Angel Olsen @ Capitólio (23.01.2020)
Tem sido um prazer acompanhar o crescimento de Olsen, ao longo das várias passagens pelo nosso país. Sempre num crescendo. Nunca igual, nunca acomodada. Sempre a deixar tudo e todos de coração cheio.
É a segunda de duas noites esgotadas no Capitólio. Na primeira celebrou-se também o trigésimo terceiro aniversário de Angel Olsen. Nesta noite ainda há tempo para desejar os parabéns mas há, acima de tudo, vontade de celebrar “All Mirrors”. Obra maior de Olsen, onde encara as dúvidas, os seus medos e os seus demónios de frente. Tem sido um prazer acompanhar o crescimento de Olsen, ao longo das várias passagens pelo nosso país. Sempre num crescendo. Nunca igual, nunca acomodada. Sempre a deixar tudo e todos de coração cheio.
Não se enganem; aqui a atenção vai toda para “All Mirrors”. Das 10 canções que dão corpo ao álbum, apenas duas ficaram de fora (a saber: «Too Easy» e «What It Is»). As honras de abertura cabem à canção homónima. Ao fundo há uma imagem de uma escadaria, num estilo noir, que facilmente nos leva a mente para uma qualquer sala em meados do século XX. Os teclados surgem majestosos mas nada se sobrepõe à voz de Angel Olsen que parece encarar o seu reflexo no espelho enquanto canta, “At least at times it knew me”…
«Spring» alivia o ambiente, como uma janela para a vida que se desenrola à nossa volta. Sobre o que nunca pensamos atingir ou até querer e as voltas que a vida dá. «Impasse» trás um registo soturno, pesado, que nos deixa com um nó na garganta. Quase que conseguimos sentir o peso das palavras quando Olsen canta “Don’t you now, don’t you now”. As cordas (violino e violoncelo) conferem uma profundidade essencial a estas canções. Sem elas não seria a mesma coisa e Angel Olsen sabe-o.
«Summer» aquece. Os tons quentes da luz que inunda o palco ajudam. Um antídoto para a depressão. «Tonight» é dolorosamente bela. Simples e etérea. É sobre deixar alguém e estar bem consigo própria e é incrível como a própria música, para além das palavras, consegue transmitir essa sensação.
«Sister» leva-nos pela primeira vez para outras paragens, mais precisamente até ao antecessor de “All Mirrors”, “My Woman”. Antes de celebrarmos «Shut Up Kiss Me», há uma passagem por “Phases”, álbum que junta um conjunto de canções que, por um motivo ou outro não tinham sido editadas. «Sweet Dreams» surge com um aura quase country. Depois solta-se a raiva que temos cá dentro, “Stop pretending I’m not there / When it’s clear I’m not going anywhere / If I’m out of sight then take another look around / I’m still out there hoping to be found”. São canções enormes estas. Na cara de Angel Olsen rasga-se um sorriso. No palco a cumplicidade entre os elementos que integram a banda de Angel Olsen é evidente e pelo meio, há momentos em que essa cumplicidade se estende à plateia. São momentos bons.
A única visita a “Burn Your Fire For No Witness” é breve mas perfeita. Ficamos paralizados. Por vezes a beleza tem esse efeito em nós. É «Windows» a responsável por esta sensação. “Are you blind? / Are you dead already? / Are you alive?”. Porra.
«Endgame» e «Chance», esta última já no encore transportam-nos novamente para o universo de “All Mirrors” porque é aí que nos devemos focar. A primeira surge quase como um sussurro e a segunda enche-nos as medidas e de, porque não… de esperança.
Na primeira parte estiveram os Hand Habits, projecto de Meg Duffy, num registo breve, discreto, mas sempre bem disposto, em que os momentos que mais se destacaram foram aqueles em que Duffy deixou o folk suave e delicodoce, e se aventurou ora por terrenos mais pop, ora por paisagens mais rockeiras, onde a sua inseparável guitarra desempenhou sempre um papel fundamental.
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