A Senhora do Dubuque
IDENTIDADE INTRIGANTE.
Estreou em Portugal o espetáculo “A senhora do Dubuque” a partir da peça The Lady From Dubuque, de Edward Albee. Esta encenação, a cargo de Álvaro Correia, reúne um elenco de caras conhecidas do público que nos retrata um grupo de amigos cujas relações não são as mais amistosas.
A primeira parte debruça-se à volta de um jogo, que dá ponto de partida para a grande questão existencial: “Quem sou eu?”. Na segunda parte, aquando da entrada da então Senhora do Dubuque e do seu fiel companheiro Óscar, essa questão torna-se persistente e até desesperante, principalmente para Sam, personagem que aqui tem a dedicada performance de Fernando Luís.
Sam, é um marido que acompanha a sua amada esposa numa fase terminal de vida. Os seus sentimentos são colocados à prova e levados ao limite com a entrada da personagem que dá nome a este espetáculo e que se apresenta de um modo enigmático, como quem traz um prenúncio de mau agoiro. A sua identidade permanece uma incógnita, deixando esse exercício de descodificação à mercê do público.
A estrutura e criatividade do texto, tendo em conta que a peça está relacionada com uma fase da vida do próprio autor, e a forma com interage com o público – quebrando a quarta parede – é surpreendente! E, como tal, deve-se a Edward Albee, dramaturgo escolhido não só pelo encenador e ator (interpreta Edgar) mas também pelas atrizes Manuela Couto (que interpreta Jo, esposa de Sam) e Cucha Carvalheiro (que aqui dá vida a Elisabete – a Senhora do Dubuque).
Quanto às opções textuais neste espetáculo e, em particular na primeira parte, acredito que se poderia ter optado por cortar algumas falas, um tanto acessórias para a compreensão da narrativa.
A longa duração da cena do jogo entre amigos retira ritmo à trama, havendo inconstâncias emotivas que, subitamente, oscilam entre a calmaria e a fúria. As alterações de humor compreendem-se depois de nos familiarizarmos com a complexa convivência entre as personagens. Todavia no momento em que assistimos, há uma certa resistência em acreditar na impulsividade dessas reações.
Felizmente, a parelha formada por Cucha Carvalheiro e Alberto Magassela (Óscar) surge como uma lufada de ar fresco depois de um maçador encontro entre amigos. A dúvida que paira em redor destas personagens é o isco que nos mantém atentos até ao desfecho, mas o talento dos atores para provocar o riso é o tempero necessário para desfrutarmos desta encenação.
Quanto a questões técnicas, destaco o trabalho de Nuno Carinhas nos figurinos e na cenografia. Os figurinos apresentam todos um traço muito distinto, especialmente o vestido usado pela protagonista. Apresenta-se em cena com uma peça de corte intrigante, passível de causar uma certa cobiça, tal é a sua elegância. A cenografia-casa, com destaque para a parede amarela – cor associada à felicidade – e tendo em conta que é o elemento cénico com que o público se depara de imediato, funciona como uma espécie de filtro para disfarçar os defeitos das relações do grupo e da doença de Jo. O que aparenta ser perfeito visualmente, contrasta, então, com a complexidade da existência humana.
Para os que ficaram curiosos, têm até dia 21 de abril a oportunidade de assistirem a esta encenação na belíssima sala Carmen Dolores no Teatro da Trindade.
FICHA TÉCNICA
De: Edward Albee
Tradução: João Paulo Esteves da Silva
Encenação: Álvaro Correia
Com: Alberto Magassela, Álvaro Correia, Benedita Pereira, Cucha Carvalheiro, Fernando Luís, Manuela Couto, Renato Godinho e Sandra Faleiro
Cenografia e figurinos: Nuno Carinhas
Desenho de luz: Manuel Abrantes
Assistente de encenação: Bruno Soares Nogueira
Assistente de cenografia: Henrique Pimentel
Construção de cenário: Buril Workshop
Produção executiva: Nuno Pratas
Assessoria de imprensa Culturproject: Mafalda Simões
Produção: Teatro da Trindade INATEL e Culturproject
CONVERSA COM O PÚBLICO
17 MAR /Dom. após o espetáculo
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