“Chicago” | Alaa Al Aswany
O Egipto em apuros
“O nome de Chicago, como nem toda a gente o sabe, não tem origem inglesa. Provém da língua dos Algonquinos, uma das muitas faladas pelos Índios da América. Nessa língua Chicago quer dizer ´cheiro intenso`”. É desta forma, falsamente aromática e densamente enciclopédica, que tem início a narrativa de “Chicago”, da autoria de Alaa Al Aswany, antes de nos apresentar as personagens que procuram o sonho norte-americano.
Apesar de pertencerem a gerações antagónicas, todas elas partilham o facto de serem expatriados egípcios, ainda que com estados de espírito e motivações bem diversas: Raafat, emigrado para os EUA nos anos ’60, adoptou o estilo de vida norte-americano e passou a desprezar o País de origem; Saleh, professor de Histologia, interroga-se sobre se tomou a melhor opção ao casar com uma norte-americana; Nagui, estudante bolseiro, traz do Egipto uma perigosa ideia de radicalismo; Cheima, proveniente de um meio rural, contrasta uma forte capacidade intelectual com um analfabetismo sexual condicionado por uma religião extrema; Danana, presidente da união de estudantes egípcios, é conhecedor dos meandros da política e de todas as formas de tortura.
Enquanto relato do habitat norte-americano, a visão de “Chicago” surge demasiado estereotipada, como uma má caricatura, cavando um fosso entre o Islamismo e a cultura ocidental talvez maior do que aquilo que a realidade apresenta; por outro lado, enquanto polaroid do Egipto moderno, País extremamente infeliz e em sérios apuros, “Chicago” é um livro brilhante que, mais do que passar uma mensagem política, nos apresenta uma colecção de personagens que se revelam verdadeiros estudos de carácter e personalidade.
Uma edição Quetzal.
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