Alex D’Alva Teixeira
Não é um projecto. Quem é então?
Ouvimos uma bateria sincopada e um riff que podia ser dos Bloc Party, os de “Silent Alarm”. Mas não é. É Alex D’Alva Teixeira a revelar «3 Tempos», a canção que apresenta o EP “Isto não é um Projecto”. Alex é um artista deste tempo, trata as redes sociais por tu – tem página no Facebook, um tumblr, um blogue e responde aos comentários no Youtube. No dia em que partilhou o vídeo da já citada canção, o feed da conta de Facebook aqui do escriba encheu-se de partilhas.
Alex D’Alva Teixeixa, melómano, designer, músico e fã das Spice Girls não é um projecto. Fomos descobrir quem é.
O que é que não é um projecto, o Alex ou o EP?
Esta parece uma maneira engraçada de começar. Eu sou o Alex e sou um rapaz. Acho que o EP talvez seja o projecto, teve de ser devidamente pensado e planeado.
E se não é um projecto, o que é?
Então, eu gosto de me apresentar como um miúdo que escreve canções. A ideia de dar este nome ao EP surgiu quando eu e os meus amigos reparámos que as pessoas começaram a falar sobre o “projecto Alex D’ Alva Teixeira” e achámos piada porque estavam a falar sobre uma pessoa e não sobre um colectivo. [Assim,] achei graça dar um nome ao EP que formasse a frase “Alex D’ Alva Teixeira Não É Um Projecto”.
Tens um blogue no qual divulgas a música que mais te toca. Melómano antes de músico?
Sou de facto apaixonado por música, mas não sei se existe uma ordem em que a minha melomania se sobrepõe à música que faço (ou vice versa). Comecei a escrever sobre a música que ouvia no meu blogue, porque enviava emails a alguns amigos nos quais falava da música que ia ouvindo. Quando dei por mim a fazer isso com alguma regularidade resolvi começar a partilhar essa música através do Blogspot em vez de continuar a enviar emails privados. Passo o dia todo a ouvir música, se não tenho canções a tocar dentro da minha cabeça. Acho que a existência deste blogue era inevitável. Não escrevo com o intuito de criticar música, quero somente partilhar música, seja ela de uma loira da pop britânica ou de uma banda de hardcore de Atlanta.
Esse amor pela música parece ser algo transversal à FlorCaveira. Nem todos os músicos têm essa sede pela actualização, mas os músicos da FlorCaveira não têm problemas em deixar de mostrar a música que os influencia e aquela última banda “x” que os deixou de queixo caído. Concordas?
Confesso que não sei responder bem a esta questão, posso responder apenas por mim. Ouço muita música diferente e por isso mesmo prefiro nem a catalogar, até mesmo para eu próprio não ficar muito confuso. Há quem diga que sou uma esponja, ou seja, estou sempre a absorver música nova e nem sequer tenho grandes critérios. Gosto de imensos timbres, ritmos, e abordagens diferentes. Por exemplo, nunca tive vergonha de admitir que as minhas bandas preferidas são as Spice Girls e os Underoath. Eu gosto mesmo de música e é isso. No início, quando comecei a escrever canções, queria imitar tudo o que ouvia e algumas das minhas influências eram muito óbvias. Foi importante ter o Ben a produzir a minha música porque ele perdeu muito tempo a abstrair-me de todas as minhas influências e focou-se primeiramente em encontrar a minha essência em cada canção. Só depois de perceber quem é o Alex é que ele começa a explorar todas as estéticas diferentes que servem as canções. Continuando a falar das minhas influências: fico sempre feliz quando posso dizer que tenho na minha banda membros das minhas bandas favoritas. Para além do Ben, também posso contar com o Vitor Hugo Azevedo e o Ricardo Ramos (tocavam nos Iconoclasts) e o Gonçalo de Almeida [que] tocava com o Tiago Guillul e em outras bandas de que gosto imenso.
Samuel Úria e Tiago Guillul desfazem-se em elogios, Ben Monteiro dos Lacraus toma conta da produção. Foste tu quem foi ter com a FlorCaveira ou foi a FlorCaveira que veio ter contigo?
Tenho de admitir que sempre quis ter um disco editado pela FlorCaveira. Apesar de os conhecer e de ter tido o grande privilégio de tocar com o mestre Tiago Guillul, eu e o Ben trabalhámos bastante para que a FlorCaveira mostrasse interesse e felizmente resultou. Existiram ofertas de outras editoras, mas era a FlorCaveira que queríamos desde o início.
Como surge a ideia de ser Ben a produzir o EP?
Eu conheci o Ben há muito tempo, quando ainda tocava na minha primeira banda. Gostava muito de uma banda da qual ele fazia parte e [ele] organizava festivais na Moita para que as nossas bandas pudessem tocar juntas. Fomos mantendo o contacto e ficámos amigos. Quando essa minha banda acaba, o Ben lança o desafio de gravar as canções que eu tinha escrito e editar em nome próprio. Desde então temos trabalhado sempre juntos. Ele acreditou no meu talento, ensinou-me muita coisa e fez-me crescer imenso enquanto artista. É ele quem cuida de toda a produção, gravação e arranjos. Tenho a certeza de que sem a sua ajuda as coisas não estariam a correr tão bem como estão agora.
Dá para associar o Design a este EP ou associação fica-se apenas pela primeira canção do registo?
Creio que é possível, na medida em que o design é uma área criativa que tem metodologias de trabalho um pouco semelhantes às da música. A canção descreve um pouco daquela sensação assustadora de começar uma coisa nova na tua vida e isso acontece comigo quando abro o meu programa de desenho vectorial favorito e tenho uma tela em branco. Ou quando tenho de escrever uma letra nova e tenho uma folha vazia. Mas em todas estas coisas só custa começar, depois as coisas vão-se compondo.
Um Blogue, um Tumblr, uma página no Facebook, conta no Bandcamp… Um projecto na música já não vive sem as redes sociais?
Acho que quem faz música e a quer partilhar não dispensa a utilização da Internet. Pessoalmente, acho que a minha vida não seria a mesma coisa se eu não utilizasse a Internet. Tenho que confessar que passo grande parte do meu tempo em frente ao computador e houve uma altura em que eu seguia mais de mil blogues no tumblr e passava cerca de seis horas diárias no twitter. Hoje tenho de ter algum domínio próprio para conseguir gerir melhor o meu tempo e atenção. Eu gosto imenso de partilhar as coisas que faço e as coisas de que gosto e é na Internet que encontro música nova, leio os contos e poemas que mais gosto e também mantenho o contacto com os amigos e a família que está longe. A Internet oferece-me muita coisa e dá-me a oportunidade de oferecer alguma coisa às pessoas.
Fotografias por Vera Marmelo
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