11ª Edição da Festa do Cinema Italiano
O Cinema Italiano está em tour por Portugal. Lisboa foi a primeira paragem.
A Festa do Cinema Italiano está de volta. A primeira de 16 paragens, em Lisboa, no Cinema de S. Jorge, decorreu de 4 a 12 de Abril, com diversas sessões em espaços e horários variados e onde não faltaram os mais típicos gestos italianos, escolhidos para a divulgação desta edição.
Os gestos tornam a comunicação mais universal e livre de barreiras e esta liberdade de expressão revê-se no cinema italiano, que ocupa um lugar muito próprio dentro da sétima arte.
Esta festa contou com uma programação recheada não só de aperitivos, como também de novidades. Para além das sessões de competição com trabalhos de jovens realizadores, já habituais nos festivais de cinema, houve sessões de obras recentes e que tiveram grande destaque em festivais internacionais, sessões para curtas-metragens, sessões para os clássicos e ainda sessões especiais e eventos paralelos.
Dentro das sessões especiais foi possível assistir a documentários dedicados a três grandes artistas da pintura italiana: Botticelli – Inferno, Raffaello – Il Principe Delle Arti e, Caravaggio – L’anima e il Sangue; E um documentário sobre o festival de arte urbana que surgiu em Grottaglie – Fame. Este último, dá nome ao festival de arte e ao filme, cuja exibição contou com a presença do irreverente protagonista e realizador Angelo Milano. Nos eventos paralelos, para além das festas houve um espaço dedicado aos mais piccolini, com o filme Pipì Pupù e Rosmarina In Il Mistero Delle Note Rapite e oficinas relacionadas com o universo de Pipì, Pupù e Rosmarina.
Durante os dias 8, 9 e 10 de Abril parte da programação foi dedicada ao “mais português dos escritores italianos”, Antonio Tabucchi, com conversas, leituras e sessões cinematográficas. A projeção de vídeos Patafísica italiana – jovens videoartistas, relacionados com aspetos da arte contemporânea ocupou o Cinema de São Jorge nos últimos dias desta celebração do cinema italiano.
Na secção Amacord, dedicada aos grandes clássicos de Itália, decorre até ao dia 23 de abril uma homenagem ao cineasta Marco Ferreri conhecido pelo seu humor negro e por uma forte crítica social. Ao passo que em outros espaços, como o cinema de São Jorge e os cinemas UCI El Corte Inglés, são exibidos clássicos como os filmes La Meglio Gioventù, Nuovo Cinema Paradiso e Il Postino, mas talvez o título em português seja mais familiar “O Carteiro de Pablo Neruda”. Este último recebeu uma exposição de esboços de Lorenzo Baraldi e Gianna Gissi no cinema de São Jorge, que irá percorrer várias lojas FNAC em todo o país e ainda, um cine-jantar dedicado a esta personagem marcante do cinema italiano. É uma história ainda muito querida para os portugueses e a prova disso foi a quantidade de lugares ocupados na sala Manoel de Oliveira. É um relato de amizade entre um homem simples e o poeta romântico Pablo Neruda aquando a sua temporada numa pequena ilha italiana.
Os destaques do Cinema Italiano
Não é só a nostalgia dos clássicos que enche salas. Também as novidades da secção Panorama provocaram o burburinho entre os espectadores desta Festa. A sessão de abertura arrancou com Sicilian Ghost Story, da dupla de realizadores Antonio Piazza e Fabio Grassadonia: uma história emocionante sob a forma de fábula, inspirada num caso que chocou a Itália nos anos 90. Apesar de assistirmos a uma história baseada num crime da máfia italiana, a câmara leva o espectador a envolver-se no valor de uma amizade incondicional capaz de ultrapassar as barreiras da maldade e na superação da perda de alguém sem que esse seja substituído, mas antes, sempre lembrado com carinho. Sem dúvida um filme delicado e que fez derramar muitas lágrimas, ao contrário de Amore e Malavita – que fez as delícias do público. Também com um enredo relacionado à máfia, mas de um modo jocoso, irónico e musical. Mas não musical do tipo requintado, apesar de ser considerado o La La Land italiano (não é nada que se pareça). As cenas musicadas surgem nas alturas menos esperadas e como que para limar o ridículo e o cliché das situações.
Passamos pelo choro, pelo riso e também pela discussão. Isto porque o cinema italiano não se resume apenas a máfia e à pasta. Nome di Donna foi um dos filmes que contou com a presença de um dos convidados especiais desta edição, e no caso tratou-se do próprio realizador Marco Tullio Giordana. A opinião e visão do realizador sobre o seu filme despoletou vários braços no ar, numa conversa depois da exibição da película que poderia ter durado até à meia noite ou mais, caso o moderador não tivesse terminado a conversa. Este é um filme que fala do abuso de poder através do assédio sexual no trabalho, sobre as mulheres por parte de um homem. Só por isto podemos perceber que a questão de género é indissociável, o que levantou a questão ao realizador sobre o porquê de ser um homem a realizá-lo, ao que este confessou não estar preparado para uma “plateia militante” dizendo ainda que acredita que os artistas “são como anjos” ou seja, assexuados. Todos sabemos que a questão da desigualdade de género está na ordem do dia e que ao fazer um filme baseado nesta temática, seja ele realizado por um homem ou mulher, vai sempre gerar reações díspares.
Itália em Portugal
A Festa do Cinema Italiano tem tudo para continuar a encher salas de cinema nas próximas edições. Apresenta um trabalho muito genuíno, que mostra muito do seu país ao mundo e que revela até algumas semelhanças com Portugal, como quando vemos paisagens ou quando provamos da sua gastronomia, que ao tomar proporções mediterrânicas acabou por se tornar parte de nós. Os gestos que ilustram esta edição, também são algo que a troca de experiências interculturais permitiu que adotássemos. Esta é uma festa para todos, que pode ser vivida individualmente, em família, entre amigos e onde é partilhado o gosto pela comida, pela vivência de emoções e claro, pelo cinema. Assim se entende a hashtag desta edição #somostodositalianos. No é vero?
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