Benjamin Clementine @ Coliseu dos Recreios (01.06.2016)
As pessoas portuguesas e ele
“Foi deste lugar que vi Kodaline”. Mais à frente alguém erguia um cartaz, provavelmente com a frase “Benjamin, dá-me o teu sobretudo”, ou algo semelhante. Estes pequenos pormenores demonstram o terreno que Benjamin Clementine galgou em cerca de 11 meses, alargando desmesuradamente a sua base de fãs. Desde um palco secundário muito pouco frequentado no Super Bock Super Rock, ao Coliseu durante o Vodafone Mexefest, quando já tinha o Mercury Prize no bolso, e agora o mesmo Coliseu, no passado dia 1 de Junho, em nome próprio. Apesar deste crescimento repentino o músico londrino consegue manter a sua bitola intacta, a qualidade subsiste, apesar dos gritos irritantes na plateia, aqui e ali (sim, mais uma vez o concerto foi refém de tal prática, não se entendendo como esta gente não vai aos clubes de comédia espraiar o seu humor, dado que devem julgar-se extremamente engraçados).
Nesta visita, apesar de entrar solitariamente em palco, Benjamin Clementine trouxe com ele o baterista Alexi, e um quinteto de cordas (contrabaixo, violoncelo e um trio de violinos), que foram rodando em palco mediante aquilo que o alinhamento exigia. E trouxe também o sobretudo, do qual nunca se livrou, apesar do calor que se fazia sentir dentro e fora do Coliseu, para gáudio do britânico que se confessou farto do clima do seu País.
A comunhão que tem com Alexi é verdadeiramente notável, embora este nem tenha sido o concerto em que isso ficou mais evidente, podendo advir do facto de estarem outros executantes em palco, ao invés doutras actuações. Ainda assim, o testemunho inventivo de Alexi está sempre presente, como em «Condolence», onde apresenta um registo digno de broken beat, ou na versão de «Voodoo Child» (de Jimi Hendrix) quase em tom de jam session.
Relativamente ao quinteto, 100% feminino, brilharam especialmente em «London», onde confeccionaram um autêntico melting pot de cordas, como que personificando a azáfama multicultural da capital inglesa com uma aparente cacofonia, e também nas ondas melódicas que cosem o pano de fundo de «Winston Churchill’s Boy», transmitindo uma sublime tranquilidade.
Abordando as versões, contando com a acima referida, foram três aquelas apresentadas nesta noite, com especial destaque para a surpreendente interpretação de «Tive Razão», de Seu Jorge, onde Benjamin Clementine conseguiu proferir algumas palavras em Português, improvisando as restantes. A fechar o lote, e simultaneamente a encerrar a cortina do concerto, o já habitual «River Man», colhido na sempre genial safra de Nick Drake.
Benjamin Clementine regressou para dois encores, o último dos quais terá escapado a boa parte do público, que não terá acreditado numa nova aparição. Mas consumou-se, e além do citado «River Man» abarcou igualmente o obtuso, mas sempre interessantíssimo, «St-Clementine-On-Tea-And-Croissants».
A hora da despedida chegou eventualmente, num acto que viu Benjamin Clementine e o público numa verdadeira desgarrada a gritar intercaladamente «Adiós», terminando com um valente “Obrigado” por parte do músico Inglês.
Espera-se agora que, quando chegue ao fim esta nova digressão que leva o autor de “At Least For Now” também a Coimbra e Porto, o nosso País deixe respirar esta relação do público nacional e Benjamin Clementine. Isto é, foram três vindas a Portugal, que passaram por múltiplas cidades, em menos de um ano, como tal há que preservar o artista e não submetê-lo a um previsível desgaste aos ouvidos de quem o segue interessadamente.
Fotografia por José Eduardo Real © RDB | Todos os direitos reservados
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