“A Conferência dos Pássaros” | Farid Ud-Din Attar
O conhecimento interior está à distância de sete vales
Entre os séculos XII e XIII, Farid Ud-Din Attar, personagem cuja vida permanece e muito provavelmente permanecerá um mistério até ao fim dos tempos, escreveu uma obra maior no que diz respeito ao sufismo, entendido como a “pérola do Islão”, que visa a união da alma com Deus.
Em “A Conferência dos Pássaros“, os pássaros de todos os cantos do céu reúnem-se pois é chegada a hora de encontrar um rei. Afinal, se todos os países do mundo têm um rei que os guia e guarda, porque não hão-de os pássaros ter também um? A Poupa, o pássaro com maior dinâmica, propõe para rei Smurg, que vive atrás das montanhas chamadas Kaf. Os outros pássaros, antevendo uma jornada longa, árdua e com demasiados obstáculos para enfrentar, tentam escusar-se, dando cada um uma razão diferente. Mas a persistência da Poupa, que vai desmontando os argumentos invocados por cada um dos seus pares através do relato de histórias que são parte do imaginário de As Mil e uma Noites, convence-os a partir numa arriscada demanda, de onde muitos deles certamente não irão regressar. Terão de atravessar sete vales, ao longo dos quais serão postos constantemente à prova: o Vale da Busca, o Vale do Amor, o Vale da Compreensão, o Vale da Independência e do Alheamento, o Vale da Unidade Pura, o Vale do Espanto e o Vale da Pobreza e do Nada. Porém, para aqueles que consigam cumprir tamanha demanda, a recompensa será maior do que aquela que habita mesmo os sonhos mais felizes.
Apesar de fazer uma ligação directa entre o conhecimento espiritual e o sofrimento – na Invocaçãoinicial relembra-se os anos que Adão passou a lastimar-se, recorda-se o dilúvio de Noé, as torturas infligidas a Abraão ou a cegueira de Jacob, por tanto chorar o filho -, algo que reflecte a concepção religiosa da época, “A Conferência dos Pássaros” é uma bonita fábula sobre a necessidade da busca individual pelo conhecimento interior, onde os ensinamentos para a vida aparecem envoltos numa linguagem que é, toda ela, poesia. «Se quiseres que o oceano da tua alma permaneça num estado de movimento salutar, morre para toda a tua antiga vida e, depois, silencia.»Ámen.
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