“As minhas estrelas negras” | Lilian Thuram

“As minhas estrelas negras” | Lilian Thuram

Somos todos filhos de Lucy

Depois de em 2008 lhe ter sido diagnosticado um problema cardíaco, Lilian Thuram pendurou as botas – tinha então 36 anos e uma proposta do PSG – e colocou o ponto final numa brilhante carreira como futebolista. Despediu-se como o jogador com mais presenças na selecção francesa – agora em poder de Sandrine Souberyand, a capitã da selecção francesa feminina – tendo jogado 142 partidas, marcado dois golos e obtido os títulos de campeão do mundo em 1998 e da Europa dois anos depois, para além de diversos títulos individuais conquistados ao serviço dos clubes por onde passou. Nesse mesmo ano criou a Fondation Lilian Thuram – Éducation contre le racisme, dedicando-se desde então a promover a igualdade e a lutar contra o racismo.

Na introdução de “As Minhas Estrelas” (Tinta da China, 2013), Thuram lança desde logo a pergunta: «Em que momento do vosso percurso escolar ouviram falar dos negros pela primeira vez? Sempre que faço esta pergunta, a grande maioria, senão a totalidade, dos meus interlocutores responde: a propósito da escravatura».

Bem documentado e revelando erudição, inteligência e uma grande originalidade, “As Minhas Estrelas” apresenta um desfile de artistas, militares, desportistas e escritores, entre outras áreas, pertencentes a uma humanidade negra com um carácter interventivo, desde a “Avó” Lucy, que viveu há 3 180 000 anos, até ao presidente americano Barack Hussein Obama, visto por Thuram como «a estrela da esperança».

Com capítulos curtos, iniciados por ilustrações caricaturais de se lhe tirar o chapéu (da autoria de Vera Tavares), “As Minhas Estrelas” mostra que história não deve ser olhada a preto e branco e que, para mudarmos a sociedade e destruirmos as barreiras culturais criadas, há que começar, desde já, por mudar o nosso imaginário. Um pequeno e inesperado triunfo, este, a que merecidamente foi entregue o Prémio Seligmann contra o Racismo. Thuram marcou, neste emocionante jogo literário, o golo da sua vida.



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