Antony and The Johnsons @ Coliseu
A consagração de um fenómeno.
Antony é um dos fenómenos comerciais do momento. Se esta frase fosse dita há um ano atrás não faria qualquer tipo de sentido, mas 2005 transformou uma das “personagens” do underground nova-iorquino numa das principais figuras da música mundial. No esgotado Coliseu dos Recreios de Lisboa, Antony e os seus músicos mostraram não ter medo da comercialização e provaram que são incapazes de ter uma noite má.
O mediatismo que conquistou nos últimos tempos (a conquista do Mercury Prize foi bastante importante), não só transformou a sua vida, como também arrastou um “novo” público para os seus concertos. Se na primeira passagem por Portugal, no Lux com as Cocorosie, encontrávamos Antony a vender os seus próprios discos a uma dezena de pessoas “iluminadas”, agora no Coliseu encontramos figuras públicas do teatro e da televisão, que são arrastadas pelas modas e tendências a aplaudi-lo e a elogiá-lo. Embora Antony já não “precise” de vender os seus discos, a sua genialidade permanece intocável e isso é que realmente importa.
Embora tenha começado a meio gás e pouco à-vontade com o público (talvez tenha sentido que não estava só perante os seus fãs), Antony rapidamente encarrilou para mais uma estrondosa actuação, repleta de momentos de beleza desconcertante e quase incomodativa. A música do nova-iorquino é isso mesmo. As suas letras descrevem alguns dos seus sentimentos mais nobres e perturbadores (para alguns) mas são interpretadas com uma luminosidade única, que já se transformou na sua maior imagem de marca.
O alinhamento do Coliseu não foi muito diferente daquele que pudemos assistir na Aula Magna. A grande diferença dos dois concertos foi a banda. Se, em Maio, os músicos pareciam estar mais à-vontade e com maior protagonismo nos temas, no espectáculo do Coliseu a voz de Antony “abafou”, em grande parte do concerto, a tremenda capacidade dos elementos da banda, que mesmo assim mostraram-se à altura dos acontecimentos e serviram de bom backup à actuação do nova-iorquino.
Em palco, Antony continua igual a si próprio: tímido, polémico e cativante. Envergando a sua “tradicional” cabeleira preta, a condizer com a roupa, com a sua pochette ao ombro e tremendamente maquiado, Antony sabe captar a atenção de uma audiência através de piadas bem colocadas ou interacções com o público (ao regressar a palco para o encore, esteve bastante tempo a ripostar “Thank you, Thank you” com o público, depois de algum dos presentes lhe terem gritado essa mesma palavra).
Obviamente que “I Am a Bird Now” foi totalmente dissecado, para o delírio do público que aplaudia praticamente todos os temas (até um lado b que Antony apresentou e que ficou surpreso por conhecerem). «My Lady Story», «Man is the baby», e a extraordinária «For Today i am a Boy» (com uma interpretação notável e mais arrojada), já são clássicos e surgiram no concerto muito bem acompanhadas pelas tradicionais versões que o músico apresenta: «Afraid» de Nico, «Candy Says» de Lou Reed, «Lonely» de Moondog e «The Guests» de Leonard Cohen, uma das melhores interpretações de toda a noite.
No final, o público saiu satisfeito com o espectáculo e deu por bem empregue o tempo e o dinheiro gasto. Em noite de chuva, Antony conseguiu aquecer alguns corações e conquistar muitos curiosos. Esperemos para ver se o hype que se transformou em estrela, não vai ser sufocado pela indústria discográfica. Até hoje, Antony sob gerir da melhor forma a sua carreira. Será que vamos ter a sorte que continue a ser assim?
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