Birds Are Indie
"Um segundo é o tempo para mudar tudo para sempre". A entrevista com o trio conimbricense acerca do mais recente álbum e de um concerto muito especial
Amar implica aceitação, compreensão, liberdade e, por vezes, mudança, que pode ser a adaptação de feitios ou de locais habitacionais. Desde a sua formação, no ano quase longínquo de 2010, os Birds Are Indie têm vivido agradáveis anos de mudança.
A Joana Corker e o Ricardo Jerónimo são os companheiros da vida que dão voz e cara ao projeto. Por outro lado, o amigo de longa data Henrique Toscano acaba por dar corpo e alma aos Birds Are Indie (pois além de tocar alguns instrumentos, também produziu praticamente toda a discografia do grupo).
Como tudo começou? Alguns já deverão saber, mas recordemos alguns factos – Joana e Jerónimo conheceram-se na escola secundária e desde aí que são inseparáveis. Joana, tímida, achava que não sabia cantar e que não tinha jeito. Um dia, Jerónimo ouviu-a cantarolar e daí a começarem a escrever canções, gravá-las e colocá-las online foi um pequeno passo. Os amigos, com amor, ajudaram no resto – um tirou fotografias, outro fez edição, e assim surgem os “pássaros”. A integração do Henrique foi algo que aconteceu naturalmente. E só isso já fez a mudança – “Todos nós, ao longo deste tempo tivemos de perceber o que é que cada um faz na banda porque não tínhamos nenhuma experiência em lidar com uma série de coisas, como por exemplo, a produção do disco, como se organiza concertos, como nos apresentamos em palco… aliás, continuamos sempre a aprender”, diz-nos Ricardo com um sorriso feliz.
O percurso dos Birds Are Indie tem sido feito em ascensão, de forma discreta e cautelosa. Embora cantem em Inglês e a sonoridade tenha influências anglo-saxónicas, estes pássaros voam também por influências nacionais da nova geração de autores, como por exemplo, Julie and The Carjackers e Minta and The Brook Trout “… mas em termos de referência pessoais, dizem-nos mais as bandas de Coimbra, como os d3o, os Tédio Boys ou os The Parkinsons”, confessa-nos Ricardo Jerónimo.
Editaram, em 2012, o disco “How Music Fits Our Silence” e com ele seguiram-se mais dois EP’s, até que, em Agosto de 2013, o trio conimbricense fechou-se em estúdio e daí resultou “Love Is Not Enough” editado em Janeiro de 2014. «This is a start of something new… this is the start of something good» são as frases iniciais do tema que abre o disco e é perante algo novo e querido que os Birds Are Indie nos apresentam 13 faixas inéditas recheadas de melodias, ora suaves ora quase frenéticas, entre gritos de revolta e afirmação inter-relacional. “Até agora nunca fizemos um disco conceptual. O que costumamos fazer é: depois de o disco estar praticamente alinhavado e de o ouvirmos várias vezes, paramos e analisamos o que é que há de coerente, e, à medida que fomos fazendo isso, percebemos que as músicas que foram compostas ao longo de um ano foram feitas num período de mudança de casa, profissionais, e até da própria maneira como a banda evoluía, e algumas mudanças de pneus” – conta-nos em tom de brincadeira Ricardo, acrescentando – “o disco acaba por ser mais reflexivo e com uma maior consciência daquilo que estávamos a fazer em relação aos outros que os outros pois ao olharmos para trás foram feitos de uma forma mais inconsciente. Saía assim e estava feito. Este disco foi mais pensado em vários níveis. Cada um, na sua vida pessoal, teve episódios de vida que geraram a mudança e isso reflectiu-se na forma como foram escritas as canções e na maneira como gravámos o disco. Além disso introduzimos novos instrumentos, como uma bateria, o que por si demonstra alguma mudança na nossa sonoridade, embora haja semelhanças com o disco anterior.”
O disco já foi apresentado em algumas cidades do País, mas o próximo concerto – dia 21 de Fevereiro às 21h30 – será especial. O grupo prepara-se para apresentar as músicas deste novíssimo álbum na sua terra natal na sala de espectáculos mais emblemática da cidade – o Teatro Académico Gil Vicente. “Da última vez que lá tocámos foi apenas durante 15 minutos em actos de solidariedade. Agora vai ser mais à séria. Desta vez, a particularidade é que o público ficará sentado numa bancada móvel (limitado a 100 pessoas) em cima do palco, ali ao pé de nós, como aconteceu no concerto de Ovar. A ideia é sempre criar um ambiente bastante familiar.” – confidencia-nos Jerónimo – “a acompanhar-nos teremos a companhia do Diogo Alves Pinto, mais conhecido por Gobi Bear, e o João Rui e o Jorri dos A Jigsaw a tocarem em nome próprio”.
Em palco, os Birds Are Indie contam a sua história e apresentam as suas melodias, como se estivessem na sala de jantar de qualquer pessoa e não em cima do palco – “já tivemos algumas reacções muito emotivas sobre a nossa música e isso deixa-nos felizes”. É verdade que em cada capa de um novo disco, e até após os concertos, existe uma dedicação em modo de agradecimento e doce amizade por parte do grupo em relação ao espectador.
A agenda de concertos começa a estar bastante preenchida. Para quem não tem oportunidade de assistir ao concerto em Coimbra, então tome nota: dia 1 de Março vão estar em Ponte de Lima e dia 14 do mesmo mês estarão no CineClube de Telheiras em Lisboa. Para mais informações sobre estas datas, estejam atentos ao facebook da banda. Todavia, e felizmente, estes pássaros são migratórios e, à semelhança da pequena tournée que fizeram o ano passado, vão estar uma semana durante o mês de março em digressão por várias cidades na vizinha Espanha, mais concretamente na zona da Galiza – “Vamos tendo feedback de vários Países, mas em termos realísticos, por enquanto, só temos oportunidade de nos deslocar até Espanha. Pretendemos com isto criar uma rede de contactos que nos permita ir lá tocar com alguma regularidade e não como uma banda de passagem. Os contactos são quase todos feitos por nós, mas também há um outro que é feito pelo dono do espaço que nos quer contratar. Se não pudermos ir por alguma razão, essa pessoa acaba por dar-nos outros contactos, e assim sucessivamente. Uma vez tocámos num sítio em Bueu e lá estava um senhor que organiza concertos em Santiago de Compostela que passado uns dias nos contactou para fazermos lá um concerto, por exemplo”, conta Ricardo.
Uma das razões para se fazer música é sentir a afectividade por entre os outros pares musicais e entender de que forma confluem no mesmo espaço. O título “Love Is Not Enough”, que resulta da última frase da última música do disco «If Only», remete para todo o trabalho de construção desse mesmo amor. Afinal, o que é o amor? Respeito, partilha e generosidade! Sempre, mostrando tudo isso para o mundo.
Agradecemos à Galeria Santa Clara pela amável recepção e cedência de uma das salas para a realização da entrevista e da sessão fotográfica.
Nota: Se quiserem encomendar um disco, podem fazê-lo para birdsareindie@gmail.com e receberão um pequeno bónus.
Fotografias de Vera Marmelo
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