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8 1/2 , a Festa do Cinema Italiano

O melhor Cinema Italiano contemporâneo passou por Portugal.

A Rua de Baixo esteve na segunda edição da 8 ½, a Festa do Cinema Italiano que este ano exibiu 20 filmes em estreia absoluta em Portugal. Passaram pelo King, Cinemateca, Instituto Italiano de Cultura, Maxime e no Cinema do Campo Alegre no Porto, mais de cinco mil pessoas.

Houve festas, cocktails, convidados que voaram para Portugal para se darem a conhecer e darem a conhecer o que é o cinema actual do país que hoje apenas se destaca globalmente (e não é pouco) pela indústria da moda, pela tecnologia dos automóveis e, sempre, pela melhor comida que está presente em todos os cantos do mundo. Tal como Portugal, há esforços para fazer ver ao mundo que não se vive de sucessos do passado. O cinema italiano luta por estar vivo, conforme pudemos constatar pelas palavras de alguns dos convidados da festa e já percebemos que, longe da influência que ainda permanece de autores como Pasolini, Antonioni, Fellini, tanto nas obras nacionais como internacionais, há hoje um sem número de realizadores com ideias interessantes, divertidas, pertinentes e que merecem atenção.

Resolvi destacar apenas três filmes, bastante diferentes, usando aliás o critério do programador do festival Stefano Savio: o da diversidade. “Tentei que as minhas escolhas pudessem agradar não só a um público generalista mas também a público para cinema de autor, sempre com o cuidado da qualidade. Tenho pena que muitos filmes tenham ficado fora do festival.” Por aqui também há a lamentar que dos 20 filmes só vamos falar de três e que, dos três, apenas um está em exibição –“O Almoço de 15 de Agosto” de Gianni di Gregorio, não se prevendo o mesmo para nenhum dos outros dois.

“Beket” de David Manuli é pura arthouse made in Italy. 80 minutos de procura incessante de Godot, numa assumida inversão do original em que se espera por Godot. O universo beckettiano está lá todo: o nonsense, o desespero, a angústia, o estar à beira do abismo. Mas neste filme acrescenta-se algo e alivia-se o peso que carregam os personagens deste autor já há muitos anos. Em momentos, a música trance invade o filme e há o prazer hedonista da dança. Afinal, sempre há uma razão para alterar a ortografia do nome do dramaturgo. Segundo o próprio David Manuli, neste filme “Becket toma forma da necessidade de se exprimir livremente, sem regras, e sem auto-censura.” Manuli fala-nos ainda da “união da pobreza produtiva com a riqueza do conteúdo” O cinema italiano revisitou Beckett, a Rua de Baixo (ver edição de Abril) também bebe Becket. Foi um momento muito artsy deste festival.

Mais convencional, imerso em realismo mas com tom de comédia está “A Vida Pela Frente” de Paolo Virzí. Vimos a jovem Marta, licenciada em Filosofia, encontrar o seu emprego num call-center típico: ao mesmo tempo deprimente e divertido. Com colegas chungosas e suburbanas mas com qualidades humanas que nunca imaginou encontrar, com uma rotina que lhe trouxe alguma estrutura e uma visão que viria a inspirá-la para o futuro, nas relações e no trabalho, na vida. A prestação de Elio Germano, ao que parece o actor do momento em Itália mas sem relevo global (por enquanto) é pouco reveladora do seu estatuto. É um vendedor com um papel a lembrar cómicos de outros tempos. De qualquer forma, era intenção de Paolo Virzí praticar o método da comédia tradicional à italiana. Elio Germano foi um dos convidados que abrilhantou a festa, pudemos estar com ele no cinema King.

Deliciosa, deliciosa – tal como deveria estar a pasta al forno que as senhoras puderam degustar nesta película – foi a exibição de “O Almoço de 15 de Agosto” e a presença do seu realizador Gianni di Gregorio. Mais ainda que em Portugal, em Itália os filhos que não casam tendem a permanecer em casa dos pais. Neste caso, por razões financeiras, Gianni, um homem de meia idade e filho único de uma viúva, vive com a sua mãe numa velha casa no centro de Roma. Tiranizado por ela, uma aristocrata em decadência, ocupa o seu dia a fazer-lhe as tarefas domésticas. De repente, devido a um pedido do administrador do condomínio e em troca do perdão de uma dívida, Gianni vê-se a hospedar quatro senhoras de idade, tomando conta delas e establecendo uma relação que é pouco comum ser retratada nas obras actuais, seja cinema ou qualquer outra arte. O resultado é magnífico. O valor sentimental que se pode retirar da relação íntima com os idosos é gigante e neste filme fica provado isso mesmo. Quanto a Gianni di Gregorio, foi um convidado muito simpático que falou sobre de como foi interessante fazer este filme cuja ideia surgiu precisamente porque se colocou a questão de ele próprio vir a viver esta situação. De destacar que “enquanto eu estava já arrasado, queria descansar. As actrizes mostraram sempre grande energia, estavam sempre prontas e arranjadas, dando uma grande lição de vida aos mais novos.” “O Almoço de 15 de Agosto” está em exibição nas salas portuguesas, neste momento.

A Festa do Cinema Italiano é organizada pela Associação Cultural Il Sorpasso, com o Patrocínio da Embaixada de Itália em Portugal. Em 2008 já foi um sucesso, este superou ainda mais as expectativas. Segundo o director do festival Stefano Savio com os apoios das marcas e das instituições, para 2010 vão conseguir manter o mesmo nível. Um bom nível portanto.



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