alkantarafestival_2018

Alkantara Festival 2018

Começa hoje o Alkântara, festival que ao longo de quinze edições ( e vinte e cinco anos, os primeiros como Festival Danças na Cidade) conquistou um lugar central nas artes performativas, sendo o mais importante acontecimento nacional nesta área. Até 9 de Junho espectáculos, concertos, festas, encontros com artistas, exposições e debates.

“Five Days in March” de Toshiki Okada (reposto quinze anos depois da sua estreia e da invasão do Iraque, conduzida pelos EUA), “Imitation of Life” de Kornél Mundruczó com o Proton Theatre,  Inoah de Bruno Beltrão & Grupo de Rua e Ítaca – Nossa Odisseia de Christiane Jatahy (Artista da Cidade este ano)  constituem para Thomas Walgrave uma espécie de eixo central na programação que desenhou para a edição deste ano do Alkantara.

Walgrave que se despede este ano da direcção do Festival, passando o testemunho para Carla Nobre Sousa e David Cabecinha, assume na programação deste ano uma dimensão mais pessoal, convocando artistas cujo percurso seguiu e que “são incansáveis nos seus esforços para reformular questões e redefinir linguagens, e por quem a minha admiração, ao longo dos anos, se tem convertido em afinidade.” É assim que nascem, por exemplo, os desafios a João Fiadeiro, Vera Mantero e Aldara Bizarro, que estiveram na primeira edição das Danças na Cidade.

Na Sala Mário Viegas do Teatro Municipal São Luís o Alkantara encontrou também o lugar para uma criação emergente, criando uma estratégia singular, a de colocar em diálogo, através de sessões triplas, espectáculos como Muyte Maker de Flora Détraz, Le Kombi de Jeannot Kumbonyeki, Infini #5 de Jozef Wouters, Radio No Frequency de Zina Zarour e Transobjeto de Wagner Schwartz.

Um último apontamento nesta já longa nota, e antes de deixarmos uma breve sinopse dos espectáculos, este ano a abertura do festival faz-se no Castelo de São Jorge com um espectáculo de Bouchra Ouizguen, Corbeaux, que junta ao grupo de intérpretes marroquinas, participantes portuguesas. Thomas Walgrave, com quem conversámos, e cuja conversa traremos noutro texto, diz-nos o porquê desta escolha: “ queria começar o festival de uma forma menos exuberante, queria começar com o silêncio”.

Corbeaux de Bouchra Ouizguen
Castelo de São Jorge
23, 25 maio 20h, 24 maio  às 17h e às 20h

Uma horda de mulheres vestidas de preto inicia movimentos rítmicos e gritos estridentes cadenciados. As figuras em movimento, carregadas com o peso das memórias dos rituais Issawa e Hmadcha de Marraquexe, evocam simultaneamente as longas noites de transe e um tempo em que a loucura tinha o seu lugar na sociedade, tal como descreve a literatura persa dos séculos IX e XII. A experiência é intensa e ao mesmo tempo universal e íntima, ligando intérpretes e público à ideia de origens. Para Bouchra Ouizguen, Corbeaux mais do que um espetáculo é  “uma escultura sonora, bruta e urgente, que ressoa infinitamente”. Criada em 2014 para a Bienal de Marraquexe de 2014, já andou  pela Tate Modern, em Londres, o Louvre, em Paris) ou em espaços públicos de Nova Iorque, São Paulo ou Beirute.

 

Toshiki Okada,Kornél Mundruczó, Bruno Beltrão e  Christiane Jatahy, quatro espectáculos que, segundo Wlagrave,  podem ser vistos como um eixo central da programação do Alkantara.


Five Days in March de
Toshiki Okada
Maria Matos Teatro Municipal | Sala Principal com Bancada
29,30 maio às 21h30

A 21 de março de 2003, tropas norte-americanas e britânicas lançaram uma ofensiva no Iraque e pela primeira vez desde o trauma da Segunda Guerra Mundial, o Japão juntou-se às forças da coligação. Toshiki Okada, um jovem criador de teatro japonês, criou Five Days in March, o retrato de uma geração desorientada de jovens apáticos e isolados. O espetáculo provocou uma onda de choque no teatro japonês, com o seu uso de linguagem coloquial jovem, gestos subconscientes e movimentos corporais exagerados, e mudanças abruptas de personagem e espaço, muitas vezes ocorrendo a meio da fala de um ator. Quinze anos depois, muita coisa mudou o que levou Toshiki Okada a retrabalhar Five Days in March a partir do zero – só o texto permanece mais ou menos intacto – com um grupo de atores com vinte e poucos anos, jovens adultos que sentem a sombra da guerra e pressentem as mudanças que ocorrem na sociedade. Que presente irá surgir, agora que eles representam em cena a apatia da geração anterior?

 

Imitation of Life de Kornél Mundruczó
Teatro Nacional D. Maria II Sala Garrett
1 e 2 junho às 21h

Um rapaz cresce no seio de uma família cigana, mas não se parece com ela – a sua cor de pele é diferente e a negação das suas origens pesa-lhe na infância. Tenta descobrir uma nova vida no anonimato da cidade, mas não encontra o seu lugar. O ódio por si mesmo impede a sua integração social e acaba por levá-lo a assassinar um jovem cigano, num elétrico. Será que escolhemos os nossos destinos, ou as nossas vidas estão predestinadas? Esta é a questão levantada por Kornél Mundruczó, na sequência deste crime violento em Budapeste, em 2015. Em Imitation of Life os atores são os protagonistas engenhosos de uma história ficcional que começa quando um agente de execução chega para despejar uma mulher solteira do seu apartamento em Budapeste. Uma reviravolta inesperada impede-o de levar adiante o seu plano, vendo-se obrigado a examinar a sua própria consciência.

Imitation of Life é um olhar lúcido sobre as contradições de uma sociedade, tanto na Hungria como para lá dela, onde todas as formas de discriminação triunfam diariamente. Desde que Hard to be a God foi mostrado no Alkantara Festival, em 2010, o encenador e realizador húngaro Kornél Mundruczó tornou-se uma voz proeminente no cinema europeu contemporâneo com filmes como White God, Tender Son: The Frankenstein Project, Delta e a Lua de Júpiter, em antestreia nacional nesta edição do Alkantara Festival.

 


Inoah
de Bruno Beltrão & Grupo de Rua
Culturgest | Grande Auditório
4, 5 junho às 21h30

 

Enquanto muitos coreógrafos contemporâneos tentaram integrar o hip hop, o breakdance e outros estilos urbanos de dança no seu trabalho, o processo de descoberta de Bruno Beltrão foi o inverso. Ele passou a adolescência de batalha em batalha de breakdance. Descobriu a dança contemporânea através do trabalho de William Forsythe e outros, e ganhou um fascínio pela coreografia. Não só se tem revelado um aluno altamente talentoso e curioso das complexidades da coreografia contemporânea, com os seus constrangimentos espácio-temporais, como tem sido capaz de as usar para desconstruir os códigos artísticos sociais e de género das formas de danças urbanas. O resultado é uma linguagem de dança muito rica e pessoal, relevante na sua abstração e altamente espetacular no seu virtuosismo. Bruno Beltrão foi apresentado na Europa pelo Alkantara Festival 2002 e tornou-se um artista incontornável nos maiores palcos internacionais. Em Inoah, Bruno Beltrão e a sua companhia Grupo de Rua exploram a vida urbana no cruzamento entre o encontro e o confronto, a agressão e a exuberância, a animosidade e a camaradagem. Dez bailarinos aproximam-se uns dos outros, depois afastam-se, abrindo caminho por um espaço quase às escuras com movimentos rodopiantes, pontapés rápidos, saltos e mortais. Com pura presença física e virtuosismo, o Grupo de Rua dá rédea solta a uma coreografia que pulsa com energia e entusiasmo vibrantes. Tenso como uma noite de trovoada, Inoah é uma afirmação sobre as contradições irresolúveis que abalam a sociedade brasileira.

 

Ítaca – Nossa Odisseia I de Christiane Jatahy
São Luiz Teatro Municipal Sala Luís Miguel Cintra 7, 8, 9 junho às  21h

As práticas artísticas da artista brasileira Christiane Jatahy desafiam fronteiras, justapondo teatro, cinema e performance. Jatahy regressa a Lisboa e ao Alkantara Festival em 2018 como Artista na Cidade, um programa com a duração de um ano que oferece ao público lisboeta um olhar privilegiado sobre a sua obra. No Alkantara Festival, em colaboração com o Teatro São Luiz, Jatahy apresenta o seu trabalho mais recente, Ítaca – Nossa Odisseia I. Depois de Strindberg (Julia, 2011), Tchékhov (E se elas fossem para Moscou?, 2013) e Shakespeare (A floresta que anda, 2015), Jatahy toma Homero e a sua Odisseia como ponto de partida. Um elenco híbrido de atores brasileiros e de língua francesa mergulha neste mito fundador da literatura ocidental, virando-o do avesso de modo a falar sobre os nossos tempos. Teatro e realidade: um velho caso que continua a reproduzir-se de maneiras novas. Os espetáculos mais marcantes de 2017 testemunham todos o terramoto atual, cujas falhas geológicas passam pelas relações raciais, sociais, as relações entre os sexos e a questão da imagem – do real e do seu duplo. A encenadora Christiane Jatahy está no coração do tremor de terra, cujas ondas de choque são planetárias. É mulher, é brasileira, está a inventar uma nova forma de teatro-cinema de uma força e crueza impressionantes, e não fala senão disto: das relações de poder.

 

3 X 25 anos: Aldara Bizarro, Vera Mantero e João Fiadeiro na celebração dos 25 anos do Alkantara

Gráfico do Gesto de Aldara Bizarro
São Luiz Teatro Municipal Sala Mário Viegas
26 e 27 maio às 16h

Que parâmetros servem para medir um gesto? Os canhotos fazem os gestos todos à esquerda ou deixam alguns para fazer com a mão direita? Assinar uma petição é um gesto? Pode-se pensar numa escala para medir o gesto? Quando se faz o mesmo gesto repetidamente faz-se sempre da mesma forma? Os tiques são gestos? O gesto está relacionado com a ação? O gesto é ação? O gesto faz parte da definição de uma pessoa? Aldara Bizarro integrou o programa da primeira edição do festival Danças na Cidade em 1993. Nos últimos anos, tem vindo a desenvolver trabalho maioritariamente direcionado para públicos jovens. Gráfico do Gesto, cujo processo de criação teve a colaboração de alunos e professores da Escola Artística António Arroio, reflete sobre a composição gráfica, dimensão e relevância do gesto, questionando a sua presença em várias situações sociais, públicas ou privadas.

 

As Práticas Propiciatórias dos Acontecimentos Futuros de Vera Mantero

As Práticas Propiciatórias dos Acontecimentos Futuros de Vera Mantero

As Práticas Propiciatórias dos Acontecimentos Futuros de Vera Mantero
Culturgest | Grande Auditório
29,30 às 21.30 e 31 às 19h

De onde vêm as formas da arte popular? Esta era uma das principais questões de Ernesto de Sousa (1921-1988) artista multidisciplinar, curador, realizador, investigador e crítico de arte. Como muitos outros da sua geração, estava interessado numa história da arte alternativa, ou até de “anti-arte”. Viajou pelo país, entrevistando artistas e fotografando obras, acumulando uma coleção de 3000 negativos ainda largamente desconhecidos. A historiadora de arte Paula Pinto sentiu que o material merecia uma abordagem diferente e encorajou Vera Mantero a desenvolver um espetáculo baseado na coleção. Mantero viajou por Portugal seguindo as pegadas de Ernesto de Sousa como parte da sua “pesquisa através do corpo” sobre os materiais e questões contidas no arquivo.

 

From afar it was an island de João Fiadeiro
Teatro Nacional D. Maria II Sala Garret
6, 7 jun às 21h e 8 jun às 19h


From afar it was an island é o título de um livro para crianças do designer italiano Bruno Munari que fotografa uma série de pedras e rochas que encontrou no sul da Itália, organizando-as e ilustrando alguns dos princípios e premissas que sustentam a sua prática e pensamento. Entre eles, a constatação de que a percepção está intimamente ligada ao contexto e à relação, bastando uma pequena mudança de perspetiva ou de escala para uma linha se transformar numa estrada ou uma pedra numa ilha. O espetáculo de João Fiadeiro não se apoia diretamente no livro, mas aquilo que procura em termos de qualidade de presença, duração e atenção está enraizado nos princípios e jogos de percepção que o livro trata. De longe, aquilo que os intérpretes dizem e fazem parece fazer sentido. Os seus movimentos seguem um sistema lógico – uma noção de princípio, meio e fim – que reconhecemos nos nossos corpos e nos corpos com que interagimos diariamente (reais ou ficcionais, presentes ou ausentes). Mas à medida que o tempo passa, damo-nos conta de que esses corpos não se dirigem a lado nenhum e de que não representam mais nada senão a sua própria presença.

 

 

Criações emergentes em sessões triplas na Sala Mário Viegas do Teatro Municipal São Luíz.

Muyte Maker de Flora Détraz
31 maio e 1 junho às  21h

Através de uma exploração de imagens medievais, cantilenas triviais e pinturas grotescas, Muyte Maker celebra corpos desobedientes, anormais e irracionais. Muyte Maker examina a alegria como afirmação física e existencial: a alegria como desejo e potencial criativo e como distorção física ou contradição, que vai contra a maré da moralidade. As intérpretes cantam copiosamente, riem polifonicamente, dançam cegamente e tagarelam cacofonicamente, numa tentativa de traduzir toda a complexidade dos seus próprios corpos. Formada em França e em Lisboa, Flora Détraz começou a desenvolver o seu trabalho como coreógrafa em 2013, em França e em Portugal.

Le Kombi de Jeannot Kumbonyeki

Le Kombi de Jeannot Kumbonyeki

Le Kombi de Jeannot Kumbonyeki
31 maio e 1 junho às  21h

Como traçar um paralelo entre as realidades quotidianas do meu país e a Kombi, esse meio de transporte coletivo, desconfortável e agitado do habitante de Kinshasa, onde ele passa longas horas cada manhã e tarde, apertado, encurralado, hirto e suado? Como traçar um paralelo entre a posição desses passageiros vítimas da ausência de qualquer política pública desde há duas décadas e a posição do artista na República Democrática do Congo? Vigiamos os bolsos por causa dos ladrões, conversamos, fazemos piadas, comentamos a política, a vida cara demais ou a saia apertada demais da rapariga que acabou de sair, avançamos aos tropeções, como o país, ou apesar dele…O bailarino congolês Jeannot Kumbonyeki é um virtuoso do krump, do break e da dança contemporânea, como o público lisboeta recordará da sua atuação em Kinshasa Electric de Ula Sickle, apresentada no Alkantara Festival em 2014.


Infini #5
de Jozef Wouters
31 maio, 1, 2 e 3 junho às 21h

O cenógrafo Jozef Wouters, estabelecido em Bruxelas, escreveu uma carta à dramaturga e encenadora Rimah Jabr (co criadora de Uma canção para ouvir-te chegar de Sofia Dinger). Que tipo de espaço ou paisagem ela gostaria que fosse representado em palco? A correspondência entre eles começou com fotografias dos túneis por baixo do muro de Gaza. O cenário construído, em combinação com uma carta de Jabr, produz uma perspetiva incisiva e imaginativa sobre uma situação que só pode ser expressa no seu absurdo.


Transobjeto,
de Wagner Schwartz
2 e 3 junho às 21h

Em 2004, o coreógrafo Wagner Schwartz criou Wagner Ribot Pina Miranda Xavier Le Schwartz Transobjeto, o espetáculo que remontaria como Transobjeto dez anos depois. Wagner especula as inúmeras possibilidades que a partícula “trans” pode gerar em combinação com diferentes objetos, sugerindo a transformação, a transexualidade, a transgressão, a transmídia, a transdisciplinaridade, o transbordamento, a transposição, o transpassar. Com humor, Transobjeto, de Schwartz, consolida-se como uma obra completamente atual, pois assistimos hoje a um enorme retrocesso no cenário político brasileiro que acaba por nos direcionar a essa época em que a metáfora era estratégia quase obrigatória para as(os) artistas driblarem a censura.

Transobjeto, de Wagner Schwartz

Transobjeto, de Wagner Schwartz

 

Radio No Frequency de Zina Zarour
2 e 3 junho às 21h

Nos seus dois anos de existência como programa de rádio online gerido por voluntários, Radio No Frequency deu que falar na comunidade palestiniana e para além dela, com o seu humor mordaz e afirmações provocadoras. As forças motrizes por trás de Radio No Frequency são Zina Zarour, Lama Rabah, Faris Shomali e Henna al-Hajj Hasan que partilham uma visão crítica sobre a Palestina e a sua cobertura nos média. Nesta versão ao vivo do programa de rádio mensal discutem assuntos como autoridade, censura, classe, género, o papel dos media e da arte. Esta forma teatral singular fornece uma rara compreensão dos debates no interior da sociedade palestiniana e entre os seus jovens.

 

Lo único que necesita una gran actriz, es una gran obra y las ganas de triunfar pela Vaca 35

Lo único que necesita una gran actriz, es una gran obra y las ganas de triunfar pela Vaca 35


Ponto de Encontro ◆ Espaço Alkantara
24 maio às 19h, 25 e 26 maio às 21h

Em 1933, as irmãs Papin, duas criadas de Le Mans, assassinaram brutalmente a mulher e a filha do patrão. O crime chocou a sociedade francesa e ficaria para a história como o Caso Papin. Catorze anos mais tarde, e claramente inspirado por esta história, Jean Genet publicou uma das suas obras-primas, As Criadas. Mais de meio século depois, Vaca 35, um coletivo de atores e criadores teatrais sediado na Cidade do México transforma As Criadas em Lo único que necesita una gran actriz, es una gran obra y las ganas de triunfar.

 

Uma canção para ouvir-te chegar de Sofia Dinger
Maria Matos Teatro Municipal
24 maio às  21h30, 25 e 26 maio às 19h

Depois do que aconteceu, não posso continuar a falar exactamente da mesma forma que falava antes de tudo ter acontecido. Não posso e não quero. Quero marcar as diferenças: testemunhar que as coisas importam. Que, às vezes, ficamos mesmo sem saber o que fazer com a voz.Sofia Dinger divide o seu tempo entre Holanda e Portugal. A convite do Alkantara, participou no projeto 1Space e viajou para Ramalá, Kinshasa e Durban. Conheceu a artista palestiniana Rimah Jabr, agora exilada no Canadá, com quem mantém uma correspondência. Uma canção para ouvir-te chegar nasce destas e de outras distâncias.

 

7 de Radouan Mriziga
São Luiz Teatro Municipal
25 e 26 maio às 21h

Nos últimos anos, Radouan Mriziga tem investigado a relação entre dança, o ato de construir e as origens da arquitetura e da escultura. Na sua pesquisa por um corpo-performer que executa tarefas simples, Mriziga procura matéria coreográfica na arquitetura moderna e nos princípios do design bem como em expressões artísticas de culturas islâmicas. Em 7, Mriziga acrescenta uma camada de mistério e imaginação ao evocar as Sete Maravilhas do Mundo Antigo e coloca as duas escalas lado a lado – a do mundo construído, feito para impressionar, e a da derradeira maravilha do mundo: o corpo humano.

 

Cortado por todos os lados, aberto por todos os cantos de Gustavo Ciríaco
Teatro Nacional D. Maria II
29, 30, 31 maio às 19h

Cortado por todos os lados, aberto por todos os cantos é uma viagem rapsódica pelos espaços sociológicos, arquitetónicos e cénicos do Teatro Nacional D. Maria II. Inspirado nas esculturas relacionais dos artistas minimalistas norte-americanos e imaginado como um corte transversal interativo do edifício, o espetáculo é um percurso pelo teatro enquanto escultura ampliada, como campo de posicionamento, encenação e manipulação do real, em que o lugar de onde o espectador vê algo influencia a sua apreciação e imaginação.

Cortado por todos os lados, aberto por todos os cantos de Gustavo Ciríaco

Cortado por todos os lados, aberto por todos os cantos de Gustavo Ciríaco

 

O que não acontece de Sofia Dias & Vítor Roriz
Teatro Nacional D. Maria II
31 maio às 21h, 1 e 2 junho às 19h

Os coreógrafos Sofia Dias & Vítor Roriz trabalham juntos desde 2006, pesquisando e criando em torno da plasticidade das palavras e da relação entre corpo e objetos. Se anteriormente acreditavam que cada peça era uma janela para um momento específico da sua pesquisa, hoje parece-lhes que cada peça é uma síntese da própria vida. Como se cada espetáculo refletisse uma (re)visão do mundo, do que é viver, destruir e construir alguma coisa com o outro. Antes Sofia Dias e Vitor Roriz desenvolveram uma série de performances em espaços não convencionais tentando isolar e questionar os elementos da sua pesquisa: a relação do gesto com a palavra dita e cantada, o modo como os objetos informam o movimento e a escrita como ato performativo ou ação coreográfica. Agora procuram transpor essa pesquisa para o palco sem perder a intimidade, o carácter lúdico e a imprevisibilidade das performances anteriores.

 

La Plaza dos El Conde de Torrefiel
Maria Matos Teatro Municipal
2 e 3 junho às 19h

O século XXI tem-se revelado agitado e conflituoso numa escala global. Os dias são bipolares: a maneira de pensarmos sobre nós próprios está a mudar radical e incontrolavelmente mas, ao mesmo tempo, nada muda. O mais recente trabalho de El Conde de Torrefiel é imaginado como uma praça. O teatro e a praça partilham mecanismos narrativos do presente, e simultaneamente apelam a uma memória coletiva do passado; atores e cenário são os monumentos, e as pessoas que transitam nesta praça fornecem formas, histórias e nomes. O palco torna-se uma ágora que nos permite expandir os conceitos de espaço e tempo, para lá dos limites físicos do que nos rodeia.

 

 

Un faible degré d’originalité de Antoine Defoort
Teatro Nacional D. Maria II
6 e 7 de junho às 19h

Deefort realiza uma conferência-em-curso sobre o assunto espinhoso da propriedade intelectual no campo da criação artística. O objetivo é traçar um inventário da legislação e da história dos direitos de autor, e lançar alegremente ideias sobre as questões e implicações sociais em jogo.  

 

Quarta-Feira: O tempo das cerejas de Cláudia Dias
Maria Matos Teatro Municipal 7 e 9 junho às 19h e 8 junho às 21h30

Quarta-Feira é o terceiro episódio do ciclo Sete Anos Sete Peças. Depois de enfrentar Pablo Fidalgo Lareo em Segunda-Feira: Atenção à Direita! (estreado no Alkantara Festival em 2016) e de Luca Belezze em Terça-Feira: Tudo o que é sólido dissolve-se no ar (2017), Cláudia Dias partilha agora o palco com Igor Gandra, diretor artístico do Teatro de Ferro. O cenário é um enorme buraco no meio de placas de gesso laminado, como se uma bola de ferro gigante tivesse caído ali. Ao construir o espaço cénico com o mesmo material usado em milhares de casas portuguesas, para se começar a desconstruir, Cláudia Dias e Igor Gandra fazem uma ligação direta a tudo o que é varrido para baixo do tapete ocidental.

 

 



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