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Birds Are Indie | Entrevista

“Ones & Zeros” é o sexto álbum de originais da banda de Joana Corker, Ricardo Jerónimo e Henrique Toscano. Para assinalar a ocasião falámos com a banda sobre o novo álbum, o passado, o presente e também o futuro, porque “Ones & Zeros” passa por aí.

Rua de Baixo (RDB): 13 anos como banda é um número bonito, tal como 6 álbuns. Parabéns pelo “Ones & Zeros”, antes de mais.

Birds Are Indie (BAI): Muito obrigado! A Rua de Baixo também já por aqui anda há muitos anos, por isso, parabéns também a vocês…

RDB: Pela primeira vez decidiram fazer um álbum conceptual onde não só abraçam temas que não era “normal” ver-vos abordar, como novas sonoridades. O que os levou nesta direcção?

BAI: Quando lançámos o disco anterior, “Migrations”, em 2020, estávamos a assinalar 10 anos de banda e logo nessa altura decidimos que esse devia ser um ponto de viragem. Isto mesmo antes de se atravessar uma pandemia mundial à nossa frente… Queríamos que o disco seguinte (que acabou por ser este “Ones & Zeros”), fosse um desafio novo para nós e, por consequência, para quem nos foi seguindo ao longo destes anos.

RDB: “A distopia, a inteligência artificial e a alienação são o ponto de partida de um disco que, como o código binário que o inspirou, é também ele feito de contrastes, de sombras e de clarões”. É um pouco por aqui que olham o mundo que nos rodeia?

BAI: Sim, a ideia do disco foi incluir vários extremos ou opostos (como os uns e os zeros, no código binário), mas sem ser de um ponto de vista moralista ou ideológico, tomando partido por um dos lados. Sempre gostámos de contrastes, na vida e na nossa música, mas desta vez quisemos levar isso mais longe a vários níveis, nas letras, no som, no artwork, nos vídeos…

RDB: Torna-se um pouco inevitável não pensar em plataformas como o ChatGPT ou geradores de imagens – a partir de onde obtiveram a imagem que veio a servir de base à capa do disco – no impacto, alcance que procuram ter, e a forma como utilizam o trabalho dos artistas de uma forma que tem levantado algumas críticas dentro do meio. Qual a vossa leitura sobre isto?
BAI: Estamos ainda muito em cima do desenvolvimento destas ferramentas para conseguirmos ter uma visão distanciada e crítica, mas esta tecnologia tem potencial para, de facto, mudar muitos paradigmas na nossa sociedade. É algo assustador, adiciona várias questões de difícil resolução, mas também pode ser útil, esperamos… A criação de imagens é algo que não nos vemos a usar de forma sistemática no futuro, do ponto de vista criativo, mas neste disco, por todo o conceito envolvido, achámos que era pertinente incluir esta ferramenta da inteligência artificial, entre as várias mais “tradicionais” que usámos.

RDB: Valorizar a edição física de um álbum é, nos dias que correm, um desafio cada vez maior para uma banda ou artista. Com os Birds Are Indie, não será excepção. Vocês tiveram uma abordagem curiosa de o fazer, ao disponibilizarem uma faixa extra na edição física, disponível em CD e em duas bonitas edições em vinil, uma em branco e outra em amarelo, para além da edição no preto tradicional. Há aqui todo um conjunto de desafios que se colocam, naturalmente. Para vocês é algo que encaram como um complemento daquilo que é o resultado do vosso trabalho, neste caso o “Ones & Zeros” ou é mesmo uma obrigatoriedade para fazer face à dificuldade que existe em vender discos hoje em dia, sejam eles em que formato for?

BAI: Foi uma mistura de várias coisas. Por um lado, premiar quem nos compra discos físicos que, não sendo assim tão raro, gostamos de valorizar. Por outro, nas sessões de gravação registámos treze músicas, mas achámos que no disco só faziam sentido aquelas dez. Assim, das três que ficaram de fora, uma foi deixada como faixa bónus num código de download que está exclusivamente no vinil e no CD. Embora seja uma canção que não encaixava no alinhamento, pareceu-nos boa enquanto complemento ao álbum. E as duas restantes deverão sair num outro formato, mais à frente.

RDB: “Ones & Zeros” dá-nos a conhecer uma nova faceta dos Birds Are Indie. É possível reconhecer a vossa essência, o que vos caracteriza, assente numa matriz pop, mas depois há mais. Sintetizadores, mais músculo na percussão e nas guitarras. Como foi percorrer este novo caminho? Que desafios vos colocou?

BAI: Como dizes, não foi propriamente um salto do dia para a noite, mas essas alterações ou inovações foram forçadas por nós, como auto-desafios. Comprámos um baixo, um sintetizador, uma caixa de ritmos e mais pedais de guitarra, precisamente por querermos ter à disposição ferramentas musicais diferentes, ainda por cima de instrumentos que não estávamos habituados a usar. Desta forma teríamos de aprender como abordar cada um deles e o resultado ficaria no disco. E foi assim mesmo que aconteceu…

RDB: Álbum após álbum continuam a manter sempre Espanha no roteiro ao vivo, desta vez com 6 datas entre 16 e 23 de Maio. É algo que infelizmente ainda não se vê com a regularidade que deveria entre as bandas nacionais. É um desafio logístico fazê-lo?

BAI: Vamos regularmente a Espanha desde 2012, quando nos convidaram pela primeira vez a atravessar a fronteira para tocar. Logisticamente, não é assim tão diferente de fazer digressões em Portugal, na verdade. Já fizemos centenas de concertos ao longo de 13 anos, incluindo umas boas dezenas em Espanha, por isso também já temos experiência e capacidade de nos adaptarmos a diversas circunstâncias. E tanto assim é que, além destas datas em Maio, antes do ano acabar, ainda regressaremos ao país vizinho…

RDB: No vídeo que acompanha «21st Century Heroes», onde têm uma abordagem binária na estética, que acompanha depois a mensagem, saltou à vista um agradecimento especial à Critical Software, que surge nos créditos finais. A que se deveu?

BAI: Curiosamente, não tem nada a ver com qualquer apoio informático… O agradecimento deve-se ao facto de este vídeo (assim como outros que gravámos para lançar mais à frente) ter sido realizado num edifício recentemente comprado por essa empresa. Está ainda à espera de obras para se tornar num espaço vivo, mas no estado em que está actualmente pareceu-nos perfeito para ser o cenário videográfico do álbum.



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