Billy Corgan @ Aula Magna
Um novo começo ou o principio do fim?
Tudo escuro, só um ecrã a iluminar uma casa quase lotada e cheia de ansiedade e saudade. As primeiras batidas ouvem-se. Num dos lados do palco começava-se a vislumbrar a silhueta do senhor e já a Aula Magna se levantava em peso para a primeira, e ruidosa, ovação da noite. Ah! Que melhor sítio para começar uma tour… Até podia fazer playback, cantar música country, dançar ou fazer o pino, não interessa, é e será sempre respeitado porque aquele senhor na penumbra é o Billy Corgan.
Foi com “A100” que começou o concerto, uma das músicas inseridas no EP promocional de “The Future Embrace”. E se dúvidas haviam que Billy Corgan tinha, mais uma vez, reinventando a si próprio, essas dúvidas dissiparam-se após um minuto de concerto. Mais uma vez aquele senhor tinha-nos surpreendido com algo diferente. Diferente, mas muito pouco além disso.
A primeira parte ficou entregue aos Gliss. O trio Norte-Americano veio apresentar o seu mais recente EP, “Kick In Your Heart”. Com um rock cru e despreocupado e uma versatilidade fora do usual, com os músicos a trocarem de instrumentos entre eles em quase todas as músicas, conseguiram agradar o público presente. Os aplausos assim o diziam, mas seriam os aplausos para os Gliss ou simples nervoso miudinho pelo que viria a seguir?
É certo e sabido que grandes artistas são aqueles que se conseguem antecipar ao seu tempo, capazes de maravilhar a audiência com algo novo e arrojado. Algo que não compreendemos imediatamente mas que a seu tempo sabemos que irá fazer todo o sentido.
Corgan sempre foi um desses artistas. Com mais ou menos repercussão no mundo exterior, com maior ou menor intensidade, Corgan sempre soube levar a sua música aos extremos e experimentar os mais diversos ambientes, modelando a sua criatividade com a sua personalidade sem nunca ficar estático num estilo ou corrompido por uma era.
Mas desta vez Corgan falhou. A sua ânsia de inovar levou-o longe demais, tão longe que deu uma volta completa e acabou um passo atrás do previsto.
O que nos foi dado a ver naquela noite já está ultrapassado. É realmente diferente de tudo o que Corgan nos habituou até hoje mas aqueles ambientes electro misturados com loops e samples, auxiliados por batidas desgastantes e guitarras esbatidas já não nos toca, já não nos inspira, já nada nos diz.
Pois bem, passadas cinco músicas, nem a euforia generalizada do público, nem o profissionalismo demonstrado por Matt Walker na bateria electrónica, nem a rapariga de mini-saia sabe-se lá a fazer o quê em palco, nem o excelente espectáculo visual oferecido pelo ecrã chegavam para afastar a ideia de que o que estava a acontecer ali era simplesmente banal.
Foi preciso ver Billy Corgan sozinho num palco pela primeira vez, a passear sem guitarra e com as duas mãos no microfone a cantar “Strayz”, ou ouvir a versão dos Bee Gees “Somebody To Love”, para sentir alguma dinâmica ou alguma coisa de especial no meio daquilo tudo. Digno de registo ficam ainda os temas “Mina Loy”, “Dia” ou o single “Walking Shade” que se destacaram pelo seu carácter mais consistente e apelativo.
No fim, fiquei com uma sensação estranha. Foi mesmo Billy Corgan a pisar aquele palco? Em nove anos de concertos em Portugal, pela primeira vez não me senti exausto nem emocionalmente debilitado com a música daquele senhor. No entanto parece que fiquei a conhecê-lo melhor.
“The Future Embrace” sai para as lojas dia 20 de Junho. Até pode ser uma obra que não compreendamos logo à partida mas com o tempo, quem sabe, irá fazer todo o sentido.
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