“A Livraria dos Pequenos Milagres”, de Mónica Gutiérrez

O que importa é desfrutar do caminho

A Livraria dos Pequenos Milagres, de Mónica Gutiérrez (Marcador, 2024), é um livro que deixa uma sensação de bem-estar, com personagens com uma essência especial, entregue num tom terno, leve e doce. Uma história sobre amizade, companheirismo, amor, e alguns segredos e mentiras.

Mónica Gutiérrez, autora espanhola, é uma escritora, jornalista, historiadora e leitora crónica apaixonada.

No seu blog pessoal (monicagutierrezartero.com), além de organizar viagens culturais e de recolher as opiniões dos leitores sobre as suas obras, dá as suas opiniões sobre livros e deixa sugestões para quem a segue.

Além de A Livraria dos Pequenos Milagres, entre as suas obras podemos encontrar Una Navidad Escocesa (2023) e Club de Lectura para Corazones Despistados (2023).

Em A Livraria dos Pequenos Milagres, Gutiérrez, cria um ambiente relativamente tranquilo, transportando o leitor para o interior daquela livraria maravilhosa, de porta azul, chão de madeira, com a sua cúpula para observar as estrelas; faz referência às mais variadas obras e usa citações das mesmas, cria personagens adoravelmente reais, além de conduzir o leitor numa tour literária por Londres, através dos olhos de Agnes, que vai referindo detalhes históricos, os tesouros escondidos, as ruas e livrarias que encantam.  

Edward, o livreiro espirra-canivetes, o coleccionador despistado de livros ilustrados, o único habitante do planeta que era senhor da Lua a tempo inteiro (…) aquele misantropo ensimesmado e maníaco, era ainda capaz de a surpreender.

Edward Livingstone, é um livreiro resmungão, de cara presa, mas de coração de ouro, apaixonado por livros, pela sua livraria e por Sioban Clark, a editora que o fascina e apaixona.

Agnes Martí, uma jovem arqueóloga espanhola, ruma a Londres em busca de trabalho, mas sem sorte na sua área, num dia chuvoso, acaba por entrar na “Moonlight Books”, onde um senhor Livingstone fica encantado pela presença da jovem, que alheia a tudo, passeia descalça sobre o pavimento da livraria enquanto inspeciona os livros. Quis o destino que o senhor Livingstone necessitasse de uma ajudante na livraria, que além das suas funções de livreira, conseguisse manter o jovem Oliver Twist ocupado.

Mantendo a sua procura ativa por trabalho na sua área, mas sendo agora funcionária da “Moonlight Books”, com o tempo, Agnes vai-se encantando pela livraria, pelo jovem potencial astronauta, por Sioban e pelo seu patrão rezingão.

Quando o livro que Agnes tanto admirava, desaparece, surge um novo interveniente para jogar, o detetive John Lockwood, da Scotland Yard.

Suave e discreto como um elefante numa loja de porcelana, John não queria assustar ninguém, mas uma breve troca de olhares mudou tudo.

Agradou-lhe aquela livraria repleta de livros, com os seus pavimentos de madeira e paredes de tijolo quase ocultas pelas altas estantes. (…) John ficou surpreendido ao dar por si a pensar que, se todas as livrarias da cidade tivessem um Oliver Twist no primeiro andar e uma bela livreira descalça no rés do chão, as suas vendas melhorariam.

Além de uma grande crise de identidade de Agnes, o destino acena-lhe com um detetive que ela julga considerá-la culpada do furto.

Mas será realmente esse o seu receio no que toca a John Lockwood, ou Agnes teme perder algo mais do que a sua liberdade?

A Livraria dos Pequenos Milagres, de Mónica Gutiérrez, é, tal como nas palavras de Agnes, um livro feelgood, uma “história em que não acontece nada de extraordinário, cujos protagonistas não são grandes heróis (…) em que a felicidade se mede em pequenos momentos e se encontra nos gestos mais quotidianos”. Uma história simples em execução, mas de aquecer o coração.

Vai correr tudo bem. Mas mesmo que não corresse, mesmo que derrubasse a tua vida inteira, como aconteceu com a parede desta cozinha, quero que te lembres de que até das ruínas do maior dos desastres podem nascer arquiteturas tão extraordinárias como esta.