Brad Thor photo-John Reilly 2009

“À Beira do Fim” de Brad Thor

O reerguer de um espião

À Beira do Fim, de Brad Thor (Bertrand,2022), é um ‘thriller’ contra-relógio, em que as apostas são altas, o risco é mortal e um herói vai reerguer das cinzas.
A conclusão de uma etapa. Uma esperança para a seguinte.

Olhando agora para trás, Scot Harvath provavelmente não deveria ter dado um soco ao tipo. (…)
E era aí que jazia o problema. Ultimamente, Harvath parecia mostrar alguma dificuldade em tomar as melhores decisões.

Brad Thor, autor renomeado de vinte e um ‘thrillers’, todos, êxitos de vendas do New York Times, e fundador da Thor Entertainment, voltou ao que sabe fazer bem, escrever mais uma história de Scot Harvath.

Através dos meandros e fantasmas dos enredos passados, o espião em má forma, vai ter que avaliar bem em quem pode ou não confiar, quem são os verdadeiros traidores e puni-los, antes que o seu tempo acabe de vez.

Um ‘puzzle’ composto por inúmeros detalhes passados e presentes, tão bem mesclados que o leitor não vai sentir-se perdido.

Através de recursos a tópicos e personagens passados, detalhes que poderão não ser do agrado dos leitores mais fiéis, os novos leitores ganham uma base de apoio que lhes permite ler o livro independentemente de terem lido os anteriores ou não.

A ação, é mais dinâmica na segunda metade do livro, embora existam situações de perigo na primeira metade.

Thor arriscou a mexer na sua fórmula ganhadora e lançou-se numa aventura rumo a terreno desconhecido, onde coloca o seu herói nu, despido de todos os elementos heroicos que alguma vez o caracterizaram.
Mestre do ‘cliffhanger’, finalmente encerra o drama que atormentava o seu herói desde histórias passadas, deixando uma porta aberta para um futuro igualmente perigoso, mas mais promissor.

Harvath tinha um vício. Era viciado naquele estilo de vida. (…) E, tal como qualquer toxicodependência, esse vício necessitava de alimento constante e exigia sempre mais do que a vez anterior para se atingir o mesmo patamar de desintoxicação. No final, teria também o mesmo desfecho. Mais cedo ou mais tarde, iria tirar-lhe a vida.

De luto, arrasado pela morte da mulher, da sua colega e do seu mentor, Scot Harvath, outrora o afamado espião americano, empregado pelo Carlton Group, é uma sombra de quem foi. Devido a perdas pessoais, vive num limbo, a tentar adormecer a dor com bebida.

E é esse Harvath que vemos logo de caras. Alguém que não se parece remotamente ao Harvath invencível e arriscado do passado.

A tentar passar despercebido, mas constantemente dado a confusões (que invalidam essa intenção), é emboscado numa das suas noites de terapia do esquecimento através do álcool, e pensa que o fim chegou.

Mas além de sobreviver ao ataque, para seu grande choque e surpresa, descobre que um grande amigo foi torturado até à morte e ele, tem uma recompensa de cem milhões pela sua cabeça.

Escudado pela sua equipa para sua proteção, tenta junto a várias caras conhecidas, descobrir quem está mais irritado de todos os que travou nas suas missões.

Quem está disposto a torturar e a matar para chegar até si? Quem colocou a sua cabeça a prémio?

Os inimigos são muitos, mas Scot há só um.

Harvath não era do tipo conversador, sobretudo no que tocava aos seus sentimentos. Era, isso sim, um sobrevivente. E, na sua profissão, uma pessoa sobrevivia se fosse capaz de erigir um muro face aos sentimentos; deixar os assuntos desagradáveis ou desconfortáveis numa caixa, bem trancados. Os sentimentos eram distrações e estar distraído podia ser fatal, para ele, ou o que era pior, para terceiros.

Do lado norueguês, encontramos Sølvi Kolstad (agente dos serviços secretos noruegueses) e uma versão feminina de Harvath, além de ser a protegida de Carl Pedersen.

Sølvi está revoltada, ansiosa por vingança e disposta a tudo. Para isso, precisa de Scot.


É a partir do encontro dos dois que o enredo se dinamiza mais e observamos o verdadeiro potencial de Harvath, lado a lado com as capacidades de Sølvi, a ninja norueguesa.

Ambos têm traumas, mas o profissionalismo e seriedade de Sølvi, servem de impulso para Harvath se compor e seguir adiante.

Se Harvath já era considerado uma força a temer, Harvath e Sølvi juntos parecem imbatíveis.

Ela recordava-lhe imenso Carl: era inteligente, intensa e completamente direta quando necessário. No entanto, havia um sentido de humor subjacente, um desejo de sorrir ou fazer uma piada numa situação complicada. Resumindo, Harvath apreciava isto. Mais especificamente, gostava dela. E isso assustou-o a valer.

À Beira do Fim, de Brad Thor, é um ‘thriller’ misterioso, perigoso e emocional, em que Harvath terá de enfrentar não só os vilões e a ameaça à sua vida, mas a si mesmo.

A conclusão acertada para uma história inacabada, um excelente começo para as próximas missões do famoso espião, Scot Harvath.



There are no comments

Add yours

Pin It on Pinterest

Share This