X-Wife | Entrevista

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Voltar à tona. A conversa com João Vieira e Rui Maia

«Movin’ up» trouxe de volta às notícias os X-Wife, após a edição de “Infectious Affectional” em 2011 e da digressão dos 10 anos da banda.

Trouxemos João Vieira e Rui Maia à Rua de Baixo (Fernando Sousa infelizmente não pôde estar presente) para nos contarem o que podemos esperar depois deste novo single.

Ao invés do que foi veiculado por alguma comunicação social, os X-Wife não têm um disco pronto a apresentar nos próximos meses. O lançamento de «Movin’ up» e o anúncio de concertos no NOS Alive e no Vodafone Paredes de Coura poderão ter induzido em erro algum público.

João Vieira explica: “Neste momento estamos a trabalhar em algumas músicas, sendo que o método é actualmente mais lento após a mudança do Rui para Lisboa. No entanto, e como é sempre bom retirar algo positivo das adversidades, esta mudança na metodologia poderá ser um desafio que encaminhe a banda para uma reinvenção sonora”.

No entanto, a pausa em edições não significa que os X-Wife estejam propriamente parados.

“Nós estamos sempre a trabalhar em coisas novas, numa constante troca de ideias. Mandamos ideias para o Rui, ele manda ideias para nós e, quando sentimos que há um clique e que a música está pronta a ser gravada, entramos em estúdio e gravamos. Foi o que sucedeu com o «Movin’ up». Agendar o lançamento do disco para daqui a dois anos, por exemplo, visto que é normalmente a nossa média, poderia desaguar até numa perda de vontade devido a ser um período extenso”, disse o vocalista.

Rui Maia acrescenta que o novo single nem pode ser considerado propriamente um regresso, porque na verdade a banda nunca deixa de fazer música, simplesmente se registou um abrandamento após a celebração dos 10 anos de existência dos X-Wife.

“A química entre os elementos permanece intacta, o que é muito importante. Tanto é que, agora que lançámos o single, voltou a surgir uma enorme vontade de subir ao palco, visto que voltámos também a ensaiar”, referiu.

João Vieira prosseguiu dizendo que, durante os últimos tempos, a banda provavelmente até cresceu, visto que após terem montado os seus próprios estúdios passaram a ter uma metodologia mais refinada, dado que anteriormente as canções apenas eram trabalhadas quando se reuniam todos em estúdio. “Até gosto mais de ouvir a minha voz agora”, atirou como exemplo do amadurecimento.

O referido abrandamento foi também fruto dos projectos paralelos em que João Vieira, Rui Maia e Fernando Sousa se envolveram entretanto. Sobre esta matéria, quisemos saber se no estúdio dos X-Wife fechavam a porta às inevitáveis influências dessas outras bandas ou se tudo rolava naturalmente.

Rui Maia crê que o processo decorre com naturalidade: “Para mim a separação decorre com alguma facilidade, visto que os Mirror People têm um estilo completamente diferente dos X-Wife. O que poderei fazer será trazer ideias do universo de Mirror People que possam colar na estética dos X-Wife e que até possam conferir uma nova vida à banda. Por exemplo, a nível de programações, no meu caso pessoal”.

João Vieira acha que a espontaneidade pode perder-se, caso se pense demasiado nesta vertente: “Pode ser algo castrador, porque podemos começar a ponderar se uma ideia talvez encaixe melhor num projecto ou noutro. Como vocalista encaro os X-Wife como uma banda talhada para tocar ao vivo, com um lado rock n’ roll, e baseada em canções; ao passo que em White Haus posso ser mais experimental”.

Voltando especificamente a «Movin’ up», os X-Wife confessaram que a escolha de André Tentúgal para realizador do teledisco do single foi totalmente natural.

“O André cresceu conosco, cresceu com os X-Wife, portanto desde logo é nosso amigo”, comentou Rui Maia, que inclusivamente participou na gravação do primeiro disco de We Trust (banda de André Tentúgal) e também na digressão do mesmo. “Já é o quarto vídeo que produziu para nós, sendo que o «On The Radio» foi dos primeiros que ele filmou na sua carreira. Uma vez que o faz eximiamente, foi uma escolha óbvia”, acrescentou.

João Vieira reforçou esta ideia, dizendo: “Nem nos passou pela cabeça outra pessoa, nem faria sentido. Quando tens alguém que faz as coisas tão bem, não tem lógica mudares”.

Acerca do vídeo em si, o vocalista revê-se nele devido ao ambiente de subúrbio onde decorre a acção.

“Sou um pouco obcecado por subúrbios. Muitas das letras de X-Wife baseiam-se em pessoas que fui conhecendo e que, sendo pessoas diferentes, têm traços em comum, daí que várias possam identificar-se com essas histórias. Disse ao André que seria engraçado ter uma miúda nova, nesse ambiente, com vontade de fugir, de crescer, de entreter-se sozinha, meio perdida, dentro da sua inocência. São experiências por as quais passei, que me inspiram, por isso gosto de as imaginar”, adiantou.

Terminámos a refrescante conversa com os dois terços dos X-Wife debruçando-nos sobre a cena música nacional, dado que os membros da banda têm sido dignos agitadores desse meio.

“Independentemente do que se passa à volta, fazemos música por nos apetecer fazer. Acresce que tenho sorte da minha música passar na rádio e de dar concertos. Ainda assim, não posso dizer que sei exactamente o que se passa na cena musical nacional”, afirmou Rui Maia.

“Sei que quando aparecemos abrimos várias portas; a nossa vaga de electrónica misturada com rock e punk fez com que surgissem muitas bandas nessa corrente e congratulo-me por isso”, prosseguiu.

João Vieira continuou: “Tal como agora, na nossa altura, apareceram muitas bandas, como Plaza, Loto, Gomo, entre outras, mas infelizmente foram desaparecendo. E nós, que nos cingimos ao electroclash, fomos subsistindo. Talvez porque arrancámos ao mesmo tempo dos LCD Soundsystem, dos The Rapture, ou seja, somos contemporâneos do género. Normalmente, as bandas portuguesas limitavam-se a replicar aquilo que já tinha sido feito lá fora vários anos antes.

Hoje em dia já não há fronteiras, nem sabes muitas vezes de onde são originárias as bandas. Poderás ser influenciado pelo meio que te rodeia, mas podes encontrar sonoridades interessantes e semelhantes vindas de qualquer latitude.”

Rui Maia nota que “as bandas continuam a durar pouco tempo”, e crê que tal se deve à falta de conteúdo das mesmas. “Se te faltar esse conteúdo, podes seguir as regras todas do universo musical, mas irá faltar-te a essência. E o público tem que sentir as canções, identificar-se com elas”, rematou.

Certo é que, falando em canções, continuaremos a suspirar por mais vindas dos X-Wife.

Para já, podemos vir à tona com o chamamento de «Movin’ up», e dançar nos concertos já em agenda: NOS Alive (9 de julho) / Vodafone Paredes de Coura (21 de agosto).



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