ARTE no Tivoli
Arte está de regresso ao palco com novo elenco e nova encenação. Entrevista exclusiva com Adriano Luz.
Estreou-se em Portugal em 1998 e mais tarde em 2003 com António Feio, José Pedro Gomes e Miguel Guilherme e porque foi um sucesso, ARTE está agora de volta aos palcos com um novo elenco: Ivo (Adriano Luz), Mário (João Lagarto) e Sérgio (Vítor Norte). São três amigos com três personalidades muito distintas que discutem a compra de uma “tela branca com riscas brancas transversais” até ao ponto de se zangarem e dizerem coisas desagradáveis.
Em conversa com o ator que dá vida a Ivo e que participou na encenação – Adriano Luz – descobrimos mais detalhes acerca deste trabalho:
Como é que é pegar num espetáculo que foi tão marcante?
Foi um sucesso, mas enfim… acontece em todo o mundo isto. Há peças que são um êxito e são refeitas. O que é que se distingue neste ARTE? Primeiro porque os atores são diferentes. Depois a idade não tem uma importância menor. É aquela geração de atores com mais uns anos. Todas as zangas que acontecem com pessoas que estão nos 60 anos, ganha uma dimensão completamente distinta. É completamente distinto a zanga entre pessoas de 40 anos e pessoas de 60. Uma amizade aos 60 anos finar, acabar. Na peça não acontece isso, mas está quase na iminência de acabar uma amizade entre três amigos por uma coisa tão pequena, por um deles não gostar de um quadro que é branco, ganha uma dimensão diferente, muito maior. Por exemplo, há uma cena que já havia no outro ARTE, e que aqui há porque está no texto, que é o Vítor Norte e o João Lagarto andam à porrada (como se costuma dizer na linguagem rapazolas) e é muito mais ridículo dois senhores de 60 anos andarem à porrada porque já nem sabem como é que se anda. E grande parte das discussões aqui visto de fora, aliás convém lembrar que a peça foi escrita por um mulher portanto, não é por acaso que eles são tão parvos às vezes e tão inconscientes. Acho que é um olhar feminino sobre os homens e sobre a amizade entre os homens. Na peça eles dizem uns aos outros, coisas medonhas. No fundo é assim, as pessoas vão-se rir de coisas que estão no limiar do insulto. O que eu quero dizer com isto é que o que no ARTE me fazia rir com uma geração de 40 anos aqui é um bocadinho visto à lupa, é exponencial. Como é que três amigos são capazes de discutir tanto. A peça é toda eternamente uma discussão, de vez em quando afrouxa mas depois lá volta à discussão, tem vários ritmos. Porquê? Porque o quadro branco é omnipresente na peça toda. Portanto, a peça anda sempre assim, mas é muito violenta sobre o ponto de vista daquilo que os amigos dizem uns aos outros. E depois só conclui que a amizade consegue sobreviver a isso.
No fundo a mensagem é essa. Que a amizade é capaz de sobreviver mesmo que se ultrapassem alguns limites.
Um dia alguém me perguntou se eu gostaria de encenar esta peça com três mulheres e eu disse “ah, olha se calhar”. Depois pensei que esta peça com três mulheres não podia ser porque primeiro são mulheres não são homens e depois, porque jamais iriam jantar juntas. Eu acho que com três mulheres uma delas, por exemplo a IVA, teria saído de casa, não teria tolerado ir aquele jantar. Isto para dizer que não é bem uma mensagem, é o que a Yasmina acha dos homens. Discutem, discutem e depois “bora lá beber um copo”. A comédia o que é que faz? Caricatura um bocado as pessoas e neste caso é isso que elas faz com os homens, transforma-os nuns tontos. Até acho um olhar ternurento dela sobre o universo masculino.
Há alguma particularidade no vosso comportamento enquanto atores e como velhos amigos, suponho, na contra encenação desta peça?
Convém dizer que eu não encenei a peça sozinho. Encenei com a Carla de Sá que é o único elemento feminino deste grupo, o que nos deu algum… equilíbrio. Porque é um olhar feminino, principalmente quando a peça é escrita por uma mulher, este olhar era muito importante. E depois pela razão de que eu entrava. Não me é muito confortável entrar e encenar porque depois deixo de ser cúmplice dos outros atores e passo a ser o vigilante. E eles não sabem se estão com o ator ou o encenador. Assim concluímos que enquanto eu estiver ali também me porto mal e fiquei mais perto do Lagarto e do Vítor. Quem fez aqui o papel de “bora lá meninos” foi a Carla, a tentar por alguma ordem no sistema. Sendo uma comédia é fundamental divertirmo-nos e o prazer de estarmos ali juntos é captado pelas pessoas. Se estivermos mal dispostos uns com os outros acho que as coisas não resultam. Não resultam, principalmente em comédia. E essa boa disposição adquire-se nos ensaios. Se eles vêm e “eh pá, lá vamos nós ensaiar com aquele tipo que além de te dar as deixas também nos está a corrigir”. Portanto, esse meu lado de encenador impôs-se pouco. Fui pouco presente por opção, daí eu ter convidado a Carla para encenar comigo. Quando estou a fazer a peça ali dentro, quero ser daquele lado e não deste. Tive que arranjar esta pequena artimanha com a Carla.
Foi fácil contracenar com estes dois atores?
Foi fácil. É uma peça muito importante de fazer porque desperta a nossa curiosidade. Não é uma comédia em que nós quase podemos dizer que as pessoas vão-se rir aqui, vão rir ali. Esta é muito imprevisível, depende muito da dinâmica do público. E eu sou daqueles que acredito que é possível fazer teatro comercial com peças que não são comédia. Acho que noutros sítios, com peças que são mais transversais como Shakespeare. Eu sei que é Inglaterra, não é cá. Mas cá o teatro que há não tem de ser só o teatro de larachas. Isto não é uma peça de larachas, não tem graçolas. Tem comédia a bem de as pessoas entrarem neste universo. No risível do assunto que é: três senhores com idade para ter juízo estão-se a zangar porque um deles compra um quadro branco.
Desde que se voltou a por esta peça em palco, como é que têm sido os preparativos? Em termos técnicos, decorar o texto…
Enfim, o texto já está decorado há muito tempo, foi logo das primeiras coisas. Os ensaios, digamos… numa primeira fase nós fizemos no Parque dos Poetas, em Oeiras. Aqui no teatro estamos há um mês. Nós demos a peça como concluída tecnicamente no sábado às duas da manhã, sendo que já fizemos ensaios com pessoas. Nomeadamente no sábado à noite, mas enfim… estava mais do que apresentável, as pessoas gostaram imenso. Mas há coisas que nós sabíamos, a persiana que não estava a subir na altura certa. Portanto, demos como concluído no sábado às duas da manhã. Ficou em ata.
ARTE é também uma subtil sátira à arte contemporânea, mas acima de tudo uma exploração pelos valores da amizade. Aliando a experiência e a cumplicidade trabalhada entre estes três personagens, interpretados por atores conhecidos do público português, ao trabalho técnico envolvido esta é uma peça que promete entreter os amantes do teatro. Conta já com datas de digressão nacional e tem estreia marcada para dia 27 de janeiro no teatro Tivoli BBVA em Lisboa, de quinta-feira a sábado às 21h30 e aos domingos às 16h30.
FICHA TÉCNICA
Texto Yasmina Reza
Tradução António Feio
Encenação Adriano Luz e Carla de Sá
Cenografia e Figurinos Rui Francisco
Música João Loio
Desenho de Luz Paulo Sabino
Assistente de Cenografia Joana Saboeiro
Assistente de Figurinos Maria Luiz
Interpretação Adriano Luz, João Lagarto e Vítor Norte
Teatro Tivoli BBVA, Lisboa
Estreia 27 Janeiro
5ª a sábado às 21h30 | domingos às 16h30
Preços: entre 12€ e 18€
1º Plateia 18€
1º Balcão Central 12€
2ª Plateia 15€
Frisa Mob.Reduzida 16€
Frisas 16€
Teatro Sá da Bandeira, Porto
Estreia 9 Junho
5ª a sábado às 21h30 | domingos às 16h30
Preços: entre 8€ e 20€
1º Balcão 12€
2º Balcão 10€
Cadeiras de Orquestra 20€
Cam. 2ª Impar-Vis.Reduzida 8€
Cam. 2ª Par-Vis.Reduzida 8€
Camarote 1ª Impar 10€
Camarote 1ª Impar 10€
Plateia 15€
Tribuna Impar 12€
Tribuna Par 12€
ARTE em digressão:
1 e 2 Abril | Theatro Circo | Braga
9 Abril | Cine-Teatro de Estarreja
16 Abril | Auditório Municipal de Lagoa
7 Maio | Teatro Virgínia | Torres Novas
14 Maio | CAE Portalegre
20 e 21 Maio | CAE Figueira da Foz
3 Junho | Centro Cultural Olga Cadaval | Sintra
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