A cidade do grunge
Nunca mais uma cidade vai ficar tão intimamente ligada ao mundo da música. Tal como Nova Iorque é a cidade que nunca dorme ou Los Angeles a cidade das luzes, Seattle será sempre a cidade do grunge.
Green River, Mother Love Bone, Mudhoney, Screaming Trees, The Melvins, Nirvana, Alice in Chains, Soundgarden, Temple of the Dog, Pearl Jam… É impressionante a qualidade das bandas que uma cidade conseguiu oferecer num tão curto espaço de tempo. Nunca mais uma cidade vai ficar tão intimamente ligada ao mundo da música. Tal como Nova Iorque é a cidade que nunca dorme ou Los Angeles a cidade das luzes, Seattle será sempre a cidade do grunge.
Grunge… Mas afinal o que é isso?
Nos finais de 80, o rock, enquanto género seguido desde o princípio dos Beatles até ao final dos Pink Floyd, estava estagnado. Como as ideias eram poucas, alguns artistas usavam então maquilhagem, lycra e muitos adereços para o disfarçar… era a fase mais foleira do glam rock. No entanto, eram bandas como Mötley Crüe ou Skid Row que se ouviam na rádio e que esgotavam arenas nos Estados Unidos da América.
Em alternativa a este cenário começaram a aparecer algumas bandas, a maior parte delas provenientes do noroeste americano. Estas bandas, tal como as do glam rock, partilhavam influências vindas do heavy metal, mas foi o noise do hardcore, a irreverência e simplicidade do punk, a forma de compor característica do rock que, quando fundidos, criaram o grunge. Não era só pela sonoridade que estas novas bandas se distinguiam; a atitude e mentalidade eram diferentes, o objectivo não passava por encher arenas mas sim por contactar mais de perto com o público, com o mínimo de barreiras ou artifícios pelo meio. As músicas abordavam temas reais, problemáticas e assuntos com os quais uma emergente onda de jovens se identificava. Muitas dessas bandas eram de Seattle e arredores. A fria e cinzenta cidade que até à altura tinha Jimi Hendrix como marco musical, era agora vista como o sítio ideal para uma revolução cultural.
Noisy! Fuzzy! Grungy!
Foi a editora independente de Seattle, a Sub Pop Records, que começou a massificar o termo ao rotular de grunge music bandas como Green River, Soundgarden ou The Melvins nas suas compilações. Mas foi só em 1991, com o lançamento de “Nevermind”, que o grunge se tornou fenómeno mundial. Os Nirvana, que até ali eram a banda sensação do catálogo da Sub Pop Records, rapidamente captaram a atenção de jovens um pouco por todo o mundo, muito graças à intensa rodagem do videoclip de «Smells Like Teen Spirit» por parte da MTV.
Além dos Nirvana, existiram mais três bandas que contribuiram para a rápida expansão do som de Seattle. Foram elas os Alice In Chains, Soundgarden e Pearl Jam. Devido à forte proliferação por parte dos media, o género rapidamente ultrapassou as fronteiras da cidade do noroeste americano. Qualquer banda de Seattle tinha agora atenção redobrada. Ser grungy passou a estar na moda, as camisas de flanela que faziam todo o sentido nos rigorosos Invernos de Seattle eram agora usadas por todo o mundo.
A indústria discográfica também ganhava novo fôlego e já se procuravam os próximos Nirvana. Fora de Seattle, outras bandas aproveitavam esse facto para progredirem no mercado. Era o caso dos Stone Temple Pilots de San Diego ou dos The Smashing Pumpkins de Chicago. Novamente respirava-se e vivia-se rock. Tudo parecia bem encaminhado, até que um dia, o rapaz que dizia que não tinha uma arma, suicidou-se com uma.
“Hey hey, my my, rock and roll can never die”
Em 1994, e já após o fim dos Nirvana, os Pearl Jam eram o pilar mais sólido da cena musical de Seattle. A banda que foi acusada por colegas conterrâneos de ter apanhado o autocarro do grunge, sem ter que se esforçar muito para obter sucesso comercial. Na verdade, os Pearl Jam foram das poucas bandas que, logo após o boom inicial do grunge, começaram a torcer o nariz à imprensa e à própria indústria discográfica, recusando fazer vídeos ou lançar singles, na tentativa de preservar uma imagem que tinha sido excessivamente explorada no início dos anos 90. A filosofia da banda, que ainda hoje é posta em prática, a entrega, reciprocidade com o público e modo simples de ver a vida, valeram aos Pearl Jam o respeito e dedicação de colegas músicos e da crítica em geral.
Os Pearl Jam nasceram das cinzas dos Mother Love Bone, depois de o vocalista Andrew Wood ter inesperadamente morrido de overdose. Stone Gossard e Jeff Ament, agora sem banda mas cheios de ideias, e já com Mike McCready no alinhamento, mandaram uma demo de 3 músicas para o vocalista dos Bad Radio em San Diego. Eddie Vedder escreveu assim as letras de «Once», «Footsteps» e «Alive», trilogia que ficaria conhecida como “Momma-Son Tape”. Impressionados com a prestação a banda de Seattle, até ali em formação, recrutou o vocalista e em 1991 lançavam o seu primeiro álbum, “Ten”. Tal como aconteceu com as bandas vizinhas, os Pearl Jam alcançaram sucesso comercial muito rapidamente. “Vs.”, o segundo álbum da banda, mostrava isso mesmo ao atingir o valor de 900 mil cópias vendidas numa semana.
Mas nem tudo foram rosas. Após a morte prematura de Kurt Cobain, e do fim cada vez mais certo dos Alice In Chains e Soundgarden, o mercado discográfico ficara lesado e estava disposto a recuperar os lucros. Os Pearl Jam foram alvo disso mesmo, quando se envolveram judicialmente com a promotora norte-americana Ticketmaster. A banda acusava a promotora de monopolizar o mercado da venda de bilhetes e de praticar preços desajustados para a faixa etária em questão. Como forma de protesto, recusaram qualquer recinto que fosse “abrangido” pela Ticketmaster, passando eles próprios a organizar os seus concertos. A luta foi inglória e por volta de 1995 os Pearl Jam estavam há cerca de um ano sem dar concertos. A banda estava desgastada e mais do que nunca precisava afastar-se de uma esfera que outrora fora tão confortável para eles.
Do The Evolution
Se o incidente com a Ticketmaster trouxe alguma coisa de boa, foi separar o trigo do joio. A ausência prolongada dos palcos e a recusa de qualquer publicidade que não fosse a da música, levou muita gente, ainda impulsionada pela onda grunge, a esquecer a banda. Os Pearl Jam deixavam de estar confinados a um rótulo. Com o tempo, com os álbuns e de volta à estrada, a banda foi ganhando uma fiel legião de fãs, os pearljammers. A banda passou a ser conhecida por dar longos e intensos concertos, autênticas festas onde se dançava e cantava até à exaustão.
Em 2000, e já com seis álbuns na bagagem, dão nova chapada na indústria discográfica ao lançarem 72 bootlegs dos seus concertos da tournée europeia e norte-americana nas lojas. Os fãs tinham agora ao seu dispor concertos de alta qualidade a um preço bastante acessível. Esta ideia é hoje praticada na internet por inúmeras bandas.
Mais recentemente, em 2006, lançaram o primeiro disco fora de uma major label. “Pearl Jam” ou “Abacate”, como é conhecido entre os fãs, marcava o fim de uma longa relação com a Sony BMG. Pelo meio ficaram álbuns de culto como o “Vitalogy” ou “No Code”.
A banda que é tão acarinhada em Portugal volta este ano à Europa para 4 concertos, nenhum deles em território nacional. Contudo, prometeram uma tournée mais extensa após o lançamento do novo álbum. Cá os esperamos…
“Hold on to the thread…”
No passado mês de Abril, saiu para as lojas a Deluxe e Super Deluxe Edition do “Ten”. Além da remistura e da re-mixagem do álbum original, o pacote mais completo traz um concerto em formato vinil, DVD da actuação deles para o MTV Unplugged, K7 da primeira demo, a “Momma-Son”, músicas nunca antes editadas, entre muitas outras coisas. A remistura do álbum foi deixada a cargo de Brendan O’Brien. Podemos agora ouvir um dos mais importantes álbuns da década passada de maneira diferente. Ouvir outras coisas, reparar em mais pormenores, perceber de maneira diferente, sentir de outra forma até apaixonar-nos de novo.
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