“Barba Ensopada de Sangue” | Daniel Galera

“Barba Ensopada de Sangue” | Daniel Galera

O mar é o caldo primordial

A busca de refúgio é algo que, ciclicamente, habita o ser humano tanto como o sangue que lhe corre nas veias. Em “Barba Ensopada de Sangue” (Quetzal, 2014), livro da autoria do brasileiro Daniel Galera, há um homem que procura desesperadamente um refúgio, apesar de, ao encontrá-lo, levar com ele toda uma árvore genealógica marcada pelo mistério e pela incerteza.

Após a morte do pai, este homem deixa tudo para trás – tudo menos Beta, a cadela que o pai lhe pediu para matar e que ele decide manter e proteger como se fosse sua – e dirige-se a Garopaba, uma cidade balnear de Santa Catarina onde, anos antes, o seu misterioso avô Gaudério havia sido supostamente assassinado.

Portador de uma estranha doença neurológica, que o faz esquecer todos os rostos e o obriga a reconhecer as pessoas através de gestos, sons ou marcas corporais, constrói uma relação com alguns habitantes locais, tornando-se professor de natação, amigo colorido de uma secretária de uma agência turística e, aos poucos, juntando fragmentos dispersos que o aproximam do lugar onde está enterrada a verdadeira história sobre o avô que nunca conheceu mas que todos dizem ser a sua cara.

Carregado de negrume e habitado por um fantasma que parece ter o corpo disperso pela memória colectiva de uma pequena cidade à beira-mar, “Barba Ensopada de Sangue” é um livro sobre a busca individual da identidade, um hino à natureza que nos cerca e um mergulho nas insondáveis formas que a violência encontra para cumprir os seus desígnios. Dito de outra forma, um livro tristemente belo.



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