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Amadeu de Souza-Cardoso no Museu do Chiado

Em exibição até ao dia 26 de Fevereiro, no Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, a exposição Amadeu de Souza-Cardoso / Porto Lisboa / 2016 - 1916 é um momento de intimidade com o artista e com a sua visão sobre a sua obra.

A história desta exposição começou há 100 anos, quando em 1916 Amadeu decidiu expor pela primeira vez em Portugal e fê-lo de maneira revolucionaria, primeiro porque foi ele o responsável por escolher as obras e organizar tudo o que se relacionasse com a exposição, segundo porque naquela altura não havia a tradição das exposições individuais.

Outro dado importante é que aos 29 anos, Amadeu era um pintor de vanguarda reconhecido internacionalmente, com participação em exposições colectivas em Paris, Berlim, Nova Iorque, Chicago, Boston e Londres e com obras vendidas, mas não era muito conhecido na sua pátria.

Para dar a conhecer o seu trabalho antes da exposição o pintor editou e distribuiu um catálogo de capa cor de rosa, com o título a letras azuis “Amadeu de Souza Cardoso 12 Reproductions”.

Para a exposição seleccionou 114 quadros a óleo, a tinta da china, a aguarela, provando a sua versatilidade. Esta selecção foi apresentada, primeiro no Porto e depois em Lisboa.

No Porto, a exposição foi no Salão de Festas do Jardim Passos Manuel, um dos centros da vida social e cultural da época. Hoje em dia esse espaço é ocupado pelo Coliseu. No dia 1 de Novembro de 1916 Amadeu de Souza-Cardoso inaugurou a exposição, tendo vendido um quadro.

Em Lisboa, a exposição foi inaugurada no dia 4 de Dezembro e o local escolhido foi o Palácio Calhariz-Palmela, no Largo do Calhariz.

Quer no Porto, quer em Lisboa, os jornais noticiaram a grande afluência e a curiosidade que a exposição despertou. As obras de Amadeu de Souza-Cardoso eram uma novidade (fosse pelo estilo ou pelos títulos que lhes dava), e causaram inflamadas discussões: uns entenderam e defenderam a mensagem de Amadeu, como Almada Negreiros que o convidou para participar na revista Orpheu, ao passo que outros apenas viam estranheza.

 

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Mucha. 1915 – 1916. Óleo sobre tela. 27,3 x 21,4 cm Museu Calouste Gulbenkian – Colecção Moderna, Nº Inv. 86P21

 

Por causa do impacto deste acontecimento na sociedade da época e dos particularismos que rodearam estas exposições, justifica-se a sua recriação um século depois, primeiro no Porto, no Museu Soares dos Reis, no final do ano passado, e agora em Lisboa.

Das 114 obras, estão expostas 81 e estas foram colocadas pela ordem inscrita no catálogo da exposição organizado pelo pintor.

As curadoras Marta Soares e Raquel Henriques da Silva apresentam um excelente trabalho de recolha, organização e contextualização das obras, sendo para mim o mais importante os excertos dos jornais da época colocados perto dos quadros. O confronto da opinião com a obra permite uma leitura a 2 níveis: entender como para a sociedade do início do século XX a exposição era disruptiva e como no início do século XXI as obras apresentam-se com vitalidade, contemporaneidade e pertinência.

Estas foram as únicas exposições em Portugal durante a sua vida, Amadeu morreu aos 30 anos, deixando em suspenso uma carreira intensa e brilhante.



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