GigiGriffis

“A Imperatriz” de Gigi Griffis

A Princesa Indomável

‘A Imperatriz’, de Gigi Griffis (Porto Editora,2022), é uma reimaginação do romance entre duas personagens históricas conhecidas, a princesa Sissi da Baviera e o imperador Franz Joseph da Áustria.


Uma nova visão dos dois, como um casal com toques de rebeldia, ideais românticos, e obrigações sufocantes.


Um romance entre uma jovem decidida, de espírito romântico e livre, que aceitou deixar tudo por amor, sem ter noção das consequências, e um imperador aterrorizado com a sua própria mortalidade e impotência política, subjugado pelo poder da mãe, ansioso para quebrar as correntes.

Quero ser um bom imperador. Quero mudar as coisas. E desejava poder ter tudo. Imperador na maior parte do tempo e uma hora por dia para poder ser… eu próprio.

Gigi Griffis não é uma noviça no mundo da ficção histórica, escrevendo já há algum tempo sobre histórias pouco conhecidas e/ou protagonistas femininas rebeldes, tal como Sissi. Porém, ‘A Imperatriz’ é a sua primeira prova no mundo dos romances adultos.


Ao contrário da série da Netflix, cujos eventos vão além do matrimónio, que teve lugar no primeiro episódio, o livro só cobre os eventos que vão desde a insistência de Ludovica em casar Sissi, à ida das princesas de Possenhoffen a Bad Ischl, aos acontecimentos em Bad Ischl até ao casamento.


Este livro é uma mera reimaginação, onde a autora tomou muitas liberdades com a história, e como tal pode não agradar aos que conhecem e/ou estudaram a verdadeira história dos Habsburgo; mas como ficção histórica que é, tem os ingredientes que apelam ao romantismo, personagens falhos, mas desafiantes.

O único senão nesta história é rumo ao final, talvez por ter um tom mais seco, menos carinhoso, comparado com o tom açucarado da primeira parte, bem como o facto de deixar o leitor a pedir por mais, já que termina no matrimónio.

Na primeira parte conhecemos Sissi e Franz, cada um no seu ambiente, os seus feitios, receios, pensamentos e convicções, rumo ao encontro que mudou a história. A segunda parte é mais pesada, com os irmãos de ambos a conspirar, a transbordar de inveja e despeito, o casal está afastado até ao casamento segundo as regras da Corte, existe um reencontro fraco para um casal tão ansioso em voltar a ver-se, uma clara – mas esperada segundo os tempos – violação da privacidade feminina, seguida pela desilusão e antevisão de um futuro bem menos rosa do que Sissi pensava, culminando numa nota mais positiva, mas aberta, o casamento.


Para os espetadores da série que ficaram satisfeitos com o resultado, mas desejem entender melhor os personagens, e as suas motivações, ou para quem deseje conhecer a história da série, antes de assistir, é aconselhada a leitura do livro, pois apesar de cobrir apenas o início do romance, permite ao leitor acompanhar o processo desde que se apaixonaram, o que os levou a apaixonarem-se de forma tão rápida e intensa, bem como os pontos em comum, e os pontos opostos, que os fizeram sentir como um só corpo, quando estavam juntos. Torna a ligação de ambos mais coesa, algo lógico de ocorrer, que vai um pouco além de um mero amor à primeira vista. Os encontros furtivos, propositados ou por acaso, são a força motora da relação entre eles, ainda antes de tal relação existir formalmente, pois são os momentos onde ambos são livres de serem eles próprios sem a influência da Corte e das mães.

Para Elisabeth, só dois cenários seriam possíveis: ou teria um grande amor, ou amor nenhum.

E é assim que somos apresentados à jovem Princesa Elisabeth ‘Sisi’ da Baviera, de 15 anos, e ao seu romance com o Imperador Austríaco, Franz Joseph, de 23 anos.


Poetisa, alma livre e indomável, Sissi não quer casar-se por dever ou obrigação, e é esse o motivo que a faz afastar todo e qualquer pretendente que a mãe, a Duquesa Ludovica, lhe tenta impingir.


Com a pressão familiar ao rubro, a mãe chega a um limite na sua histeria, e está disposta a que nada, nem ninguém, possa arruinar os planos de casamento entre a Princesa Helene ‘Nene’ da Baviera e Franz Joseph. O matrimónio é um esquema organizado por ela em conjunto com a irmã, a Arquiduquesa Sofia, e Sissi é uma carta solta no baralho, que pode colocar tudo em risco. 


Com o pavor de que algo suceda à irmã, Nene planeia levá-la como acompanhante a Bad Ischl, para o seu noivado, na esperança que se apaixone por alguns dos príncipes que vai conhecer por lá, e assim acalme a ira da mãe de ambas.


Porém, o que Nene desconhece, é que será precisamente a sua escolha, que irá mudar o destino de todos os envolvidos.

Não estás a morrer, Franz. Não estás em perigo.

Franz Joseph, vive atormentado por pesadelos após o ataque sofrido por rebeldes, que quase o matou.


Sufocado pelo medo, após ser confrontado com a sua própria mortalidade, e pressionado pelo dever, anseia por um pouco de liberdade. Entre as pressões para modernizar o seu Império e tomar um lado na guerra iminente entre a França e a Rússia, perde a única liberdade que detinha – escolher não casar -, e cede ante a insistência da sua mãe em cumprir os seus deveres imperiais, devendo então casar-se com a dama escolhida pela mãe, e assim dar herdeiros ao Trono.


Com a última liberdade que possuía retirada, Franz acede a pedir a mão da sua prima, Nene, durante as celebrações do seu aniversário, mas nada o tinha preparado para o furacão que iria entrar na sua vida e no seu coração.


As emoções estão ao rubro, tudo parece estar a correr mal para a duquesa e Nene. Nervosas e irritadas, descontam a sua raiva em Sissi, levando a mesma a escapulir-se, a distrair-se longe de toda aquela loucura.

Elisabeth observou em silêncio a forma como ele passava a mão pelo pescoço da égua, enredando os dedos na crina, desembaraçando-a e alisando-a. (…) Havia algo de extremamente ternurento no modo afetuoso como ele tocava na égua. Algo de familiar naqueles ombros largos, no cabelo loiro. Perguntou-se quem poderia ser.

A realização de quem ele era, fê-la esconder-se, mas não antes de ter sido igualmente espiada pelo Imperador. A visão de Sissi, doce, protetora do pássaro que tinha nas suas mãos, enfeitiçou-o por instantes e a breve conversa entre ambos derrubou as suas barreiras, permitindo-lhe rir pela primeira vez em muito tempo.


Vê-la libertar o pássaro, fez Franz Joseph imaginar como seria se tivesse esta mulher ao seu lado, ao invés de Nene.


O que se segue, são alguns encontros de acaso que só acabam por fortalecer os elos entre Franz e Elisabeth, apesar da resistência da família, e de ambos, em aceitar o inegável.


Cabe aos dois decidirem cumprir o dever perante as suas famílias e o Império, sacrificando o coração, ou arriscar tudo por amor.

Nada disso importava.

Elisabeth escolhera o seu caminho, e o sorriso pueril na expressão de Franz acalmou-lhe o coração. Tinha encontrado o seu grande amor, e lutaria por ele se necessário fosse.

‘A Imperatriz’, de Gigi Griffis, é uma nova versão de Sissi, não tão romantizada como os filmes de Ernst Marischka, mas com toques de fanfic, algo como um cruzamento dos livros de Allison Pataki com a verdadeira história dos Habsburgo. No todo, a essência está lá, o elo entre o casal, o amor à primeira vista, o desafio à Corte em prol do amor e da pátria, a decisão que iria mudar tudo e todos.

Como seria simples se o dever e o desejo estivessem no mesmo trilho.



There are no comments

Add yours

Pin It on Pinterest

Share This