rdb_header_blackdice

Black Dice

Museu do Chiado, 3 de Maio.

O problema é vezes demais levantado para ser ignorado. Quantas vezes nos perguntamos se este é ou não o momento certo para ver algo? Há subjectividade aí, há uma experiência e tudo o que mais sirva para desmontar a questão do ter estado lá. O “I was there” da “Losing My Edge” dos LCD Soundsystem, que apareceu num momento em que uma carrada de miúdos – e alguns não-miúdos – começaram a fazer o som que importou para definir grande parte da música popular desta década.

Não estávamos lá no antes, durante e imediatamente depois de “Beaches & Canyons” e, para todos os efeitos, o tal momento estava perdido. E o maior elogio que encontro para os Black Dice, ao concerto que deram no passado dia 3 no Museu do Chiado, é que durante quarenta minutos fizeram crer às pessoas que estavam na sala que o seu som importava para alguma coisa, que as iria levar a definir algo e a dizer: eu estive lá.

Não que algo de importante se tenha passado, mas há uma ausência de coisas enormes em concertos que normalmente são substituídas por valorizações de “muito bom” e por aí ficam. Importa o que é grande, não aquilo que cumpre o desejo ou confirma a satisfação. Isso tem-se na maior dos concertos que se espera ter e não vale a pena ignorar que muito disso já está feito antes sequer do evento acontecer: a certeza e a importância de ver, ouvir, aquilo que se espera.

Os Black Dice não tinham nada a provar, já tinham dado um concerto incrível em Lisboa na Zé dos Bois, por alturas de “Broken Ear Record”, primeiro momento em longa-duração em que se podia confundir tudo com música de dança e que se prolongou para o álbum seguinte, “Load Blown”. E chegam cá com “Repo”, recentemente editado, aquele que contraria a evolução natural das coisas e desfaz a ideia de techno/dub possível na linguagem dos Dice que parecia determinante para o seu futuro. Lá quebram-se regras, soa tudo aos primórdios de “Beaches & Canyons”, mas organizado, música em parcelas desconexas que necessitam de tempo para fazer sentido. E onde em disco isso é uma exigência, ao vivo foi uma sensação.

Uma descarga sonora contínua, de levantar o pêlo e pôr os tomates a tremer (é verdade); graves disformes que rebentavam noutra coisa qualquer quando finalmente iriam encontrar algum sentido. Um exercício contínuo pelas paisagens dos Black Dice: imagens avulsas que se colam sem fundo e que durante o processo nos vão dizendo o seu sentido. Só que agora, tudo está ligado, depurado e em profunda comunhão com o nosso corpo e mente. Experiência física, sensorial, como lição de que a música popular não é aquilo que julgamos ser. Animal Collective, Excepter, Gang Gang Dance e Black Dice, entre muitos outros, dizem e disseram-nos isso ao longo dos últimso anos. Só ouve que quer, sim. Mas eu estou em crer que essas pessoas são mais felizes do que as outras.



There are no comments

Add yours

Pin It on Pinterest

Share This