Black Dice @ ZDB
A virtude central.
Na reportagem ao recente concerto dos Linda Martini na ZDB, ficou como nota de rodapé quão complicado fora tal noite para o espectador e apreciador de concertos, numa enchente que limitou, e muito, toda a movimentação pelo espaço. Quando, à chegada (atrasada, já se explicará o porquê), o escriba vê um cartaz anunciando “ESGOTADO”, temeu-se o pior. Mas não, nada a ver. Estava bastante gente, certo, mas não se sentiu o ambiente infernal da noite dos Linda Martini. Respirava-se relativamente bem, via-se o concerto sem problemas de maior. Excelente.
Após o anúncio de casa cheia, outro problema: e agora, com a entrada da ZDB fechada, como entrar? Com o auxílio do senhor da livraria Ler Devagar lá se resolveu a questão. Obrigado!
Sexta-feira foi uma noite complicada, dá para perceber. Devido a outros compromissos (ver reportagem sobre um outro concerto na mesma noite no Coliseu dos Recreios), acabou por ser impossível chegar a tempo do concerto de Panda Bear, membro dos Animal Collective, e aqui introdução para os Black Dice.
Os Black Dice, os Black Dice. De antemão, e dito por pessoas que já haviam experienciado a coisa, esperava-se o melhor e o pior. Emoções fortes, intensíssimas, algo estratosférico ou, pelo contrário, um aborrecimento sem fim, uma seca descomunal, as previsões eram divergentes. No final, o mesmo – uns proclamaram um dos melhores concertos de sempre na ZDB, outros ainda lamentavam a suposta perda de tempo. No meio está a virtude, costuma dizer-se, e é mais ou menos isso aqui.
Black Dice são DFA em formato menos convencional, são divagações sónicas, são um noise que veio progressivamente a ajustar-se por outros caminhos, são um experimentalismo sempre no botão vermelho. Em disco já se sabia. Ao vivo são isso e ainda mais. Projecções interessantíssimas, uma sonoridade à qual é impossível ficar-se indiferente, ponto final. Goste-se ou não.
Por entre todo o aparato técnico (pedais, samplers, computadores, sequenciadores, guitarras), foram sobressaindo os temas (canções?) do grupo, imparáveis, pólvora disparada à tangente. Nem sempre se fica com a sensação de se estar a assistir a algo de relevância maior (alguns momentos são, de facto, menores), mas o saldo final encontra-se bem para além do simples positivo. Canções ou não, questionava-me atrás. Sim, por vezes os temas dos nova-iorquinos chegam mesmo a esse estado quase pop, quase dança, quase acessível. O que numa banda nestas ondas sonoras não é nada fácil parece, nos Black Dice, natural.
Esteve-se bem na ZDB, muito bem. Antes de mais um obrigado por não deixarem repetir a enchente de Linda Martini. Um obrigado apenas secundarizado pelo agradecimento à excelente música que se fez ouvir – uma vez mais, a ZDB em grande forma.
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