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Assassin’s Creed Origins | Análise

A época alta do turismo no Egipto está de volta!

Enquanto arqueólogo que sou, uma das grandes lamentações da minha vida profissional e de outros tantos colegas de profissão sempre foi e será a destruição da grande Biblioteca de Alexandria. Toda a memória do mundo antigo reunida num só sítio e que desapareceu para todo o sempre, levando consigo grande parte da solução para muitos dos mistérios da História da humanidade. Mesmo que não solucionando o problema do desaparecimento dos documentos que a Biblioteca de Alexandria reunia, a verdade é que só por proporcionar a visita a uma sua hipotética versão virtual já vos devo dizer que, para mim, Assassin’s Creed mereceu mais do que a pena todos os milhões que envolveram a sua produção. Se a isto juntarmos o facto de ainda podermos visitar todos os outros locais históricos do final do período Ptolemaico da história do Egipto ao mesmo tempo que vemos a história e a jogabilidade de Assassin’s Creed reinventarem-se, então os dois anos de espera entre lançamentos na famosa série da Ubisoft mereceram mesmo mais do que a pena.

Sou também um fã assumido da série Assassin’s Creed, não só pela jogabilidade que oferece, mas sobretudo pelas recriações históricas que proporciona aos jogadores. Mesmo que pelo meio exista sempre espaço para algumas incongruências históricas, a verdade é que a experiência de poder visitar locais como a Florença ou Roma no século XVI, a Inglaterra da Revolução Industrial ou Paris no despoletar da Revolução Francesa acontece como em nenhum outro museu e/ou monumento histórico e essa oportunidade de o conseguir desfrutar no conforto do nosso sofá só acontece graças à Ubisoft. Claro que se a isto se juntar a liberdade de movimentos que é clássica na saga, estas verdadeiras viagens no tempo ganham toda uma outra proporção. No entanto, ao longo dos anos começou-se a notar que a série não estava a envelhecer da melhor forma e as fórmulas de jogabilidade começavam a sentir-se cansativas e a proporcionarem algum desgaste na novidade que ofereciam as jogadores.

Felizmente, desta vez, tudo parece novidade e a oportunidade de visitar o Antigo Egipto era um convite que não podíamos recusar. A vontade de explorar regressa em força com Origins e, claro, para isso muito contribui o gigantesco mapa da terra do Nilo, oferecendo não só um mundo vasto para explorar como uma atmosfera única e bastante característica da zona. O mundo vibra com vida selvagem e não faltam as missões e encontros de que quase nunca estamos à espera com personagens que marcaram a história da humanidade. A narrativa e os combates beneficiam em muito de todo o cenário que são cidades como Alexandria e o próprio deserto, representado de forma exímia. E como se isso não bastasse, há ainda um certo preciosismo na forma como tudo é feito, sempre com um pormenor artístico de excepção que só ajuda a que algumas das maravilhas da humanidade, como as pirâmides de Gizé, surjam de forma ainda mais impressionante. Os ambientes sentem-se vivos e vibrantes e isso acontece graças aos elementos pós-processuais que foram incluídos na produção de Assassin’s Creed Origins e que fazem com que, por exemplo, estar dentro de água salgada seja completamente diferente de estar dentro da água do rio Nilo ao nível de cores, transparência da água e na forma como a luz penetra por esta. Ainda mais impressionante é a variedade de ambientes que conseguimos encontrar numa região que, à primeira vista, poderia ter sido caracterizada quase toda da mesma forma.

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Depois de Altair, Ezio, Edward, Connor (Ratonhaké:ton), Arno, Jacob e Evie, chega agora a vez de Bayek, um dos últimos medjay – uma classe de defensores do Faraó – e que tudo fará para cumprir a sua vingança na história de proporções épicas de Assassin’s Creed Origins. Em conjunto com Aya (a sua companheira na vida), Bayek vai desempenhar um papel essencial no conflito do final do período Ptolemaico do Egipto que por sua vez é rico em personagens históricas como a incontornável Cleopátra. A narrativa não deixará ninguém indiferente e os entusiastas da História ainda menos. O sistema de combate levou uma transformação significativa, numa componente experimental que limita Assassin’s Creed Origins e que de alguma forma não se aproxima da excelência dos restantes departamentos do jogo. A Ubisoft não estava satisfeita com o anterior sistema de jogabilidade em combate, mais baseado nos reflexos dos jogadores e optou por um sistema que aproxima mais a série daquilo que é habitual num roleplaying game. Uma jogabilidade que exige mais da paciência dos jogadores e obriga a um pensamento mais estratégico e metódico com os vários tipos de armas a utilizar em cada momento do combate. A ideia foi boa, a jogabilidade poderá um dia encaixar muito bem em Assassins Creed, mas há momentos em que simplesmente não parece suficiente para que os jogadores consigam responder decentemente aos desafios que o jogo lhes coloca. O combate singular, um-contra-um, funciona na perfeição mas assim que surgem mais elementos no combate, Bayek raramente consegue dar à conta. E o problema agrava-se se a isto juntarmos o facto de raramente os esquivanços funcionarem como queríamos. Parece-me que esta nova jogabilidade de combate pode vir a ser um excelente caminho para a saga Assassin’s Creed, mas devia ter sido melhor afinada antes de ter sido lançada aos tubarões.

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Não obstante, a variedade que o Egipto Ptolemaico nos oferece, com enorme ênfase na multiplicidade de missões e actividades para fazer, assim como todo o brilhantismo na criação da atmosfera da região, é mais do que suficiente para nos cativar e até disfarçar algumas coisas que o jogo faça menos bem. Desde batalhas navais e corridas de quadrigas a ameaças de crocodilos, leões e hipopótamos, nunca falta o sentimento de novidade à medida que exploramos as dezenas de horas de jogo que Assassins Creed Origins nos oferece. Tudo resumido, este é um dos melhores jogos da série, onde tudo parece funcionar em sintonia (excepção feita ao combate), com um ligeiro sotaque da região que é mais do que bem-vindo de volta. Se adoram a experiência turística que a série sempre ofereceu, este será muito provavelmente o jogo de que precisam neste final de ano.



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