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“As minhas aventuras no País dos Sovietes”, de José Milhazes

Histórias do tempo da cortina de ferro.

José Milhazes, jornalista e antigo correspondente na Rússia, lançou recentemente “As minhas aventuras no País dos Sovietes”, publicado pela Oficina do Livro, onde descreve a sua vivência de quase 40 anos (1977-2015) em Moscovo, inicialmente como estudante, e após a licenciatura em História da Rússia, como tradutor de obras literárias e políticas.

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A viagem do livro começa na Póvoa do Varzim, de onde o jornalista é originário. Proveniente de uma família de pescadores, cedo percebeu que o mar não era a sua vida. Prossegue então com os estudos na Ordem Missionária dos Combonianos, de onde acaba por sair por intervenção “divina”. Atraído pela propaganda comunista, inscrevese na União de Estudantes Comunistas e decide ir estudar para um país comunista, acabando por ser colocado em Moscovo. Começa então a tomar consciência do que significa viver num regime comunista, e ao longo de anos a testemunhar a hipocrisia, injustiça e decadência do regime, a sua crença na causa comunista começa a desintegrar-se.

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O livro de José Milhazes permite-nos conhecer um pouco mais de um mundo fechado, que esteve inacessivel à maioria de nós, mas que, pessoalmente, suscitou desde cedo bastante curiosidade. Simples na forma de escrever, José Milhazes conduz-nos na história da sua vida, partilhando as suas experiências e vivências na antiga URSS, contextualizadas por factos históricos, permitindo-nos ter uma noção mais clara do que foi viver no país criador do bolchevismo. Das vicissitudes, da hipocrisia, da corrupção, mas também da inesperada solidariedade entre pessoas e do surpreendente sentido de humor.

Uma das partes que mais recordo é quando um dos seus professores vai buscar três versões do mesmo livro “História da Revolução de Outubro”, nos quais os papeis de Lenine, Trotsky e Estaline vão sendo alterados, de edição para edição, conforme os pensamentos da altura. Mais parece o ministério da verdade no mundo de Orwell.

Aconselho a leitura, junto de uma lareira, com uma garrafinha de vodka e uns bolinhos, já que as frequentes referências à gastronomia podem abrir o apetite. Boa leitura!



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