“A Boneca” de Yrsa Sigurdardóttir
Uma boneca sombria, vários mistérios
‘A Boneca’ de Yrsa Sigurdardóttir (Quetzal, 2023), é um ‘thriller’ repleto de curvas e contra-curvas, com paisagens idílicas, crimes brutais e segredos letais.
Quem lhe dera ter devolvido a boneca ao mar. Quem lhe dera.
Yrsa Sigurdardóttir, atualmente um nome sonante do ‘suspense’ nórdico, é engenheira civil de profissão, empresária, e escritora desde 1998, de livros infantis. Teve a sua estreia com romances policiais e ‘suspense’ em 2005 com o livro O Último Ritual, o primeiro na série Thora Gudmundsdottir (em vias de ser adaptada a série), traduzido em mais de 30 línguas.
Todos os seus livros têm sido ‘bestsellers’ a nível da Europa, com alguns a serem nomeados e vencedores de prémios literários: Biobörn (2003) – vencedor do Prémio do Livro Infantil da Islândia; Ladrão de Almas (Gótica, 2008) – pré seleccionado para o Shamus Award de 2020; Lembro-me de Ti (Quetzal Editores, 2012) – nomeado ao prémio Icelandic Crime Fiction, adaptado em filme; Lisboa Reykjavík ou O Silêncio do Mar (Quetzal Editores, 2020) – vencedor do prémio Petrona (melhor romance policial); e O Legado (Quetzal Editores, 2018), primeiro romance policial da série Freyja e Huldar.
Além das séries ‘Thora Gudmundsdottir’ e ‘Freyja e Huldar’, também publica ‘thrillers’ individuais e ficção infantil.
Títulos publicados pela Quetzal:
Cinza e Poeira (2011)
Lembro-me de ti (2012)
Alguém para tomar conta de mim (2015)
O Legado (2018)
Abismo (2019)
Lisboa – Reykjavik (lançado, originalmente, com o título O Silêncio do Mar, em 2016, foi reeditado com o novo título em 2020)
A Absolvição (2021)
Campo de Lava (2022)
A Boneca (2023)

Sigurdardóttir já habituou os leitores à sua mestria nas descrições de cenários idílicos banhados a contornos negros, assassinatos brutais e as subsequentes reações aos mesmos, porém, este, não é dos livros de tom mais obscuro da autora, apesar de envolver um tema extremamente sensível, crianças.
‘A Boneca’, é o quinto livro da série Freyja e Huldar, mas pode ser lido individualmente.
De ritmo lento, que vai aumentando conforme surgem as revelações, e enredo repleto de ‘twists’, ‘A Boneca’ é um livro cheio de ‘nuances’, subtil, focado, maioritariamente, numa rapariga desaparecida, nos restos humanos encontrados e numa grave acusação de abuso sexual.
Tem várias linhas temporais, duas delas envolvendo situações diretamente relacionadas com crianças, passado e presente; existem vários fios condutores da história, mas conforme o enredo evolui, esses fios começam a desenlaçar-se, e as pontas soltas, aparentemente desconexas, começam a revelar um elo comum.
Ficaram os três em silêncio, a absorver a extraordinária visão. Tratava-se de uma boneca, sem dúvida nenhuma (…)
A boneca era tudo menos querida e amorosa.
A história começa há 5 anos, quando mãe e filha vão dar um passeio de barco com um colega de trabalho da mãe. Dísa, Rósa e Frikki descobrem algo estranho, preso na rede de pesca, mas o que inicialmente temiam tratar-se de um bebé, é apenas uma boneca. Boneca essa, que devido ao tempo passado na água, tinha um aspeto aterrador.
Apesar do seu aspeto menos convidativo, a pequena, inteligente e carinhosa, Rósa quis levar a boneca para casa, porém o simples ato de satisfazer a vontade da filha, foi exatamente o que as condenou à tragédia.
A monstruosa boneca observava-a da banheira.
(…) a maçaneta foi rodada do outro lado. A porta abriu-se lentamente para dentro e, (…) Dísa seria capaz de jurar que a boneca sorriu.
A jovem Rósa demonstra ser uma personagem de relevância. Raramente vista, mas constantemente mencionada ao longo do enredo, é, no presente, uma adolescente desiludida com o sistema e com a vida.
Apesar de existirem, realmente, poucos momentos com ela, é ela o motor principal da história, ela e a boneca que ‘pescou’ no início do livro.
A miúda afirmava que a morte da mãe tinha sido provocada por uma boneca demoníaca. Mas não explicava como. Nem se a boneca também tinha estado implicada na morte do pai. Uma coisa, porém, era claríssima na cabeça de Rósa: ela seria a próxima.
Anos após a pescaria da boneca, e no exato local onde foi pescada, Huldar e Erla, estão a procurar possíveis restos humanos.
O que se revela uma tarefa complicada, dado que o tempo passado debaixo de água, eliminou a maioria das provas e dificulta o reconhecimento dos corpos, ou do que encontraram deles.
Já, a Freyja, como psicóloga infantil, é-lhe requerido que acompanhe as entrevistas policiais a antigos residentes de um lar de acolhimento, após o responsável pelo lar de acolhimento, Bergur Alvarsson ser acusado de abuso sexual por Tristan, um dos miúdos do lar.
Cabe a Huldar e Freyja trabalharem juntos, descobrir os culpados e entenderem como os casos podem estar interligados.
A cada resposta surgem mais perguntas e as revelações são cada vez mais surpreendentes.
Desligou a luz ao sair, e estava capaz de jurar que a boneca lhe sorriu.
Será a boneca um mau augúrio, deixando um rasto mortífero por onde passa, ou a solução de todo o mistério?
‘A Boneca’ de Yrsa Sigurdardóttir, apesar de sugerir um toque do sobrenatural e horror, é acima de tudo uma história cativante, repleta de tensão, ‘suspense’, crime e mistério.
There are no comments
Add yoursTem de iniciar a sessão para publicar um comentário.
Artigos Relacionados