Primitive Reason

A banda está de regresso com “Pictures in the Wall”. A rua de baixo já ouviu e conta-vos tudo.

Estávamos em 1996. A música em Portugal encontrava-se numa “crise” de novos projectos e ideias. A aposta na nova música portuguesa era ainda da exclusividade de algumas rádios e a grande maioria da produção discográfica situava-se nas áreas mais comerciais da pop/rock, não existindo um mercado “alternativo”. A Internet ainda estava numa fase muito embrionária e não existiam FNAC’s. O estado das coisas não era muito motivador.

No meio deste marasmo surgiram alguns projectos que deram um safanão nesta situação. Os Primitive Reason foram nessa altura um dos projectos mais bem recebidos por todos – o público com uma crescente “sede” pela novidade, as rádios e as editoras, que procuravam os sucessos e a imprensa que queria encontrar uma verdadeira “alternativa” ao estado das coisas.

Com uma fusão entre ska/tribal/reggae/rock praticamente inovadora em Portugal, a banda editou “Alternative Prison”, através da União Lisboa, e mais do que isso, gerou dois hinos, que ainda hoje colocam as pessoas a dançar, “Seven Fingered Friend” e “Hipócrita”, e um hype em torno deste tipo de sonoridade e conceito quase revolucionário.

Passaram quase 10 anos. Portugal está bem diferente. As bandas e os géneros proliferam numa quantidade assinalável. A rádio, imprensa e a Internet têm agora muito mais material com que se “entreter” e já não se vive à procura de um “hit” mas sim numa constante observação dos projectos e das modas.

Durante todos estes anos, os Primitive Reason também mudaram. Embora mantendo a sua veia “revolucionária” e de fusão de estilos, a banda tornou-se mais “crua” e pesada. “Firescroll”, de 2003, é um exemplo claro dessa mudança, onde as influências mais pesadas do grupo, quase que “abafaram” o lado mais festivo e “colorido” da banda.

Esta mudança foi também bastante influenciada pela vivência da banda ao longo destes anos. Para além de alguns períodos de interregno, a banda sofreu bastantes alterações na sua composição sendo que, da sua formação original, apenas resta o vocalista Guillermo de Llera. Mas então o que nos traz de novo este último registo da banda, “Pictures of the Wall”?

Ao ouvir pela primeira vez os 18 temas que compõem este disco, fica-se com a ideia que este álbum aproxima-se, a nível sonoro, dos primeiros registos da banda, nunca esquecendo o passado recente, mais duro e cru. O single de apresentação, “El Caballero (de la Triste Figura)” – uma homenagem à mítica figura de D.Quixote em ano de celebração do 400º aniversário –  é um exemplo claro dessa tentativa de aproximação, onde os instrumentos como o Acordeão, a Guitarra portuguesa e o Mandolin se misturam com os elementos eléctricos, numa faixa bastante radiofriendly e extremamente dançante.

A fusão que sempre caracterizou o agrupamento está presente não só nos instrumentos, mas também nos idiomas utilizados – português, inglês e espanhol, deixando transparecer o carácter multicultural de todos os seus elementos e as suas diferentes vivências e influências. As faixas mais dançantes e tribais (“Weakness”, por exemplo) misturam-se com alguns momentos mais pesados de um hardcore feito de gritos e riffs de guitarra (“Eat my Bush”, uma das faixas mais políticas do álbum). Muitas vezes esta alternância de estilos acontece dentro da mesma faixa, “Jornada al Oeste”, deixando ficar bem claro quais as intenções da banda.

Este registo pretende ser interpretado como uma parede de fotografias, onde cada uma das imagens exprime um sentimento, um desejo, uma memória ou uma mágoa que de certa forma marcaram o passar do tempo dos elementos da banda. Mas a mensagem deste disco é bastante mais política e revolucionária à semelhança daquilo que os Primitive Reason sempre nos habituaram.

Em suma, “Pictures of the Wall” é um bom regresso da banda, que promete agradar a gregos e troianos (leia-se, o pessoal da pesada e a malta mais festiva). Espera-se agora pela prestação da banda ao vivo, num qualquer festival de Verão (será?).



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