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As Vampiras Lésbicas de Sodoma

Uma hilariante comédia da Companhia Teatral do Chiado. Tivemos acesso aos camarins e apresentamos aqui a reportagem de uma peça obrigatória, em cena na capital desde 2006.

A Companhia Teatro do Chiado (CTC) tem-se destacado no panorama artístico português em diversos aspectos: a sua estrutura independente e longe do teatro subsidiado, um dever cívico que pretende dar ao público a possibilidade de todos os dias assistir a uma peça de teatro e o sucesso e longevidade das suas peças. “As Vampiras Lésbicas de Sodoma” já se encontra em cena há 3 anos e a RDB aproveitou esta efeméride para espreitar (e fotografar) os camarins deste espectáculo e conversar um pouco com o encenador e co-fundador da companhia, Juvenal Garcês, numa agradável noite de Domingo em pleno Chiado que levou quase 100 pessoas (lotação praticamente esgotada) à pequena mas muito agradável sala do Teatro-Estúdio Mario Viegas.

Embora tenha como ponto de partida a peça original do nova-iorquino Charles Busch, também conhecido por Mary Dale, a sua personagem “drag”, a adaptação da CTC, como nos contou Juvenal Garcês, não se relaciona em “praticamente nada” com o espectáculo original, afirmando em tom de graça que é “melhor”. Na peça original, Charles Busch “brinca” com mitos dos anos 20 e da Brodway com nomes de actores secundários que “ninguém conhecia”. De forma a tornar o espectáculo mais familiar para o público português, a Brodway passou a ser o Parque Mayer mas a sátira manteve-se. “Quem vier assistir a esta peça vai encontrar um espectáculo de cabaret muito engraçado, onde vai fartar-se de rir e onde só se fala de sexo”, concluiu.

A peça chegou ao conhecimento de Juvenal Garcês através do actor Simão Rubim. “O nome chamou-me logo à atenção. As Vampiras Lésbicas de Sodoma é muito pecado junto (risos).  Na altura estávamos para fazer a “Arte do Crime” e por acaso encontrei a Rita (Lello) no Bairro Alto e sem saber nada sobre a peça, só pelo título, ela disse-me logo que a devíamos fazer”, disse-nos.

Nessa noite de Domingo podemos comprovar tudo aquilo que o encenador nos prometera na conversa que mantivemos. A peça é hilariante. Dividida em três blocos, o espectáculo começa na “terra maldita” de Sodoma e acaba num ensaio de uma peça subsidiada num qualquer Teatro no Porto. Pelo meio, duas vampiras lésbicas, interpretadas por Simão Rubim e Rita Lello, que são ao mesmo tempo rivais na procura da fama no Parque Mayer, deliciam os espectadores com a preciosa ajuda de todo o elenco: João Carracedo, João Marta, Manuel Mendes e Pedro Luzindro.

Uma das características deste espectáculo é a improvisação. É através dela que cada interpretação da peça ganha uma vida própria e é o segredo da sua longevidade. Tal como nas “Obras Completas de William Shakespeare em 97 minutos”, as pessoas regressam ao Teatro para voltar a ver a peça tendo como garantia que o espectáculo vai ser diferente e sempre muito divertido. “Às vezes corre bem, outras vezes corre mal. O improviso é como andar na corda bamba. Mas esse também é o seu fascínio”, disse-nos Juvenal Garcês.

O trabalho de produção desta peça é elaborado, existindo diversas modificações de guarda-roupa e caracterização durante a mesma (ver galeria). Para Juvenal Garçês este não é um motivo de cansaço porque os actores “divertem-se imenso” e estão a fazer “muitas coisas e não apenas esta peça”. “O que é preciso fazer é reensaiar. Um espectáculo é como uma máquina. Quando já tem alguns anos precisa de ir à oficina para ser «apertado»”, conclui.

Durante mais de duas horas, “As Vampiras” foram capazes de colocar (e manter) um sorriso na cara de cada um dos espectadores presentes, que no final aplaudiram de pé todo o elenco. Ir ao teatro é capaz de ser o melhor programa para um Domingo à noite e fechar o fim-de-semana a rir é capaz de ser o melhor antídoto para ultrapassar o síndrome das segundas-feiras.



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