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A Dama de Copas e o Rei de Cuba

As comemorações dos 20 anos de vida da Companhia Teatral do Chiado arrancam com uma "amarga comédia" adaptada do texto do brasileiro Timochenco Whebi.

Estreada em Novembro no Teatro Estúdio Mário Viegas, a Dama de Copas e o Rei de Cuba é a mais recente produção da Companhia Teatral do Chiado. Uma adaptação do texto do sociólogo brasileiro Timochenco Whebi, posta em cena pelo director e encenador da CTC, Juvenal Garcês.

Em forma de “pontapé de saída” para a comemoração dos vinte anos da Companhia Teatral do Chiado, Juvenal Garcês referiu esta peça como uma escolha premeditada e uma espécie de homenagem a Mário Viegas. É que este último e o autor de texto, Timochenco Whebi, foram amigos em vida, mas nunca teriam tido a oportunidade de levar o texto de um para o palco do outro.

Já em 22 de Abril de 1974 Raul Solnado tinha levado a peça a cena, que acabou por desvanecer-se três dias depois pelo, concerteza, maior mediatismo e abafo causados pela Revolução dos Cravos, a 25 de Abril desse ano.

O texto, escrito em 1973, foi inspirado na realidade das favelas brasileiras de então e é agora adaptado à nossa cultura: popular, portuguesa, de pessoas, para pessoas… Uma alusão a um quotidiano qualquer, neste caso ao das três figuras da peça, mesmo ali na esquina de algum bairro próximo, nos meandros de uma grande cidade.

Alexandra Sargento (Zinha), Cristina Basílio (Tita) e Pedro Saavedra (Avelino) interpretam as personagens que fazem desenrolar toda a acção da peça num quarto de uma pensão, seguramente ‘sem’ estrelas. Zinha e Tita representam, assim como a divisão decorativa do quarto que co-habitam, almas opostas por valores, princípios e posturas de vida, mas unânimes na luta contra a solidão, busca de felicidade e concretização de sonhos.

Durante o deambular das fantasias, confrontos, ilusões e desilusões das mulheres em cena, a presença ausente de Sócrates, um papagaio já falecido, faz o público indagar o seu propósito na peça para, mais tarde, reconhecer o papel de Ronaldo, o papagaio substituto, que observa e goza toda a acção, de bico fechado.

Sem cair no óbvio e brejeiro que podiam ser, ‘as damas de copas’ percorrem esta viagem com classe, amizade, traição, empenho, humor e sofrimento, até à chegada do ‘rei de cuba’, a personificação do grande sonho de Zinha: Avelino. Mas este vem em forma de charlatão e desfaz, de novo, as projecções cor-de-rosa e fáceis da (pobre) Zinha, a ‘beata’ religiosa, crédula e devota às promessas novelescas de um final feliz.

Já Tita, a ‘mulher bomba’, brava e segura (aspirante a) vedeta da canção, domina o palco com fortes sermões intempestivos e, com a convicção de uma ‘super’ wanna be, abafa a frustração de uma cantora de cabaret de baixa categoria.

Referências a lantejoulas, contrapostas com ícones religiosos, lavagens prestadas por revistas e novelas sensacionalistas mascaradas de Cinderellas, música para sonhar, música para ‘acordar’, superstição, fé, humor e tormento fazem desta peça intimista uma dura realidade, aqui interpretada pela caricatura das personagens que a desvendam.

A verdade que Timochenco Whebi expõe no seu texto de forma subtil, por vezes, e agressiva, noutras, suscita uma crítica austera mas divertida à condição humana e social.

Esta ‘amarga comédia’, em cena até ao fim do ano, não podia ser mais actual e remete para uma intemporalidade social que nem sempre se quer ver… Até ver.



Existem 3 comentários

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  1. brottas

    desde já um obrigado por os bilhetes ganhos aqui no passatempo do RDB…

    a peça e muito boa mesmo…
    adorei, fartei-me de rir…
    com a historia, com as personagens muito bem representadas…
    os cenários estavam simplesmente muito bons…
    vale a pena passarem por lá…


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