Action for Age / Efeito D
Projectos especiais da EXD 09 na Fundação Calouste Gulbenkian.
O Design de Serviços esteve em destaque em mais um dia da Semana Inaugural da Experimenta Design. Action for Age e Efeito D, dois projectos especiais de intervenção social e humanitária, foram apresentados na Fundação Calouste Gulbenkian.
Action for Age, um projecto com a parceria da EXD, Royal Society for the Encouragement of Arts, Manufacturers and Commerce (RSA), do Reino Unido e a Fundação Calouste Gulbenkian, procura tratar o fenómeno do envelhecimento generalizado da população à luz de uma tipologia de Design relativamente recente, o Design Social.
Sendo encarado como um dos grandes desafios do século XXI, o envelhecimento generalizado da população coloca diversos problemas de ordem social e propõe um desafio enorme no âmbito do Design Humanitário. O design enquanto “grande disciplina operativa do novo século”, como definiu Guta Moura Guedes, procura então encontrar soluções práticas, antecipar problemas.
“Pretendemos substituir produtos por serviços. Trata-se da concepção de redes que muitas vezes partem de serviços já existentes, não constituem necessariamente o surgir de novos serviços, mas pretende-se justamente potenciar e interconectar esses serviços, incorporando-os no processo do design”, explica Rita Filipe, designer nacional e uma das coordenadores de uma equipa de jovens deisgners, no âmbito de Action for Age. “Esta àrea de intervenção e o consequente processo de trabalho são uma novidade para os estudantes e profissionais de design em Portugal. A ideia é reorganizar os sistemas em função das necessidades contemporâneas. O foco está nas pessoas e na observação de comportamentos para a aferição de necessidades. O que é surpreendente no design é que uma metodologia se pode aplicar a diversas àreas. Temos de ver as pessoas de idade não como membros sem utilidade, mas como especialistas, como pessoas que têm imenso para ensinar”.
Funcionando como um laboratório criativo que opera simultaneamente em Londres e Lisboa, este programa envolve alunos finalistas de Design a quem foi lançado o desafio de criar soluções que possam constituir mais-valias na melhoria da qualidade de vida dos idosos. “O interesse pelo envelhecimento é, de certa forma, egoísta, porque vamos todos ser idosos um dia, vamos acabar por usufruir destas pequenas remodelações e desta reflexão”, diz um dos jovens designers ingleses envolvidos no projecto. No entanto, Emily Campbell, Directora de Design da RSA, acredita que “os designers e o processo de trabalho podem ajudar os cidadãos a serem mais auto-confiantes e a encontrarem novos recursos, levando-os a exercer uma boa cidadania. O que já existe pode ser usado de novas formas, pode ser feita uma reconfiguração.”
As equipas portuguesa e britânica aliaram-se na implementação de um projecto-piloto na Graça, intitulado “Histórias de Graça”, cujo resultado foi apresentado ontem na Fundação Gulbenkian. Pelas palavras de Guta Moura Guedes, a escolha prendeu-se com o facto de se tratar de”um bairro múltiplo. Não é demasiadamente pobre nem demasiadamente multi-ético. Os idosos são de todas as formas e feitios”. Segundo a mesma, o design deve “começar a ser cada vez mais utilizado para apoiar as camadas mais frágeis da sociedade”.
Para isso, “é necessário convocar a comunidade criativa e o seu poder e energia e chamar os seus membros para se tornarem mais activos. Este trabalho dirige-se à população já idosa e com problemas muito específicos relacionados com o isolamento e a solidão, mas existem muitos outros temas nesta área que devemos tratar. É o principio de um projecto que deverá evoluir ao longo do tempo.”
Mas não ficamos por aqui. Da autoria da BBDO Portugal e de uma co-produção pro-bono com a EXD foi também apresentada Efeito D. O síndrome de Dow – ou Trissomia 21- é um distúrbio no código genético, o que cria pessoas diferentes. A Associação Diferença, um centro de desenvolvimento infantil especializado em crianças com Síndrome de Down, tomou o design como uma disciplina capaz de materializar essa diferença e desafiou designers nacionais e internacionais a criar objectos que contivessem no seu código genético esses defeitos que os tornam únicos.
Destinados a angariar fundos e visibilidade para a associação, esses “objectos geneticamente alterados” que fazem parte da mostra destinam-se a uma posterior venda que ajudará a suportar as despesas de financiamento da ONG. Através da criação de uma nova marca de peças de design “deixamos de ter por utopia a valorização das diferenças. Efeito D é uma mudaça de paradigma”, disse Miguel Palha, médico Pediatra.
Na Fundação Calouste Gulbenkian poderemos ver peças como “Espelho Meu”, de Naulila Luís, um colar feito a partir de espelhos que reflecte o mundo à nossa volta e que tem como particularidade “a reflexão e a distorção do real” ou ainda a “T-shirt Efeito D”, dos designers Alves e Gonçalves, uma t-shirt que tem impressa no lugar do coração uma mão de criança com Trissomia 21, com uma única prega na palma da mão em vez de duas, característica deste problema genético. Uma iniciativa que reforça a afirmação da Directora da Bienal, Guta Moura Guedes: “O Design pode mesmo servir para mudar o mundo”.
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