Adam Green @ Club Lua

Juventude em marcha.

Não, não é do novo filme do Pedro Costa de que vamos falar nas próximas linhas, mas antes da passagem do cantautor norte-americano Adam Green por Lisboa, no passado dia 25 de Novembro, um dia depois de ter fechado a primeira noite do Festival Para Gente Sentada, em Santa Maria da Feira.

Talvez devido a muito do seu público já o ter visto no dia antes nesse festival, o Club Lua esteve a metade para receber Adam Green, em estreia absoluta na capital portuguesa. No entanto, como aquele também não foi um concerto normal – ou, pelo menos, convencional – , tal facto não passou apenas de um pormenor.

Foi então um jovem de fato desalinhado, aparentemente perdido no álcool e com uma postura irresponsável pela música, que subiu ao palco do Club Lua. E o problema de tudo isto? Foi termos gostado bastante.

De facto, a atitude de Green ao vivo não é a mais profissional. Este assemelha-se a uma jukebox escangalhada, que de vez em quando necessita de um pontapé para trabalhar: ri durante as músicas quando se engana, não tem um alinhamento pré-definido e vai tocando o que se lembra, acede facilmente aos pedidos do público, tenta falar português reproduzindo aleatoriamente frases retiradas de um pequeno guia de bolso e diverte-se. Diverte-se muito.

O público também se diverte, interage com o autor e deixa-se contaminar pelo à-vontade e pelos feelgood moments daquele concerto. Contudo, imagino que, para aqueles que não sabiam ao que iam, o concerto possa ter sido desagradável, irresponsável e muito pouco profissional.

É também por isto que Adam Green continua a ser visto por muitos como um miúdo canastrão, que se diverte a encaixar umas letras parodiantes e escatológicas em melodias de estética songwriter. Não é ser espertalhão, é antes a ingenuidade e a acidez própria da sua juventude. Adam Green é um adolescente que, provavelmente, tem tido uma vida boa e muito pouco com que se queixar; por isso, que mal tem que queira cantar que “gosta de drogas” («Drugs») ou que “acha que não faz mal foder uma rapariga sem pernas” («No Legs»)? Além disso, Adam Green também não tem culpa que tenha ganho reconhecimento internacional com uma canção a criticar Jessica Simpson («Jessica»).

Para quem estava à espera que Adam Green viesse apresentar o seu último álbum de originais, “A Jacket Full Of Danger”, enganou-se redondamente. Despindo as suas composições à equação mais simples de todas – voz (e que voz, atingindo os tons de barítono com uma facilidade incrível) mais viola acústica –, Green percorreu os seus quatro álbuns de originais, saltando de música para música à medida que mais lhe convinha. Começou com «Gemstones», tocou «Carolina» a pedido de um rapaz que assistia na primeira fila, revisitou «Crackhouse Blues» com um novo ritmo e até improvisou «Hey Dude», canção que confessou não saber tocar, mas que fez o esforço por ser um “tema bem simpático”.

Neste tipo de concertos, muitas vezes o problema vem da pouca educação do público, que faz muito barulho, sobrepondo-se o ruído da sala ao do palco. Aqui, o que aconteceu foi bem diferente: o ruído dos bares circundantes invadiu o espaço e por momentos sobrepôs-se ao do concerto. Adam Green não se fez rogado e com um à-vontade desajeitado começou a rappar ao microfone, terminando em uníssono com «Can’t Touch This», de MC Hammer, por entre palmas e risos.

Adam Green ainda voltou ao palco por três vezes, a pedido do público. E no final apenas ficou a faltar o ritmo contagiante de «Nat King Cole». Mas também só faltou porque ninguém lhe pediu.



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