próxima dos países da antiga cortina de ferro, Viena é e foi um local de passagem e cruzamento de culturas e correntes filosóficas/políticas diversas, coexistindo no entanto em relativa harmonia. Mas pela sua distância geográfica do resto da Europa Ocidental, pela herança clássica e, em grande medida, hermética, a cidade é um misto de tradição e modernismo, onde o Wiener schnitzel e a Sacher torte continuam a reinar, com muita cozinha Bávara e Turca à mistura.

O ambiente da cidade é, à imagem do misto descrito atrás, simpático e stressante, arrogante e amistoso, e pode-se vivenciar tudo isto num só dia, bastando para isso apanhar o 43 do 9º distrito até ao 1º (Baixa), percorrer as ruas apinhadas de turistas, e sair do outro lado junto ao 4º Distrito já a caminho de Eisenstadt.

Esta é a cidade que figura em primeiro lugar naqueles índices um tanto idiotas (e em grande medida realistas) sobre a qualidade de vida, e quando não aparece em primeiro lugar, fá-lo ex æquo com Vancouver ou Zurique. Criminalidade: 0. O conforto de passear pela cidade não decresce com as horas e pouco varia consoante a zona da cidade em que se está. Aliás, importunam mais as autoridades que os poucos junkies bêbados na Karlsplatz.

Galerias de Arte, Museus, Cafés Vienenses, pastelaria fina, Igrejas, esplanadas de Verão e neve no Inverno. Esta é uma cidade de contrastes, onde a noite geralmente começa nos bares da Gürtel (cintura). Sai-se do Chelsea pejado de gente que ali está para mais uma noite de punk-rock e ir ao B72 ver God is an Astronaut ou ao WUK ver as amorosas Au Revoir Simone. Pelo meio há ainda espaço para beber umas cervejas, como dita o hábito em terras germânicas, num dos muitos bares da Gürtel ou participar numa tertúlia aberta em originais galerias de arte.

Para os que preferem começar ao ar livre (desde que o tempo o permita), o ponto de encontro é geralmente a praça do Museumsquartier onde inúmeros Enzis (bancos modulares usados como esplanada) estão à disposição de qualquer um para uma versão centro-europeia do Botellón espanhol.

A escolha alarga-se após a meia-noite (é de notar que há um desfasamento de aproximadamente 2h entre Lisboa e Viena no que toca às horas em que se sai), e os nomes mais influentes são o recente FLUC + FLUC_Wanne, por onde passaram neste ano último nomes como The Bloody Beetroots (DIM MAK / DOWNTOWN), Fake Blood, Les Petits Pilous (BoysNoize Records), Mustard Pimp; o FLEX, com concertos como o de Built to Spill ou School of Seven Bells; e o Arena, palco de festivais variados, desde música electrónica (generalizando) a punk, rock e géneros mais transcendentais, isto numa arena com um ambiente punk-okupa coberto de graffitis e stencils frequentemente com mensagens politico-sociais.

Há conceitos originais a explorar, como o SkyKitchen, cuja posição elevada (7º andar) privilegia uma vista sobre a cidade e o seu Danúbio, frequentemente ao som de artistas como Sébastien Léger (Mistake Music) ou MARK TROPHY (Pop Pop/Toolroom) e outros que tal, geralmente num ambiente minimalista, para fazer jus à decoração.

A noite começa e acaba cedo, mas a variedade na oferta compensa de certa forma esta limitação cronológica, ainda que para quem não esteja habituado possa ser confuso, pois os bons eventos não costumam ser muito publicitados, circulando a informação entre grupos relativamente restritos de uma forma peer-to-peer ou através de comunidades e magazines online como o parálogo da Rua de Baixo, StylishKidsInRiot.

Para o comum mediterrânico, o culture-shock não é imediatamente evidente dado que se trata de uma capital europeia, mas a diferença nos costumes torna-se notória passados uns meses, já que falta um pouco a abertura sulista a que estamos habituados. Em contrapartida, uma vez quebrada essa barreira, conhece-se um novo lado mais caloroso (e por vezes também, mais inconsequente) da cidade, riquíssima no que toca a eventos e festas privadas, onde, dada a condição económica dos seus habitantes, é fácil acabar em casa de um desconhecido/a que por puro aborrecimento convidou gente indiscriminadamente e contratou uma empresa de catering para abastecer o seu apartamento com piscina no último andar de um prédio da Siebensterngasse.



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