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Super Bock Em Stock – 4 de Dezembro

Subindo e descendo a Avenida. Outra vez.

O segundo dia do Super Bock em Stock ficou desde o início marcado pela triste notícia do cancelamento dos Fujyia e Miyagi, que seriam os últimos a tocar, na garagem do Marquês. Não tendo sido possível à banda chegar a Portugal, o encerramento do festival passou a ficar a cargo do DJ Dr. Ramos. Ou seja: para mim, o festival iria terminar com os Linda Martini, que tocavam antes no mesmo local. É realmente uma pena; teria sido o encerramento perfeito e um excelente concerto.

De qualquer das formas, há que começar pelo início daquela que foi, para todos os efeitos, uma noite de música melhor que a primeira. Começa-se com Nuno Prata, num Maxime cheio, naquele que é o seu primeiro concerto de apresentação do novo álbum em Lisboa. Som agradável e curioso, de letras bem compostas, num concerto que mostra bem o talento de um músico que, se nos Ornatos Violeta muito nos deu, a solo também muito nos pode vir ainda a dar. Foi com pena que saí do concerto a meio, para apanhar os Junip que estavam prestes a começar no São Jorge. Que regresse depressa à capital, e desta vez em nome próprio.

Os Junip, banda de José González, lançaram este ano o excelente “Fields”, e foi um São Jorge cheio que recebeu a banda que esteve mais de cinco anos parada. Muitos foram, certamente, atraídos pelo simples nome do músico, já bem estabelecido no panorama, mas foi curioso ver a forma como o público parecia conhecer os Junip como Junip e não como “aquela banda que tem o González como vocalista”. Um concerto íntimo e de beleza melancólica, que percorreu o primeiro álbum da banda e o seu EP («Black Refuge» foi, aliás, um dos melhores momentos da noite), com o trio convertido em quinteto (ao vivo têm mais dois membros) a hipnotizar o público do início ao fim. Se em disco já resultava muito bem, ao vivo “Fields” ganha uma dimensão mais emocional e poderosa, com cada canção a ser tocada na perfeição pela banda, toda ela sentada. Foi um espectáculo lindíssimo, construído por belas camadas de som (começa um ritmo, depois entra outro, depois outro…) e, claro, tudo moldado pela grande voz de González, sem dúvida um vocalista absolutamente espectacular, com uma voz que soa frágil e forte ao mesmo tempo. O que dizer de momentos como «Without You» ou «Rope & Summit»? Não desiludiram, deram um dos melhores concertos do festival, e agora aguarda-se um regresso em nome próprio.

E no final do concerto, corre-se para o Teatro Tivoli para arranjar um bom sítio para o nome mais esperado do festival: Janelle Monáe, o grande fenómeno da actualidade. Quando lá chego, estão ainda em palco os Batida. Passar do intimismo e da sensibilidade dos Junip para… o que quer que seja que os Batida fazem, foi um verdadeiro choque. De um lado, um amigo meu dizia estar “horrorizado”, do outro um dizia estar a achar aquilo “muito divertido”. Meio kizomba, meio rap, meio alguma outra coisa qualquer, os Batida conseguiram (pelo que vi, quando lá cheguei), pôr todo o Tivoli de pé e a dançar (ahh, e quão hilariantes são as figuras que uma pessoa faz enquanto dança kizomba…). Pessoalmente, é um som que não me diz nada; mas o meu gosto pessoal vale como apenas isso, e o mérito de terem posto toda aquela gente a dançar ninguém lhes tira. Tinham bailarinas tribais em palco, um vocalista com um sotaque tão assentuado que na última canção só percebi as apalavras “governo”, “não confiem” e “mau”, e por trás uma projecção vídeo psicadélica feita por um dos membros que andava pelo palco de câmara em mão. Perto do final, atiram apitos ao público. Atirar baquetas é overrated.

Se já antes do final do concerto dos Batida o Tivoli estava cheio, pouco antes da entrada de Monáe em palco ainda mais cheio ficou. Cadeiras todas ocupadas, gente nos corredores, e gente lá fora que não conseguia entrar. O grande nome do festival tinha chegado, e todos o queriam ver. A forma como a cantora tomou a indústria de assalto é, de facto, notável.

E uma certeza ficou no final: em breve, Monáe terá o mundo a seus pés. Entrou em palco, perante uma cómica introdução de um dos membros da sua banda (boa ideia, a de pedir que cada membro do público se apresentasse a quem tinha ao seu lado; à esquerda tinha um João, à direita um Ricardo), e com uma energia e um talento que arrebata qualquer um, agarrou o público do início ao fim. Num espectáculo todo ele bem pensado, com bailarinas vestidas de freiras (?!) entre outras coisas e uma projecção vídeo que ajudava a dar a tudo um nível visual mais impressionante, foi uma verdadeira festa do início ao fim, com a ainda jovem Monáe em palco a mostrar toda a sua energia e presença. Quem mais dança daquela forma? Quem mais consegue ter uma voz daquelas? Dentro do género, é raro. Percorreu o seu álbum lançado este ano e nunca se dirigiu ao público; não precisou, dizia tudo o que era preciso dizer por outras formas. Momentos como «Cold War» ou «Tightrope» foram verdadeitamente incendiários, e concertos com tanta energia transmitida por uma vocalista com tanta presença (nem quero imaginar como será ela daqui a uns anos, quando tiver mais experiência…) são raros. Janelle Monáe chegou, e o mundo que se prepare. Daqui a nada, há-de estar a tocar num Pavilhão Atlântico. E com concertos assim, bem o merece.

De seguida, mais uma corrida, desta vez para a garagem do Marquês de Pombal para terminar o festival com os Linda Martini. Um amigo meu informa-me que o concerto começou atrasado e, por isso, que talvez ainda chegasse a tempo de ouvir algumas. Dito e feito: chego lá e a banda ainda está a tocar. Fico extremanente satisfeito ao ainda conseguir ouvir canções como «Belarmino», «100 Metros Sereia», «O Amor é Não Haver Polícia», e em particular aquela que é simplesmente uma das melhores músicas que o rock português alguma vez viu: «Este Mar», tocada já em encore. Terem começado a tocar essa cinco segundos depois de ter gritado “Toquem a Este Mar, porra!” foi dos meus momentos do festival.

Linda Martini em palco iguais a si mesmos: guitarradas, banda a balançar-se dum lado para o outro, em óptima forma, e mete pena a má acústica do local. Se no dia anterior com os Wavves nem resultou mau de todo, com os Linda Martini as guitarras soam disformes, e o vocalista não se ouve tanto quanto se desejaria. Ainda assim, a banda tocou na perfeição, e voltam dia 18 ao Musicbox, onde o reencontro certamente decorrerá com melhores condições.

O concerto acaba, perante um público mais que satisfeito que não enchia a garagem mas perto disso estava, e acaba também para mim o Super Bock em Stock. Nem um mau concerto visto, algumas descobertas pelo meio, e muito cansaço de tanto subir e descer a Avenida. Balanços? Junip, Zola Jesus, Owen Pallett e Janelle Monáe foram aqueles de que mais gostei. Se todos os festivais tivessem concertos assim, seriam um sucesso.

Agora, que venha uma nova edição no próximo ano. Com mais bons nomes, menos cancelamentos, e os locais de sempre. Conceito óptimo, bem executado, e feito na altura certa: afinal de contas, poderia haver melhor despedida de um ano repleto de música que não esta?



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