“A Casa Entre os Pinheiros”, de Ana Reyes
Et veritas vos liberabit
A Casa Entre os Pinheiros, de Ana Reyes (Singular, 2024), é um thriller psicológico, intrigante, e misterioso, sobre a sua procura incessante pela verdade, mesmo quando todos nos consideram loucos.
Olvidé que era hijo de reyes.
Ana Reyes, autora bestseller do New York Times, detentora de um mestrado em Belas Artes, da Universidade Estatal do Luisiana, e professora de Escrita Criativa, colocou muito de si e das suas experiências, neste thriller.
Um livro que, de certa forma, começou a escrever quando tinha apenas onze anos, e onde a casa aparecia na sua primeira história escrita para um concurso de escrita da Biblioteca Pública de Pittsfield, Massachusetts, onde uma menina se perde e deambula pelo bosque, até que se depara com uma cabana arrepiante.
Vinte anos mais tarde, e muitos poemas depois, a casa volta a aparecer na sua escrita, nas páginas dos seus primeiros rascunhos, nas Oficinas de Escrita da Universidade Estatal do Luisiana.

O sonho começou logo. Acordada, esquecera-se do local, mas a dormir sabia o caminho de cor. A cabana ficava na clareira, rodeada por um círculo de árvores. A porta estava trancada, mas, no sonho, Maya tinha sempre a chave.
Uma das experiências da autora, similar à da protagonista, é o facto de, tal como Maya, ser meio-guatemalteca e ter sentido uma necessidade de criar algo idílico como o lar perfeito pelo qual tanto ansiava e o lar do qual sentia a falta, quando se mudou com a família do Sul do Texas para Nova Inglaterra, deixando para trás membros da família, com os quais era muito ligada.
Tal como Maya, também Ana Reyes estava demasiado presa no seu vício para conseguir entender que tinha ido longe demais. Vendo-se confrontada com a falta da sua medicação de forma abrupta, também ela passou pelas crises de abstenção, e escrever sobre isso serviu como uma forma de terapia.
Segundo Reyes, A Casa Entre os Pinheiros é, acima de tudo, sobre o desejo de voltar a um tempo e lugar onde era feliz, rodeada de amor e carinho. Porém, no decorrer da escrita, entendeu que desejar por tal local é algo sinistro, já que tudo e todos, se alteram, nada estagna, e lar é um local que cada um leva dentro de si.
O enredo dá uma certa sensação de conto de fadas trágico, onde um ideal de lar perfeito e aconchegante, rapidamente adquire contornos obscuros e impactantes. Um conto de fadas no qual Maya é cegamente atraída pela cabana de Frank, tal Hansel e Gretel pela casa doce da bruxa no bosque, com consequências potencialmente letais.
Uma semana antes das aulas começarem, Aubrey morreu.
E a vida de Maya dividiu-se entre o Antes e o Depois.
Maya passou por uma situação traumatizante em mais nova e tem, desde então, lutado contra isso, suprimindo a sua dor, entorpecendo os sentidos com álcool e Clonazepam.
Mas sem receita médica e a sua dealer sem dar sinais de vida, começa a ter crises de abstenção, a sofrer de insónias e, quando, finalmente, consegue adormecer, surgem pesadelos que a deixam ensopada em suores frios.
Após ver um vídeo onde mais uma mulher morre de forma chocante, perto do seu ex-namorado Frank, e a sofrer de crises de abstinência e pesadelos repletos de pistas que Maya não sabe como interpretar, ela decide voltar à sua terra natal e confrontar o passado, tentando desvendar o que realmente sucedeu a Aubrey, e parar Frank de uma vez por todas.
Ninguém podia ter feito nada. Não fora culpa de ninguém. Nem mesmo de Frank.
Mas como era possível que duas mulheres morressem de repente, sem motivo aparente, enquanto falavam com o mesmo homem?
Ela tem a certeza de que Frank matou Aubrey, mas como? Sem provas para justificar as suas acusações, e com os seus antecedentes, torna-se uma testemunha instável e pouco fidedigna.
A situação é tal modo grave, que até Maya se questiona da veracidade do que acredita ter testemunhado.
De uma coisa tem certeza, nos seus sonhos e memórias difusas que, gradualmente, vão surgindo, a única coisa que lhe salta sempre à vista, é a chave da casa de Frank.
Ao encontrar o livro inacabado do pai, Maya começa a juntar alguns pontos entre a realidade do que viveu e as memórias escondidas.
Nas profundezas do bosque, há uma casa que facilmente passa despercebida.
Se olharmos com atenção, surgirá uma faísca. E se soprarmos, a faísca transformar-se-á num lume, uma luz quente nesta floresta escura e fria.
Com um enredo contado em dois tempos – passado e presente-, escrito de forma fluída e coerente, relatado através dos olhos da protagonista, aborda tópicos como o abuso de substâncias, ligações entre mãe-filha, de amizade, ciúmes e inseguranças, mortes inexplicáveis e a fragilidade da mente.
A Casa Entre os Pinheiros, de Ana Reyes, é um thriller psicológico sinistro e compulsivo, sobre os meandros e maleabilidade da mente, e uma busca desesperada pela verdade.
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