peixe:avião | “peixe:avião”

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A exposição da identidade própria

Ao terceiro disco os peixe:avião voltam a explorar um novo cenário. Depois de um início tímido à la Radiohead, com “40.02” (2008), e do assalto ao post-punk, tão revivido na primeira década do novo século, com “Madrugada” (2010), os bracarenses continuam na senda dos anos oitenta mantendo, mesmo assim, uma identidade bastante actual e única. O novo álbum é homónimo e faz jus a isso mesmo: é um disco feito à sua imagem e som e um exemplo da modernidade musical em Portugal como em poucos casos se ouve por cá.

À formula dos dois discos anteriores, são polvilhados com umas linhas de shoegaze embaladas pela electrónica que caracteriza projectos como Panda Bear ou até mesmo Animal Collective – ouvir a instrumental «Espirais» ou a «Ecos». Tudo numa sonoridade muito próxima à explorado pelos “novos” The Horrors, mas com uma beleza natural explícita e nunca forçada pelo próprio quinteto. 

A estética continua a permitir o foco na voz límpida e serena de Ronaldo Fonseca, mas o instrumental está mais “pesado”, revelando assim toda uma série de peças e influências que se conjugam numa amálgama que nunca chega a forçar um nome preponderante no som apresentado. As guitarras têm mais poder de fogo, a bateria é compassada, guiando as viagens exploratórias exercidas no disco, e a maquinaria electrónica revela-se essencial no trabalho. Notam-se tais marcas nos teclados, na abordagem dos instrumentos tipicamente rock e no resultado final das canções – pós-produção.

“peixe:avião” sufoca e é abrasador. O ambiente do disco está rodeado de nuvens e pós, e ora mergulha em tons de cinza, ora paira num universo multicolor. «Primas», «Ponto De Fuga» e «Avesso» reflectem um olhar mais conciso e directo ao ruído, com guitarras mais angulares e baterias mais precisas. Por outro lado, temos «Pele E Osso» ou «Torres De Papel» que sobrevoam o éter com teor celestial.

Os Mão Morta podem dormir descansados, que Braga continua a efervescer e não desdenha o seu passado.



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