A MARCA DE UMA LÁGRIMA
AUTOESTIMA NÃO TEM NADA A VER COM APARÊNCIA
Escrito pelo romancista brasileiro Pedro Bandeira, a Marca de Uma Lágrima é uma adaptação livre da obra Cyrano de Bergerac, porém se passando na atualidade e contando a história de quatro adolescentes.
“Isabel se acha feia. Será mesmo? Ou somente ela acha isso? Escreve cartas e versos para ajudar o namoro de Rosana, sua melhor amiga, com Cristiano, seu grande amor. Por causa da beleza e da verdade de suas cartas, Cristiano mais se apaixona por Rosana e mais aumenta a desesperança de Isabel. Sua situação agrava-se ainda mais com a morte da diretora da escola, pois a jovem é testemunha de que aquele aparente suicídio seria na verdade um bárbaro assassinato.” – diz a sinopse do livro.
Lançado originalmente em 1985, esta obra se trata de um romance infanto juvenil destinado aos adolescentes e com todos os dramas que essa fase da vida pode passar. A protagonista, Isabel, não é nem um pouco satisfeita com sua aparência, sendo um grande motivo de sofrimento por não estar em o que ela considera um padrão de beleza, algo que mesmo se ela tivesse momentos felizes, como ter uma mega semana viajando com os amigos, não mudaria seu estado interno. “O espelho é meu pior inimigo”, com diversas frases reclamando sobre ter as espinhas saltando em seu rosto, ou por estar um pouco acima do peso e ela se considerar “gordinha”.
No entanto, o próprio livro dá a entender que isso se tratava apenas dos sentimentos dela, já que, aparentemente, não existia nada “de errado”, tanto que há um outro menino na história, o Fernando, que persegue ela e se demonstra bem apaixonado por ela. O curioso é que ela não se interessa por ele, evidenciando que, no fundo, estamos sempre insatisfeitos e somos seres desejantes, se aproveitando também da frase de Jacques Lacan que diz que “somos destinados a incompletude, e é isso que nos faz caminhar”. O clímax no final do livro também permeia esse sentimento.

Já o nome do livro é “A Marca de Uma Lágrima” porque seu primo, Cristiano, namora com sua melhor amiga, Rosana, sendo que esta não percebe os verdadeiros sentimentos de Isabel. Como a protagonista é boa com as palavras, sua melhor amiga pede para que ela escreva cartas românticas como se fossem dela e Isabel, por sua lealdade, acaba aceitando a condição. No entanto, as frases de amor escritas representavam os sentimentos dela mesma e, todas as vezes que escrevia, ela acabava derramando lágrimas em seus textos.
Além disso, o fato dela ser a testemunha da morte da diretora de sua escola deixa uma espécie de “bom desconforto” que estimula a nós continuarmos a lendo até entendermos como será o desfecho dessa história. Uma espécie de suspense que funciona como uma subtrama que fortalece, ainda mais, a história principal.
É verdade que, em muitos momentos, a Isabel sofre em demasia, o que pode levar a muitos leitores a se sentirem angustiados ou até não gostarem tanto da história, parecendo que estão assistindo a um melodrama mexicano. Por outro lado, a leitura é tão gostosa e o texto é tão bom de acompanhar que acaba valendo, sendo que muitos irão se identificar com os dramas da protagonista.
Pedro Bandeira consegue ser conciso e detalhista ao mesmo tempo, arrumando um meio termo em que temos as informações necessárias para compreender o enredo. Não é enfadonho por “escrever todos os detalhes”, e também não é superficial. Talvez este estilo de escrita se deva ao fato dele ter cursado Publicidade na Universidade de São Paulo, e ter trabalhado durante anos no jornal Última Hora, de Samuel Wainer, e depois diversas revistas onde escrevia matérias.
Para finalizar esse texto, deixo uma poesia escrita pela Isabel.
“E o meu amado o que diria
se eu partisse?
O que diria se estes versos
não ouvisse?
O que teria em suas mãos
senão um corpo dessangrado
cheio de carne, de suspiros,
de delírio apaixonado?
Faltaria, porém, o recheio das idéias,
a loucura e a razão,
que transforma um encontro sem graça
em tremenda paixão!
Mas não tema o meu querido
que esse amor desapareça,
pois ele é amado ao mesmo tempo
por um corpo e uma cabeça.
O corpo ele pode beijar, cheirar,
fazer do corpo mulher.
Mas a cabeça o possui, manipula,
e faz dele o que quer!
Haja o que houver, do meu amor
esse garoto foi o rei.
Digam a ele que com corpo e cabeça
eu sempre o amarei.
A marca desta lágrima testemunha
que eu o amei perdidamente.
Em suas mãos depositei a minha vida
e me entreguei completamente.
Assinei com minhas lágrimas
cada verso que lhe dei,
como se fossem confetes
de um carnaval que não brinquei.
Mas a cabeça apaixonada delirou
foi farsante, vigarista, mascarada,
foi amante, entregando-lhe outra amada,
foi covarde que amando nunca amou!”
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