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“A Biblioteca Secreta de Leonardo” de Francesco Fioretti

Um artista genial, um ilustre frade matemático e um enigma secreto

A Biblioteca Secreta de Leonardo, do autor Francesco Fioretti (Marcador, 2019), é um thriller histórico, de contornos noir, onde o tão desejado encontro entre o artista e inventor Leonardo Da Vinci com o frade franciscano Luca Pacioli, é assombrado por um crime. Cabe a aos dois, recuperar o que foi roubado. Cabe a Da Vinci, descobrir o assassino, ao mesmo tempo que tenta decifrar um enigma escondido no quadro de Pacioli.Francesco Fioretti faz juz aos seus profundos conhecimentos não só do Renascimento Italiano e Medieval, mas também do homem que escolheu como personagem principal para esta sua história repleta de mistérios e pormenores.

Deu um pulo seguro de Dante, sua personagem principal reverenciada, para se focar num artista hesitante, um génio na garrafa. Da Vinci, era um homem do seu tempo com uma mente mais avançada, amante do impossível, um artista que imaginava e criava muito, deixando tudo a metade. Sendo tão progressista para o seu tempo, não é de espantar que tenha sido o eleito como o investigador curioso, neste thriller.

Este livro é uma pintura, rica em detalhes, de uma Itália pós Medici; bem como da vida e obra de Leonardo Da Vinci nos seus anos mais prolíferos, que permitirá ao leitor entender mais sobre o artista, o meio que o rodeava e os tempos turbulentos que se faziam sentir.

O frade subiu lentamente as escadas, no cimo das quais deu por si, de repente, na “fábrica”. (…) seria muito difícil conseguir imaginar os antigos usos daquele salão: as festas, as danças, as cerimónias solenes. Era mais o caos primordial, ou como sempre imaginara que fosse a forja de um feiticeiro.

Leonardo, aficcionado da matemática, aguarda a chegada do frade Luca Pacioli, o qual, ele espera, possa ensinar-lhe mais sobre os mistérios da matemática; porém sofrem uma série de desencontros.

Será Pacioli a deslocar-se ao estúdio de Leonardo, onde se depara com Salaí, que além de ladrão, lhe parece um mentiroso crónico.

Ansioso para sair daquele local, marca novo encontro com Leonardo. É este, que algum tempo mais tarde, se desloca até onde o frade se hospeda, e entra na cela de Pacioli aguardando a sua chegada.

O que aí encontra, será determinante na avaliação de carácter do seu ídolo matemático.

(…) Uma cama simples, um genuflexório para as orações diante de um crucifixo, uma secretária contra a parede, uma estante para os livros, um arquibanco sob a frestão que dava para o claustro. (…)Mas, em pé sobre a secretária, simplesmente apoiado na parede, estava o retrato de um frade que devia ser ele mesmo, Luca Pacioli.

Porém, as dúvidas que assolavam a mente de Leonardo aquando da descoberta do quadro enigmático de Pacioli, tiveram que ficar, momentaneamente, relegadas para segundo plano.

A morte do vizinho de cela do frade, um ladrão acusado de ter furtado textos antigos bizântinos, e o desaparecimento quer das obras roubadas quer do assassino, impelem Leonardo a partir em busca de respostas, e culpados.

Os dois irão partir de Milão a Veneza, de Florença a Urbino, atarvessando uma Itália muito diversa daquela dos tempos do Magnífico.

Mas os dois protagonistas desta história não podiam ter prioridades mais diferentes. Da Vinci acreditava ser mais importante encontrar o assassino, ao passo que Pacioli estava decidido a encontrar os volumes roubados.

Na busca por um culpado para satisfazer a ânsia por sangue, um homem é aprisionado e acusado do roubo, encerrando a investigação sobre o homicídio; mas os livros, esses, ainda continuam desaparecidos.

O contato estabelecido entre Da Vinci com o condottiero em casa de Giuliano di Medici, é decisivo para Leonardo.

 

(…)”Tens de voltar a Florença”, (…) “Tens de encontrar aquele livro!” Ele aceitara a missão imediatamente. “Aquele livro” tinha necessariamente de estar com “aqueles livros”, dissera a si mesmo. Só havia uma coisa a fazer: tinham de voltar a Florença e continuar com a investigação.

No entanto, já em Florença, a mínima menção aos códices de Mistras levava a que todos se fechassem em copas, evitando o tema ao máximo, como se desejassem apagar o incidente da memória.

Infrutíferas as suas investigações em Florença, decide partir rumo a Urdino, onde é chamado à presença do duque, que o encarrega de fazer um mapa de Urbino e da zona circundante, em busca de fortalezas fracas e obsoletas, de forma a proceder à sua reestruturação.

Com a desculpa de necessitar mapas antigos para a pesquisa, resolve, então, requerer o salvo-conduto para lhe ser possível entrar na famosa biblioteca de Federico de Montefeltro, a única considerada capaz de concorrer contra a biblioteca de Lorenzo di Medici, e assim tentar a sua sorte, pois crê poder encontrar aí os manuscritos bizantinos que se esfumaram no ar misteriosamente.

Aquando da entrada na biblioteca, encontra outro visitante, perdido na imensidão de informação contida naquele local.

O visitante causa-lhe arrepios, chegando Leonardo a compará-lo a um gavião. Trata-se de Nicolau Maquiavel, embaixador da República.
Após uma apresentação um pouco áspera e hostil entre Leonardo e Maquiavel, a admiração pelo local onde se encontram leva a melhor.

Entre manuscritos, códices e alguns livros impressos, a curiosidade e ansiedade de Leonardo leva-o a questionar Maquiavel sobre a existência e localização de volumes sobre as matemáticas e a física. O que impulsiona Maquiavel a mostrar-lhe algo que considerava muito estranho.


O que Leonardo encontra, deixa-o sem palavras.

Levou-o a um canto escondido na última das quatro salas da biblioteca. E ali voltou a vê-lo, e a vista cortou-lhe a respiração, como se tivesse chegado a um encontro há muito aguardado, como se sempre soubesse que, mais tarde ou mais cedo, o voltaria a ver: na parede estava o retrato de Luca Pacioli que Leonardo conhecia muito bem, com o jovem Gonzaga, o dodecaedro de madeira, o eicosiexaedron de cristal. Eis, então, o seu destino final.

Um dos mistérios estava apenas por revelar-se, mas não era apenas Leonardo que estava ansioso por decifrá-lo, o assassino, que ainda buscava os livros, estava a um bafo de distância.

Toma, então, lugar um jogo de gato e do rato .

Conseguirá Leonardo decifrar o enigma do quadro de Pacioli? Descobrirá os códices de Mistras antes que o assassino o mate? E se sim, o que fará com eles?


A Biblioteca Secreta de Leonardo, de Francesco Fioretti, é um excelente thriller histórico, que além do óbvio mistério sobre quem foi e porquê, resolve um enigma matemático primordial para decifrar tudo.

Uma corrida contra o tempo, cheia de riscos e sérios perigos, no seio de uma Itália, em nada pacífica, onde as divisões ameaçam destruir o país.

Uma lição de História disfarçada por um conto repleto de suspense, surpresas e curiosidades.

(…) Assim Leonardo percebeu finalmente de que parte do alinhamento neo-platónico estivera, sem saber, durante todos aqueles anos. Era a parte certa, disse para si mesmo, embora não a vencedora. Pelo menos por enquanto.



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