Aparelho voador a baixa altitude
A adaptação do conto de J.G.Ballard chega agora ao mercado de DVD.
Quando pensamos em filmes de ficção científica, temos alguma dificuldade em descobrir na nossa memória uma película nacional. Desde sempre, o cinema português vive numa crise, mais ou menos explícita, pelo que filmes que precisem de mais algum dinheiro do que aquele que o ICAM pode oferecer, ficam naturalmente na gaveta (ou nem sequer lá entram). Mas será que mesmo com um baixo orçamento é possível criar uma boa obra de ficção? Com uma enorme dose de criatividade e empenho, a resposta é claramente… SIM!
Baseado na obra de J.G.Ballard com o mesmo nome, “Aparelho Voador a Baixa Altitude“, realizado por Solveig Nordlund (de origem sueca mas naturalizada portuguesa), transporta-nos para um futuro próximo, onde a raça humana está em perigo de extinção. As mulheres têm dificuldade em engravidar e, quando conseguem, geram seres mutantes, que são imediatamente eliminados pelas autoridades.
Judite Foster (Margarida Marinho) é uma das poucas mulheres férteis. Depois de ter sido obrigada a abortar pelas autoridades, por seis vezes, devido à “má” formação do feto, Judite está de novo grávida. Convencida de que a causa das “anormalidades” seriam os testes obrigatórios, realizados pelas autoridades, Judite decidi fugir com o seu marido André (Miguel Guilherme) e evitar os exames pré-natais.
Praticamente toda a acção do filme decorre num Hotel (nos antigos blocos de Tróia), num local onde não existe polícia nem lei. O casal procura encontrar a ajuda do misterioso Doutor Gould, especialista nestes assuntos “delicados”, mas encontra no Hotel uma comunidade envelhecida, conservadora e louca.
Ainda no Hotel, escondida de todos, encontramos uma personagem enigmática, com uma silhueta bem definida e com uns grandes óculos escuros. Carmen, Doutor Gould e o avião que manobra todos os dias, formam o trio mais importante em toda a trama, que nos reserva um fim surpreendente.
Os temas do nascimento e da vida, da morte e do futuro misturam-se quando Judite finalmente dá à luz. Só agora Judite e André compreendem que é Gould que detém a chave da sua salvação. Só agora compreendem o significado dos voos rasantes de Gould. Só no fim percebem que tiveram um papel fundamental na criação de um novo mundo.
O filme utiliza o futuro para abordar, de uma forma bastante inteligente, temas de hoje da nossa sociedade: o aborto, a descriminação, o racismo, o conservadorismo. A única forma do mundo sobreviver será aceitar a diferença e nem assim o “ser humano” abdica da sua forma “normal” e correcta.
Para além das excelentes interpretações de Margarida Marinho e Miguel Guilherme, o filme conta ainda com a presença do saudoso Canto e Castro, como dono do Hotel.
Estreado em Junho de 2002, “Aparelho Voador a Baixa Altitude“ chega finalmente ao mercado de DVD’s através da Filmes do Tejo numa edição que, para além do filme e do trailer, também inclui o documentário “O futuro foi ontem”, um retrato sobre J.G. Ballard, com assinatura da realizadora sueca Solveig Nordlund.
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