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A morte do Príncipe

Esperança sem concretização.

Este príncipe não é um das histórias de encantar, também não é da realeza e nem sequer é real. É actor. É actor num metateatro por si assumido e envolvido numa teia de textos que cruzam Hamlet de Shakespeare, A Máquina de Hamlet de Heiner Müller e A Morte do Príncipe de Fernando Pessoa. Ricardo Boléo apresenta mais um prolongamento de Hamlet num enredo complexo e com um casal em cena- “Adão e Eva num campo de concentração, numa Europa infértil”.  Adão e Eva correspondentes a Hamlet e Ofélia, personagens aqui usadas para manifestar uma descrença na Europa.

A pouca luz e imagem cénica (a partir do olhar do espectador) construídas inicialmente, criam um ambiente propício para um príncipe onde o chão confunde-se com um imenso tapete felpudo que na verdade é feito de terra. A peça inicia de um modo ilusório que caminha para uma realidade crua. Em torno do príncipe Hamlet, este trabalho é muito assente no exercício da retórica com um texto denso patente na decadência de valores políticos e ideológicos. De tal maneira, que acaba por sugar o trabalho de interpretação. O foco no texto distrai o trabalho de palco que carece de dinâmicas de tempos entre cenas. A peça reúne boas ideias que em excesso, tornam-se confusas. O jogo de troca de géneros, a nudez feminina que acompanha um discurso de transformação e revolta são exemplos,  que surgem de um contexto imagético pouco perceptível. O crescente emocional do texto ganha face ao conjunto de imagens cénicas.

A Morte do Príncipe é no seu todo uma metamorfose de uma sociedade supostamente civilizada que se está a converter em máquina e que nos remete, especialmente no fim, para a célebre Ode Triunfal do mais inconstante dos heterónimos de Pessoa. Um trabalho que agrega um ideal muito forte, mas onde o próprio uso da palavra a afasta do seu estado de maturação.

cartaz

 

27 Outubro a 20 Novembro
4ª a sábado – 21H45 | domingo 17H | M16 | 60m

A partir de Fernando Pessoa, Heiner Müller e William Shakespeare
Encenação e dramaturgia Ricardo Boléo
Interpretação José Condessa e Lídia Muñoz
Assistência de encenação Sara Boléo
Desenho de luz Miguel Cruz
Desenho de som Márcio Ferreira
Criação de vídeo Gonçalo Fabião e João Calviño
Confeção de Figurinos Fernanda Serra
Fotografia Tomás Monteiro
Design Salvador Figueiredo



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