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Abram alas para a Bainha

Era uma vez uma rainha que fazia bainhas, E desfazia-as também. E voltava a coser, a subir e a descer. Bainhas de saias e vestidos, de todos os tamanhos e feitios, mas acima de tudo com muita vida. O verdadeiro reinado da fantasia, onde sonhos se tornam realidade.

E foi um sonho tornado realidade que Graça Maria Martins viu acontecer. Como a própria afirma, “um sonho real sem coroa, mas com muita bainha”, “uma never ending story feita de fábulas, lendas, lengalengas, refrões, provérbios, novenas, ditados (…) ou antes a história de um nome: Santa Padroeira ou Bainha de Copas?”. Nós, na Rua de Baixo, preferimos claramente o Bainha de Copas: são saias e vestidos que nos levam a mergulhar num mundo surreal de histórias de embalar, com padrões encomendados directamente dos quatro cantos do mundo, apenas para nos fazerem sonhar… E de tanto sonhar, decidimos cair na real e ir falar com a Rainha-Mãe: a Bainha de Copas.

Com uma colecção na praça chamada “Mess is more”, a “Bainha” deixa-nos apenas com uma certeza: haverá mais, muito mais. Vejamos o que ela tem para nos dizer.

A Bainha de Copas não é um conto de fadas, conseguiste transformá-la em algo real. Como surgiu o sonho e como passou do sonho à vida real?

De forma muito natural. De mim para as minhas amigas e amigos, dos meus amigos para os amigos e amigas deles e, quando dei por mim, já ela (a Bainha) era realidade. A cara (e coroa) oficial da Bainha resulta de um trabalho de grupo, de agulhas partidas, linhas ensarilhadas, tecidos regateados em mercados e resgatados em alfândegas, viagens, paixão e da disponibilidade de muitas pessoas.

De onde surge a inspiração? Fairy tales? Da calçada Portuguesa?

De histórias e as histórias estão em todo o lado, verdadeiras ou inventadas. Quase sempre trazem bons pretextos para trabalhar a inspiração. E sim, também dos padrões de âncoras, ondas, cordas, peixes e estrelas-do-mar da calçada portuguesa, do Dia de los Muertos mexicano (as caveiras riem porque, diz-se, se chorarem escorregam nas lágrimas e não fazem a viagem para o outro mundo), das capulanas africanas, do teatro japonês, das marionetas tailandesas e do ano novo chinês.

Preferes os padrões à forma?

Não. É preciso escolher muito bem a forma para que cada padrão ganhe vida. Chegar a três modelos de vestidos aparentemente simples foi uma das partes mais complicadas. Não tendo formação em moda contei com a ajuda de uma modista e amiga fantástica. Foram mais de cinco meses de alinhavos e ajustes. Fazer com que os padrões se integrem nas formas (e colaborem com elas) é uma parte do desafio fascinante. O dia da prova superada foi ver a versão test drive (Muertos de Amor) a ser vestida e aprovada por sete pessoas com formas completamente diferentes.

As cores vivas sempre? Ou ainda está para vir um modelo little black dress com assinatura Bainha de Copas?

Sim, de certeza que vou chegar ao little (shades of) black dress.

Por trás de cada criação um conceito ou o conceito já está imbuído na própria marca?

O conceito da Bainha de Copas vive daquilo que sou e, sobretudo, de gostar do que faço. Cada vestido ou saia é uma espécie de merge layer do mosaico onde convivem muitas referências, texturas, cores, estilos, ideias, imagens e pessoas que me inspiram. É assim no meu trabalho em estratégia de marca na Mola Ativism e é assim com a Bainha de Copas.

Li no teu blog que os tecidos chegavam de todo o lado. Como os escolhes, encomendas? Vais às cidades comprá-los directamente?

Todas as viagens que faço prevêem uma procura do próximo tecido. Há destinos que são mais propícios à segunda mala extra-cheia, como o Japão (e propício é eufemismo para o que o Japão oferece em termos de tecidos), Paris, Luanda e Bangkok; há surpresas como a dos tecidos africanos em Florença; há mms enviados por amigos; há os alfarrabistas dos tecidos, retrosarias e alfaiatarias antigas das ruas direitas das aldeias. É muito bom ir descobrindo. O próximo passo são os tecidos com padrões exclusivos Bainha de Copas. Ando a estudar o assunto. É o que dá trabalhar com excelentes designers.

Os teus pontos fortes são saias e vestidos. Podemos esperar outras peças? Tops, sacos quem sabe?

Sacos, dificilmente. São acumuladores por natureza e não me fascinam (ainda) para chegar a pensar neles como uma extensão da Bainha. Mas sim, é muito provável que apareçam mais peças, e não só do guarda-roupa feminino.

Quem procura as peças da Bainha de Copas? Já tens um exército atrás de ti?

Ainda que inconscientemente, acho que os simpatizantes da Bainha têm em comum uma forma de estar que assume que todos os dias há que sair à rua confortável e preparado para ensolarar o dia. Gosto de acreditar que é assim e o feedback que tenho tido (olhos brilhantes, grandes sorrisos e as fotos que me enviam) não me têm desmentido.

Os Portugueses andam mais soltos a vestir-se? Arriscam mais? Ou o preto-e-branco continua a ser “zona de conforto”?

Parece-me que há um interesse mais genuíno e uma procura maior pelo desvio-padrão que mais tenha a ver com a personalidade de cada um. É importante incentivar a arriscar.

Há uma forte componente retro no corte das criações e o próprio styling das produções lembra claramente um ambiente vintage. É uma imagem de marca assumida?

A minha melhor imagem para definir esta marca passa-se numa manhã daqui a 20 anos, quando alguém abre o guarda-roupa, tira um dos vestidos da Bainha, olha para ele e pensa que o vestido que foi da avó e vestiu a mãe, é um dos seus preferidos. Nesse sentido, é uma visão de marca vintage que muito provavelmente vai estar presente nas próximas criações.

Depois de “Mess is More” podemos esperar por even more?

Que não haja dúvida!

Criadores de se lhe tirar o chapéu, nacionais ou internacionais?

Rei Kawakubo e Junya Watanabe com a Comme des Garçons, Yohji Yamamoto e Issey Miyake. É impossível não admirar o trabalho e os percursos. Marc Jacobs. Storytailors. Filipe Faísca.

Haveria algum palácio onde gostasses de reinar? Um spot de sonho onde gostasses de ver as tuas criações saírem desenfreadamente? Amesterdão, por exemplo?

Palais de Tokyo. Parte do edifício era uma antiga manufactura de tapetes, está ao lado do Sena, tem vista para a Torre Eiffel e é um laboratório criativo onde artistas e curiosos se misturam e interagem com instalações que podem ser aspiradores que empurram cadeiras enjauladas, carros que se amarfanham em segundos e, porque não, Bainhas de Copas a crescerem em árvores. Nem de propósito, a exposição que começa agora em Junho chama-se Dynasty.



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