Beach Fossils | “Clash The Truth”
Entre a monotonia exaustiva e a multiplicidade musical
Para muitos uma definição, para outros um estilo musical, o conceito indie é daquelas temáticas que ainda vai fazer correr muita tinta na imprensa de música e proporcionar um bom número de cabelos brancos aos críticos musicais. Por um lado temos os coros do subsolo a exigirem o regresso do estilo à sua génese independente, por outro temos aqueles que já há muito descartaram esse mesmo conceito e que associam o termo a um certo padrão de sonoridade.
Perdidos neste turbilhão de «indiefinição», os Beach Fossils lançaram o seu segundo álbum de originais, “Clash The Truth”, depois de se terem estreado com um disco homónimo em 2010 que, em parceria com outros álbuns lançados nesse mesmo ano, agitou as águas do mar vasto do indie rock. Falamos de uma altura em que bandas como Wild Nothing, Real Estate, Two Door Cinema Club, Craft Spells, Seapony e The Drums, entre outras, davam os seus primeiros passos no mundo da música, fosse com discos de longa-duração ou EPs.
Depois de ter assumido um papel individual no processo de criação do primeiro álbum de Beach Fossils, Dustin Payseur viu-se obrigado a incluir membros ao seu projecto para o exercício ao vivo. Essa mesma banda de suporte viria a dissolver-se no final da digressão do artista, ficando apenas reservado um lugar no projecto para o baterista Tommy Gardner.
Foi através de uma necessidade de capturar o espírito mais punk e a alma da performance ao vivo que a dupla Payseur e Gardner partiu para “Clash The Truth”, um disco que perde a crueza do primeiro registo, mas que lhe acrescenta traços novos que respiram maturidade e alguma diversidade.
“Clash The Truth” abre com a faixa-título, demonstrando uma maior acuidade no recurso à reverberação que no primeiro trabalho e umas baterias mais trabalhadas, ainda que rudimentares. No campo dos efeitos, encontramos uma atmosfera partilhada em comum, ou seja, já não nos deparamos com guitarradas secas a oporem-se a vozes absurdamente carregadas de efeito. Nota-se um maior equilíbrio nesse aspecto.
Depois do tema de abertura, «Generational Synthetic» acelera-nos a pulsação e transporta-nos até à calma e relaxante «Sleep Apnea», uma canção com uma elevada carga sentimental em que a guitarra se exprime por linhas tristes e inquietantes.
Segue-se o single «Careless» que põe em evidência o cariz limpo das guitarras que o duo utiliza, e que navega acompanhado pelo groove das notas graves do baixo. Logo após, surge o interlúdio «Modern Holiday» com teclados que fazem a ponte entre «Careless» e «Taking Off», uma canção que, apesar de começar com uma forte linha de baixo, vive muito da melodia da guitarra.
Em «Shallow» e «Birthday» encontramos a textura mais suja do álbum com alguma distorção a imperar ao longo dos temas e a ofertar uma personalidade vinculada ao mundo do pós-punk dos companheiros de cidade Sonic Youth e ao lado mais espesso das músicas dos californianos Pavement.
Kazu Makino, vocalista da banda Blonde Redhead, empresta a voz para o tema «In Vertigo» contribuindo para algum enriquecimento a nível vocal, visto a voz de Dustin Payseur se revelar algo monótona ao final de algumas canções. De seguida, numa recta final, a atmosférica «Brighter» serve de interlúdio a «Caustic Cross», uma travessia cáustica que viaja embebida numa boa dose de reverberação e que nos leva até ao instrumental de guitarras «Ascension». O álbum encerra da melhor forma com «Crashed Out», regressando ao groove dançável e alegre da faixa de abertura.
“Clash The Truth” é assim um álbum mediano que não cai na pasmaceira repetitiva das melodias de guitarra de alguns dos seus companheiros de estilo, mas que também não se destaca daquilo que já foi feito nestes últimos anos. É assim um trabalho que se coloca entre a monotonia exaustiva e a multiplicidade musical, mantendo-se no intermédio do bom e do mau.
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