1º Festival Netaudio Lx
Aqui há de tudo. E à borla!
No Cinema São Jorge, o 1º Festival NetaudioLx propõe três dias (5, 6 e 7 de Janeiro) de pedagogia, discussão, mas também (e acima de tudo) de entretenimento. Música grátis, acesso gratuito… tem algum tempo livre?
Música grátis, música livre, música liberta de restrições e distribuída gratuitamente na Internet. O mote do evento é, diz a organização, “criar uma consciência institucional e social, em direcção à Cultura Livre, abordando um diálogo aberto sobre temas, entre todas as partes interessadas”. Para tal, para dialogar abertamente, vão acontecer workshops e debates. Vamos aos debates. O candidato a mais interessante é o que responde por “Propriedade Intelectual”. Vão ser discutidas temáticas sempre na moda como o sampling e a apropriação artística. Mais: vão estar duas partes ao barulho, “especialistas da Creative Commons, bem como especialistas de Copyright e ainda perspectivas de músicos e toda a gente que quiser participar”. Também será debatida a forma como “a estrutura/sistema de copyleft protege as necessidades dos autores” ou o excesso de informação. No outro debate, “Connecting the Dots”, vai ser discutido o presente e o futuro da cena netaudio.
Pedro Lopes, Rute Correia e Catarina Pimentel. São estes os nomes por trás do 1º Festival Netaudio Lx. Dois deles, respondem-nos em discurso directo.
Expectativas para o primeiro festival NetaudioLx?
Rute Correia: A expectativa é alta. Sendo o primeiro festival de netaudio em Portugal, votado directamente pelos cidadãos da cidade de Lisboa, o nervoso miudinho tem atacado todos os dias. Querer mostrar uma nova dimensão da música a uma capital e ao público em geral é um desafio e tanto.
Pedro Lopes: Pretende-se que o NetaudioLx seja um ponto de encontro para as diversas entidades envolvidas neste conceito: músicos, editoras (as Netlabels), interessados, curiosos e claro, os ouvintes. Acima de tudo o NetaudioLx 2012 tem como missão unir as comunidades europeias e, numa vertente educacional e institucional, promover junto das pessoas uma consciencialização para os modelos de licenciamento de conteúdos e protecção dos direitos autor, que nós acreditamos serem adequados a sociedade contemporânea (que por si evoluiu e, com o nascimento da internet e downloads, já não suporta os modelos em vigor, que são datados).
A música livre pode ser um negócio?
RC: Em Portugal ainda é complicado, sendo que nomes com maior sucesso acabam muitas vezes por transitar para o mercado propriamente dito. No entanto, noutras partes do mundo, sobretudo em países onde existe uma consciência muito maior do que são os direitos de autor e das problemáticas que se levantam com a chegada da internet é possível – caso da Alemanha, por exemplo, existem vários artistas europeus que editam exclusivamente em Netaudio e que conseguem viver da música.
PL: O Festival tratará de responder a esta questão em vários prismas, mas essencialmente promoveremos no dia de encerramento um debate que ilustrará os casos de sucesso dentro do NetAudio. Mas desde já deixamos como nota que a maioria dos músicos mainstream não fazem dinheiro na venda de discos, dado que isso é colectado maioritariamente pelas editoras. Assim, os músicos do NetAudio têm em seu poder a melhor ferramenta: concertos – a música ao vivo. Ainda através dos modelos livres, os artistas asseguram o licenciamento da sua música sem custos adicionais, com distribuição gratuita e mundial – que antigamente era uma meta inatingível para a maioria dos artistas a começar.
Com o boom recente de festivais em Portugal, em que se pode distinguir o NetaudioLx dos restantes, para além do facto de ser gratuito?
PL: O mero facto de, nesta altura de crise e da chamada “geração à rasca”, oferecermos um festival polivalente (workshops, debates, Dj sets e concertos) é [só] por si absolutamente único. A qualidade dos músicos escolhidos, dos tutores dos workshops e das figuras presentes nos debates resumem as figuras de proa da cultura livre a nível mundial, sem qualquer ponta de arrogância. Por último, não existe nenhum festival em Portugal em que possas descarregar toda a música que ouviste gratuitamente para a tua pen USB depois do concerto, excepto o nosso!
RC: Penso que a grande diferença passa sobretudo pela forte aposta na componente pedagógica. Não estamos a vender música, estamos a desmistificar o download. O que nos interessa é que as pessoas tenham contacto com esta nova dimensão, que percebam que o consumo cultural está a mudar e que do ponto de vista do artista e do consumidor essa mudança foi para melhor.
Temos assistido a inúmeros casos de uso da Internet como arma de arremesso político (revoluções no Norte de África, a “Geração à rasca” por cá). Reparei que mencionam no site oficial, pelo menos, as revoluções na Líbia, Egipto, etc. Pretendem criar uma discussão à volta deste tema?
PL: Sem dúvida, quando escrevi esse texto pretendia marcar um ponto de partida para os três debates abertos que promovemos no festival. A internet mudou o mundo, a Líbia e o Egipto são provas irrefutáveis disso mesmo. Pretendemos medir o impacto que a internet tem no mundo da música, e explicar como os modelos Creative Commons e outros podem ajudar os músicos e o público – promovendo os downloads legais.
RC: O nosso alerta vai de encontro ao poder da internet enquanto meio de comunicação e proliferação de cultura. É cada vez mais importante ter a consciência de que a internet tem um papel fundamental em todas as áreas da sociedade. Política, cultura, economia: nada existiria nos moldes em que hoje existe, se a internet não tivesse aparecido pelo caminho. Agora falta aproveitar bem este recurso.
O que é a música livre, para vocês?
PL: A música livre pode ser vista de várias perspectivas (jurídica, cultural, etc…) que explanaremos no NetAudioLx. O mais importante a reter é que a Música Livre permite aos artistas um licenciamento e distribuição simples do seu trabalho e, mais que tudo, permite ao ouvinte acesso livre, gratuito, à cultura!
RC: Música livre é aquela em que o utilizador detém o direito de distribuição da obra. Ou seja, basicamente em vez de todos os direitos conexos da música estarem na posse do artista ou da editora, ele transporta esse direito para o consumidor. A música é livre quando temos a liberdade de a partilhar com quem quisermos.
E o futuro da música livre? Querem adiantar alguma coisa ou preferem deixar tudo para o festival?
RC: Gosto de acreditar que o futuro da música livre passa por encontrar um ponto de convergência com o mercado discográfico estabelecido, em que o formato físico ganha um papel reservado ao coleccionador e o artista vive muito mais da performance – coisa que tem acontecido com nomes como Radiohead ou The Gift, por exemplo. No que toca ao festival, é só aparecerem. Os tempos são de crise, mas a entrada é gratuita, por isso não há desculpas.
PL: O futuro da música é sempre difícil de prever, mas com uma análise do panorama internacional actual apercebemo-nos que é bastante evidente, que as grandes multinacionais estão em apuros porque o download ilegal, o remix, o sampling dá facilmente cabo das suas contas. O presente da música, esse é fácil: basta vir ao NetaudioLx, de 5 a 7 de Janeiro e ver.
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