“O Menino e o Mundo” de Alê Abreu

O Menino e o Mundo

O filme mais premiado da MONSTRA 2014

A abrir a competição de longas-metragens no festival MONSTRA tivemos “O Menino e o Mundo” de Alê Abreu um dos mais recentes projectos da animação brasileira que começa a dar os primeiros passos na distribuição internacional, primeiros passos esses que parecem muito promissores.

Após assistir à partida do seu pai que se afasta da família por trabalho, o menino deste filme decide abandonar a sua aldeia para partir à sua procura, o que resulta numa grande aventura de descoberta do mundo que o rodeia. É uma história muito emotiva que apesar de beber das raízes da América do Sul, acaba por projectar receios e situações que estão hoje a afligir todo o mundo.

É através dos olhos inocentes deste menino que vamos conhecendo este mundo, onde o lado feroz da indústria é bem focado, um lado onde as pessoas são tratadas como números e onde os doentes são postos de lado para dar lugar a trabalhadores mais robustos e produtivos. São tempos duros e ditatoriais e pouco a pouco a criança com que partimos nesta viagem vai descobrindo e consequentemente mudando. A inocência quando perdida nunca mais retorna.

No que toca à animação Alê Abreu mencionou as suas influências oriundas da Disney no início da sua carreira e como isso foi algo que teve de destilar para se livrar de determinados conceitos e conseguir criar algo diferente, distinto. A animação de “O Menino e o Mundo” prima pela várias técnicas utilizadas a partir de traços muito simples e colagens, um trabalho que no seu produto final resulta maravilhosamente conseguindo-nos transportar para o ambiente mais espiritual do campo e mais psicadélico da cidade. Em determinadas imagens, como as de propaganda, foram utilizadas nas colagens imagens reais, muitas que o realizador já tinha recolhido durante a sua pesquisa para um documentário sobre o canto latino e o qual está na génese deste filme de animação. A equipa considerou que a utilização de imagens reais, particularmente na cena da floresta queimada, era necessária para dar um tom mais genuíno ao filme, puxando o espectador para o real.

“O Menino e o Mundo” de Alê Abreu

Algo que faz tanto parte deste filme como a animação é a sua banda-sonora, que não é apenas utilizada em determinados momentos e sequências mas em todo o corpo do filme. É através da música que o menino segue o seu pai e ela torna-se uma entidade sempre presente. Para este feito Abreu conseguiu reunir-se de uma série de talentos muito distintos que juntos tornaram esta banda sonora algo verdadeiramente especial. O multipremiado Naná Vasconcelos, os Barbatuques, os GEM-Grupo Experimental de Música e o rapper Emicida que também abandonado pelo pai se identificou imediatamente com a história, são os artistas que deram corpo a toda esta música que tanto contribui para o espírito do filme.

Apesar de toda a crueldade da realidade existe sempre esperança presente neste “O Menino e o Mundo” algo com que o autor se mostrou sempre preocupado como revelou numa conversa que decorreu após a visualização do filme para todos aqueles que estavam interessados.

No final do festival não é de todo surpreendente que “O Menino e o Mundo” tenha levado para caso não só o prémio do público e de melhor banda sonora, mas também o de melhor longa-metragem. Longa vida a este filme de Alê Abreu e parabéns a toda a sua equipa.



There are no comments

Add yours

Pin It on Pinterest

Share This