Bíblia

Na mão de cada evangelista deverá estar uma, para que passe a palavra ao próximo...

Nos recantos de certos bares, discotecas, lojas de música, de roupa ou mesmo de artesanato, esconde-se a Bíblia. Não pretende pregar nada ao próximo, a não ser talvez a ideia de que a cultura assume muitas formas e que uma das mais antigas, a poesia (mas não só), continua aqui a ter um “espaço de encontro de uma geração”. A propósito da revista, fomos conhecer quem a “prega”, Tiago Gomes.

Logo à partida uma ideia toma forma. A Bíblia é o reflexo natural de quem a fundou e dos seus ideais, sendo que o principal é o de que a cultura é algo essencial à condição humana e que servirá sempre como veículo de transmissão de novas ideias e, obviamente, de contestação.

A revista comemora em Abril de 2005 nove anos de existência. Foi formada por um grupo de cerca de 15 pessoas onde, entre outras, se encontrava o “presidente” Manuel João Vieira, e numa altura em que Tiago Gomes acabava, em conjunto com outras pessoas, de abrir a Galeria Zé dos Bois (ZDB), no Bairro Alto. O processo foi natural porque, sendo “escritor desde muito cedo, e por causa da ZDB, que nos deu a conhecer toda uma nova geração de pintores, ilustradores, designers, etc… as coisas conjugaram-se e nasceu a Bíblia. É normal surgir publicações como a nossa, porque neste meio, na poesia, na literatura em geral, sempre se fizeram muitas revistas que eram o espaço habitual onde os escritores se lançavam e onde se divulgavam novas tendências e ideias”.

Quanto ao nome, não foi planeado. “A única coisa definida era que seria um nome feminino. Então, durante uma animada jantarada, lembrei-me de propor o nome Bíblia… e ficou”. E ficou durante este tempo todo, onde já se contam cerca de 500 colaborações (nacionais e internacionais), 21 números e cerca de 29 mil exemplares distribuídos. Não sem alguns dissabores, especialmente a nível dos patrocínios; “a sociedade evoluiu muito em certas coisas, mas noutras continua igualzinha. E isto é um exemplo, porque como tem o nome que tem, perde alguns apoios. O da fundação luso-americana quando se lançou o número 6 (sobre a América) por exemplo”.

Em relação aos números lançados, cada um difere do outro. Se há uma coisa que caracteriza a Bíblia é o facto de não haver dois números iguais, seja a nível de conteúdo, seja a nível de grafismo que conta sempre com um designer diferente a cada edição e é a componente mais forte das revistas. Entre os designers figuram nomes como o de João Vinagre ou o Tó Trips, entre outros.

Questionado sobre as imensas colaborações que a revista já teve e sobre a variedade de temas abordados, Tiago responde simplesmente que “surgem sem planos, às vezes de propostas que nos chegam, como a edição sobre a Península Ibérica que surgiu também em parte porque tenho ligações com Espanha e vou lá muitas vezes. A edição sobre a América foi uma proposta de um amigo de lá a quem dei total liberdade para escolher os autores que quisesse para a revista. Com os escritores é igual; uns já conhecemos, outros vamos conhecendo e há ainda outros que se dão a conhecer a nós”.

Entretanto, a revista esteve para acabar. Ao longo do tempo foram perdendo tiragem e alguns apoios. “Basicamente por causa da crise que anda aí causada pelo sexteto George Bush, Bin Laden, António Guterres, João Soares, Durão Barroso e Santana Lopes. Nós trabalhávamos muito com a Câmara de Lisboa, o que acabou com a chegada de Santana Lopes. Acabou o apoio e outras coisas, porque a cultura é para comunistas e não dá votos.”

Mesmo com todas estas dificuldades, a pregação continua e pese embora o preço elevado (para alguns bolsos) de 5 € por exemplar, a revista continua a apostar na edição de novos números, cujos lançamentos têm sido uma das grandes apostas da Bíblia, promovendo encontros, tertúlias e acontecimentos um pouco por todo o lado. O próximo está quase a sair, por isso tentem saber onde vai ser a festa de lançamento.



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