Aloe Blacc @ Cool Jazz Fest
Fomos à missa e gostámos.
Eram 22 horas e a brisa fria que horas antes se fizera sentir tinha acalmado. Ao Parque Marechal Carmona acorriam todos aqueles que queriam ouvir e ver o novo prodígio da música Soul. Falo de Egbert Nathaniel Dawkins III. Não conhecem? E se falar em Aloe Blacc? Suspeito que já se tenha feito luz em algumas cabeças. Mais se fará ainda se falar em «I Need a Dollar», umas das músicas mais tocadas dos últimos tempos. Quem nunca ouviu o refrão “I need a dollar dollar, a dollar is what I need” ponha a mão no ar. Suponho que não sejam muitos.
Depois de em Maio ter esgotado a Aula Magna, o novo menino bonito da Soul voltou a pisar terras lusas e a animar a noite de todos os que se deslocaram a Cascais.
Acompanhado pelos Grand Scheme, uma excelente banda, entrou em palco ao som dos acordes iniciais da música que o tem feito correr mundo mas, como qualquer bom artista, Aloe sabe que não se podem usar os trunfos todos no início e rapidamente esses acordes foram substituídos pelos de «Hey Brother».
Bem-disposto, divertido e cheio de energia, foi constantemente apelando à energia da música Funk e pedindo para que se dançasse até os pés doerem. E o público, ainda que tenha demorado a aquecer, retribuiu-lhe com igual energia.
Sem nunca esquecer aqueles que o fizeram apaixonar-se pela música, Aloe mencionou James Brown, Marvin Gaye, Stevie Wonder e Al Green como suas grandes influências e em muitos momentos fez-nos pensar neles. Atrevo-me a dizer que ainda está longe de ser um verdadeiro James Brown, mas para lá caminha a bons passos. Numa justa homenagem à recentemente falecida Amy Winehouse, Aloe dedicou-lhe uma música e pôs o público a entoar a frase “Amy, we’re gonna miss you” e a julgar pela reacção de todos os presentes, assim será.
Mas como bom entertainer que é, não se deteve em momentos de tristeza e de dedo em riste pediu que todos abraçassem alguém que os fizessem felizes e assim, enquanto no palco se tocava «You Make Me Smile», na plateia assistiam-se a provas de carinho e a trocas de sorrisos. Seguiu-se a bonita «If I», cantada de olhos fechados e com um sentimento até aí não visto. E logo que a terminou Aloe explicou que ali estávamos numa igreja, a Igreja do Amor e da Felicidade (e aqui não deixei de me lembrar do Reverendo Al Green, já mencionado acima. Será que um dia poderemos encontrar Aloe nos mesmos preparos?). Entre sorrisos e aplausos do público pediu a todos que as espalhem pelo mundo e que tenham sempre em mente que na vida só são precisas duas coisas: paz e amor.
Fervor religioso e optimismos à parte, e ainda que não houvesse espaço para pensamentos de crises, FMIs e Troikas já que a noite era de festa, não deixou de mencionar todos os políticos corruptos e a eles dedicou a música «Politician», tendo o cantor relembrado o seu início de carreira como MC e presenteado o público com algumas rimas numa homenagem ao hip-hop, género musical que ainda o apaixona. Sempre sem perder a energia e dançando de uma ponta à outra do palco, Aloe passou por todas as músicas que compõem o seu álbum “Good Things”. Num pequeno interlúdio a fugir para o Reggae, o cantor aludiu ao facto de todos os géneros musicais serem Soul por nascerem na alma, e para o comprovar entoou, prontamente acompanhado pelo público, pequenos excertos das músicas «No Woman, No Cry» e «Maneater», de Bob Marley e Hall & Oates, respectivamente. E foi aqui que ganhou definitivamente a admiração do público.
Como já não podia deixar aqueles que o aplaudiam mais tempo à espera do momento que os tinha levado ali, finalmente, e para total loucura do público, tocaram-se de novo os acordes iniciais de «I Need a Dollar», desta vez tocada até ao fim e cantada em coro por todos os que ali estavam e até com uma ajuda de Maya Jupiter que subiu ao palco para o acompanhar. Para terminar em beleza, «Loving You Is Killing Me» fez, mais uma vez, com que todos os presentes abanassem as ancas e batessem o pé.
Obviamente que um concerto carregado de tanta energia não podia acabar sem encore. Tal como na Aula Magna, Aloe cantou uma versão despida e bastante mais soul do êxito de Michael Jackson «Billie Jean», mas foi, numa alusão às saudades sentidas de casa, com uma versão de «California Dreamin’» dos The Mamas and The Papas que deu por terminada a noite.
Foi um concerto sem grandes surpresas, só com um álbum na bagagem (pelo menos nesta sua incursão pela música Soul) não seria de esperar muito mais, mas aquilo que se ouviu foi o suficiente para deixar toda a gente extasiada.
Quem pensava que a Soul estava morta pode voltar a sorrir. A julgar pelo que vi ontem, está mais que viva e recomenda-se.
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